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CAIFADINE MANASSE: É considerado “ministro bomba”

O novo ministro da Juventude e Desportos, Caifadine Manasse, surpreendeu a muitos ao decidir assumir a gestão directa do Fundo de Promoção Desportiva (FPD), entidade cuja popularidade está pelas ruas da amargura, sobretudo devido ao estado em que se encontra o Estádio Nacional do Zimpeto (ENZ). A nível deste ministério, a avaliação é dividida, havendo duas percepções. Uma é a de que Manasse pode “expor ” os problemas internos, assim como restaurar a credibilidade da casa, mas, do outro lado, receia-se também que possa, em caso de fracasso, explodir-se a si próprio. É por estes argumentos que é considerado “ministro bomba”.

Texto: Dossiers & Factos

A nomeação de Caifadine Manasse para o cargo de ministro da Juventude e Desportos caiu para muitos como surpresa. Mantendo a toada, Manasse também está a surpreender nestas primeiras semanas de trabalho como ministro, com as suas aparições públicas, assim como com a difícil decisão de chamar para si a gestão directa do FPD, organismo que, ao que se diz, precisa da maior das atenções.

O FPD é uma instituição pública de âmbito nacional, dotada de personalidade jurídica, autonomia administrativa, financeira e patrimonial. Tem como atribuições, de acordo com o número 3 do Decreto n.º 78/2020 de 2 de Setembro: (1) fomentar e apoiar projectos e programas de desenvolvimento do desporto e estimular outras iniciativas que com ele se relacionem ou concorram para a sua valorização; (2) gerir de forma eficiente e financeiramente viável os programas de investimento no âmbito do desenvolvimento do desporto; e (3) gerir de forma adequada os bens operacionais e de exploração que lhe forem confiados.

É dentro deste quadro que o FPD gere, por exemplo, o ENZ, a maior infra-estrutura desportiva erguida em Moçambique após a independência nacional. No entanto, a gestão parece estar longe de ser brilhante, dada a evidente má conservação da infra-estrutura, que levou a que, mais uma vez, fosse reprovada pela equipa de inspecção da Confederação Africana de Futebol (CAF), obrigando os Mambas a realizarem jogos em que são anfitriões fora de casa.

Caifadine divide opiniões assumindo o barulho  

O titular da pasta da Juventude e Desportos não gostou do que viu no FPD, e decidiu, para a surpresa da maioria, assumir o barulho. Sabese que o FPD é gerido por um director-geral, que por sua vez é nomeado e empossado pelo primeiro-ministro, não sendo deste modo, da competência do ministro a exoneração do director do FPD. Sem tais poderes, Caifadine Manasse pode ter recorrido à Lei 7/2012, Lei de Base da Organização e Funcionamento da Administração Pública, que, no número 6 do artigo 91, prevê o exercício da “tutela substitutiva”, que consiste no poder do órgão de tutela de, em casos excepcionais, substituir-se ao órgão tutelado para a prática de actos por este omitidos.

Na caixa das surpresas, Manasse decidiu colocar de lado Amélia Cabral, mesmo sem efeitos administrativos, desafiando-a a trabalhar ainda, de forma natural, dentro do FPD, para o sucesso dos Mambas nos seus próximos compromissos. Esta medida é vista por fontes internas do FDP como um acto de extrema coragem e risco, dada a situação em que a casa se encontra, havendo desta forma o potencial para trazer ganhos políticos a Manasse, em caso de sucesso, mas também é arriscado e pode afundá-lo, caso fracasse, lembrando que, tal como outros membros do Governo, este ministro tem pela frente, fora do FPD, grandes desafios, como, por exemplo, o do subsector da juventude, que tem sido a cara das maiores crises que o País atravessa, como é o caso do desemprego, da delinquência juvenil e, porque não, das revoltas populares que tem como rosto os jovens a vários níveis.

As cascas de banana deixadas por Mendes

Fontes do Dossiers & Factos chamam ainda atenção que esta área da Juventude e Desportos é uma das mais complicadas de gerir, havendo, desta forma, suspeitas de que alguns ministros que por lá passaram acabaram por ter “cama feita” a meio entre sorrisos e abraços. Aliás, ao sair do cargo de Secretário de Estado da Juventude e Desportos, Gilberto Mendes deixou claro, no seu encontro com o novo gestor da pasta, que ali há muitas “cascas de banana”.

Suportam as fontes que de longe esta pode parecer pasta sem muito interesse, mas, segundo o que se explica, é lá onde muitos lutam desalmadamente para desaguar ou ter um lugar ao sol, o que facilita o surgimento “espontâneo” de rivais. Fala-se, por exemplo, de “eternos ministeriáveis”, em referência aos diversos directores nacionais do sector que, supostamente, sempre almejaram a cadeira mais alta (de ministro), o que é sistematicamente contrariado pelos diferentes Presidentes, que invariavelmente colocam como ministro alguém vindo de fora.

Na mesma senda, as fontes apontam para a existência de grupos ligados ao partido no poder (Frelimo), que, depois de passar pela Organização da Juventude Moçambicana (OJM), alimentam o sonho de comandar a pasta em referência, o que torna a fila ainda maior. Não menos importante, existem do outro lado os considerados “donos do desporto”, que consecutivamente ganham concursos públicos, manietam a máquina e se impõem aos dirigentes, não se importando de tirar o tapete a quem não lhes agrade.

Da discoteca escondida às casas de banho = cascas de banana

A grande “casca de banana” dos últimos anos tem sido ENZ, sendo exemplo disso o antigo ministro Alberto Nkutumula, que foi surpreendido aquando de uma visita presidencial  em que o chefe do Estado na altura leva consigo perguntas aparentemente preparadas e previamente estudadas. Na ocasião, o ex-ministro “caiu de costas”, e a situação piorou instantes depois, já do lado da piscina, quando o Presidente mandou abrir uma das portas que dava acesso a um compartimento onde funcionava uma discoteca “escondida”, tendo os subordinados feito saber que tal porta não era aberta há mais de um ano, depois de, alegadamente, o proprietário da discoteca desaparecer com as chaves, o que não constituía a verdade.

Outro mal seguiu-se já do lado das casas de banho, onde alguns dormitórios estavam interditos e bem amarrados com papel escrito “avariado”, e as luzes não acendiam. Foi assim que o ministro, para a felicidade dos seus “amigos”, acabou substituído, e os gestores, como sempre, continuaram.  Gilberto Mendes foi um dos poucos que conseguiu aguentar-se até ao fim, apesar das recorrentes interdições do ENZ pela CAF, por conta do estado da relva e de compartimentos como as casas de banho, bem como a imundície ao redor do estádio.

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