A família de Malangatana Valente Ngwenya está a preparar a abertura de um centro de interpretação digital em 2026, com o objectivo de imortalizar o nome e o legado daquele que foi um dos maiores protagonistas da história das artes plásticas em Moçambique. A inauguração do centro coincidirá com a celebração dos 90 anos que o artista completaria se fosse vivo.
Texto: Hélio de Carlos
O centro, que será instalado em Matalana, província de Maputo, vai disponibilizar obras, arquivos e outros materiais em formato electrónico, permitindo que um vasto público tenha acesso ao contributo artístico de Malangatana, com ênfase na sua pintura e escultura. A iniciativa foi recentemente partilhada por Mutxhini Ngwenya, filho do artista, que revelou que já se iniciou a recolha do material para compor o acervo histórico e bibliográfico do icónico mestre moçambicano. “O centro de documentação estará acessível a cidadãos de qualquer parte do mundo que queiram conhecer os feitos de Malangatana”, afirmou Mutxhini, que também apelou ao apoio de entidades singulares e institucionais para a concretização do projecto.
A iniciativa pretende destacar a versatilidade do artista, que se notabilizou não apenas na pintura e escultura, mas também em outras formas de expressão artística, como desenho, aquarela, tapeçaria, cerâmica, gravura e escultura monumental em ferro e cimento. O centro também abordaria a sua contribuição para a poesia, a música, o teatro e a dança, reafirmando a sua influência na cultura moçambicana e africana.
Exposição “Recordando o Mestre Malangatana” homenageia o pintor
Enquanto a preparação do centro decorre, Maputo acolheu recentemente uma exposição dedicada à memória do pintor. Intitulada “Recordando o Mestre Malangatana”, a mostra foi inaugurada no Auditório do BCI e reuniu uma selecção de obras que reflectem a profundidade e a inovação do seu percurso artístico. O evento visou celebrar o seu legado artístico e cultural, destacando o seu papel na representação da identidade e história moçambicana através da arte.
O percurso de Malangatana: uma lenda das artes plásticas
Malangatana Valente Ngwenya (1936-2011) foi um dos mais importantes artistas moçambicanos e uma figura de referência na arte africana contemporânea. Multifacetado, dedicou-se à pintura, escultura, poesia e música, sendo amplamente reconhecido pelo seu contributo para a cultura moçambicana. Expôs as suas obras em diversas partes do mundo, incluindo Alemanha, Áustria, Bulgária, Chile, Brasil, Angola, Cuba, Estados Unidos e Índia. Deixou a sua marca em murais espalhados por Moçambique, África do Sul, Eswatini, Suécia e Colômbia.
Para além da sua trajectória artística, Malangatana teve um papel activo na política, estando ligado à FRELIMO e defendendo causas sociais e culturais. Foi nomeado “Artista pela Paz” pela UNESCO em 1997 e distinguido com vários prémios e honrarias, como a Medalha Nachingwea e o título de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, em Portugal. Faleceu a 5 de Janeiro de 2011, em Matosinhos, Portugal, deixando um legado inestimável para as artes e a cultura moçambicanas.