Após uma intensa maratona interna, marcada por lobbies e esforços acima da média, a Frelimo decidiu eleger Chakil Aboobacar para o cargo de secretário-geral, numa votação realizada na sessão extraordinária do Comité Central, na última sexta-feira, 14 de Fevereiro. Esta escolha é interpretada como um triunfo da chamada “ala juvenil rebelde”, que enfrenta desafios distintos dos seus antecessores, sobretudo tendo em conta a crise indisfarçável que o partido atravessa
Texto: Serôdio Touo
A eleição de Chakil Aboobacar é vista, dentro do partido, como o regresso de uma facção juvenil que, durante a liderança de Filipe Nyusi e Roque Silva, foi sistematicamente hostilizada e combatida. Contudo, essa ala nunca deixou de se mostrar desafiante e determinada a resistir às adversidades.
Recorde-se que figuras como Caifadine Manasse, Mety Gondola, Anchia Talapa e Licínio Mauie estiveram na linha da frente desta luta, desempenhando um papel crucial na queda de Roque Silva do cargo de secretário- -geral e no fracasso da sua ambição de se tornar candidato presidencial da Frelimo. Este grupo, que havia exercido um papel central na escolha de Daniel Chapo, voltou a trabalhar com toda astúcia e dotes políticos conseguiu conduzir Chakil Aboobacar ao cargo de secretário-geral.
Tácticas e truques usados
Com o apoio de vários quadros seniores e veteranos da Frelimo, este grupo recorreu a diversas manobras estratégicas para alcançar o seu objectivo. Uma delas foi a sugestão de Mety Gondola como potencial candidato ao cargo de secretário-geral, numa jogada que visava distrair a maioria enquanto se preparava a ascensão de Aboobacar, que até era visto como um nome pouco sonante.
Foi nesse contexto que ocorreu um encontro secreto entre Daniel Chapo, ainda secretário-geral na altura, e oito membros desta ala, que o persuadiram sobre a necessidade da eleição de Chakil Aboobacar.
O desafio de contrariar a ascensão de Venâncio Mondlane
Apesar da vitória expressiva da Frelimo nas eleições, há dentro do partido a percepção de que a camisola e bandeira vermelhas estão ofuscadas pelo impacto de Venâncio Mondlane, um político sem filiação partidária que conquistou significativa notoriedade.
Neste sentido, muitos camaradas – especialmente os mais jovens e da geração intermédia – depositam em Chakil Aboobacar a expectativa de revitalizar estruturas fundamentais do partido. Espera-se que a OJM recupere protagonismo sem arrogância, que a OMM reassuma o seu papel como “clube das mães moçambicanas” e que os combatentes da luta de libertação sirvam de referência para o patriotismo, em vez de serem vistos como oportunistas que se enriquecem à custa do povo.
Acredita-se que apenas através deste resgate da identidade partidária será possível reduzir a influência e o brilho que Venâncio Mondlane detém actualmente no cenário político moçambicano.
A missão de Chakil Aboobacar não se advinha fácil. Há uma forte exigência para que ele promova a unidade interna do partido, o que implica a necessidade de substituir a arrogância por uma postura mais empática e de aprimorar a comunicação institucional, tanto interna como externamente.
Para tal, é essencial nomear quadros proactivos, com elevada capacidade de diálogo e interligação, bem como uma forte identidade partidária.
Roque Silva: a memória de um período conturbado
Em declarações ao Dossiers & Factos, membros da Frelimo lamentaram o período em que o partido esteve sob a liderança de Roque Silva Samuel como secretário-geral. Segundo eles, esse período foi marcado pela criação de facções internas, desunião, distanciamento das bases e pela descaracterização do discurso tradicional da Frelimo, o que culminou numa profunda crise de credibilidade do partido.
É precisamente para inverter este cenário que Chakil Aboobacar terá de demonstrar dinamismo e capacidade de reestruturação, garantindo que a Frelimo recupere a sua força e coesão em todos os níveis.


