– Nossa província tem condições para produzir muito mais do que está a produzir neste momento
A província de Maputo apresenta inúmeras potencialidades para o desenvolvimento de diversas actividades económicas, desde a agricultura e pecuária até à piscicultura. No entanto, o governador da província, Manuel Tule, manifesta preocupação pelo facto de essas potencialidades não estarem a ser plenamente exploradas. Em entrevista exclusiva ao Dossier Económico, Tule reconheceu as dificuldades enfrentadas pelos produtores no processo de produção e comercialização dos seus produtos agrícolas e deixou a promessa de um mercado abastecedor em Moamba, a ser concretizado ao longo do presente quinquénio.
Texto: Milton Zunguze
No seu segundo ano como governador da província de Maputo, Manuel Tule tem procurado desempenhar um papel-chave no desenvolvimento desta região do País. Depois de suceder Júlio Parruque, que em 2023 renunciou para concorrer à presidência do Município da Matola, Tule enfrentou as eleições de Outubro de 2024 com a responsabilidade de manter e adaptar as estratégias de desenvolvimento da província às novas exigências e desafios.
Durante a entrevista, reconheceu o elevado potencial da província na produção agrícola. No entanto, apontou como uma das principais dificuldades a falta de infra-estruturas viárias adequadas e um sistema eficiente de escoamento dos produtos agrícolas, o que frequentemente resulta em desperdícios devido à ausência de mercados apropriados e de uma estrutura logística eficaz.
Para o governador, o grande objectivo deste quinquénio é a criação de um “mercado abastecedor” na região de Moamba, que funcionará como um centro de distribuição e comercialização de produtos agrícolas, pecuários e pesqueiros da província.
Tule quer produtor a “produzir” e não a “comercializar”
De acordo com Tule, o projecto visa separar a produção da comercialização, num cenário em que muitos produtores têm de transportar os seus produtos até aos mercados, onde permanecem por horas, e, por vezes, dias, à espera de vender as suas mercadorias. “Depois de vender, voltar ao campo para produzir novamente — noutras realidades já não funciona assim”, reiterou.
“Assim, o produtor dedica-se exclusivamente à produção, enquanto há alguém que se ocupa da comercialização, evitando que os produtos se deteriorem nas machambas, pois teremos um sistema de frio para a sua conservação”, explicou.
A proposta de Tule é criar um mercado grossista de grande escala, semelhante ao Mercado Grossista do Zimpeto, mas com uma estrutura moderna, incluindo armazéns frigoríficos para garantir a preservação dos produtos por mais tempo e evitar prejuízos para produtores e comerciantes. O objectivo é que os agricultores possam simplesmente entregar as suas mercadorias ao mercado, estabelecendo os preços e os prazos de pagamento, permitindo-lhes focar-se na produção.
“Estamos a pensar num mercado grossista semelhante ao do Zimpeto, mas também num mercado abastecedor que tenha armazéns. Os produtores entregam ali a sua produção, combinam o valor e o prazo de pagamento, sabendo quando podem ir buscar o seu dinheiro”, afirmou Tule.
Distrito de Moamba vai acolher o projecto
Actualmente, o projecto está em fase de concessão do projecto executivo, dispondo de um terreno de 50 hectares no distrito de Moamba, ao longo da N4. A iniciativa está a ser articulada com a vizinha África do Sul, que possui mercados abastecedores desenvolvidos, para se aprender com as suas experiências e modelos, nomeadamente os de Joanesburgo e Durban. “Estamos a estudar os modelos a adoptar e a identificar o que podemos adaptar desses dois mercados para o nosso mercado abastecedor na província de Maputo.”
“Tendo em conta o desenrolar dos processos, acreditamos que teremos um mercado abastecedor até ao fim do quinquénio”, garantiu. “Província não está a ser explorada no seu máximo potencial”
Quando avalia os actuais níveis de produção e a capacidade da província, Tule considera que “a província de Maputo tem condições para produzir muito mais do que está a produzir neste momento”. Por isso, destaca a necessidade de investir na disponibilização de sementes melhoradas para garantir que os agricultores possam produzir alimentos em maior quantidade e de melhor qualidade.
“Há factores a considerar para que a produção e a produtividade aumentem, como a disponibilização de sementes melhoradas. Precisamos de sementes que garantam produção em quantidade e qualidade para satisfazer as necessidades da população.”
Necessidade de mudança no conceito de criação de gado
Além disso, Tule destacou a necessidade de modernizar a criação de gado, através da introdução de raças geneticamente melhoradas, capazes de fornecer carne de melhor qualidade e em maiores quantidades. Segundo o governador, a carne produzida localmente ainda é muitas vezes considerada de baixa qualidade, o que leva os consumidores a procurar carne importada dos países vizinhos.
“Há pessoas que não compram a nossa carne porque a consideram muito rija, e acabam por procurar carne nos países vizinhos. Podemos produzir carne de qualidade aqui, basta introduzirmos espécies geneticamente melhoradas.”
Uma das iniciativas já em curso no sector pecuário é a aquisição de 20 reprodutores de raças melhoradas, que serão distribuídos às comunidades com o objectivo de melhorar gradualmente a qualidade do rebanho local. “…Com o tempo, poderemos ter animais de melhor qualidade para abastecer a população.”
Piscicultura: falta de alvinos e ração para peixes é um problema
Outro sector com grande potencial na província de Maputo é a piscicultura. Contudo, apesar dos avanços registados, persistem desafios como a dependência de alvinos (peixes jovens) provenientes de outras regiões e a ausência de fábricas locais de ração para peixe. Tule destacou que a criação de fábricas de ração e a produção local de alvinos são fundamentais para a expansão sustentável do sector.
“Não estamos ainda a produzir ração para peixe na província. Precisamos de investidores que estabeleçam aqui fábricas de ração e produtores locais de alvinos para abastecer os nossos criadores.”
“Ainda exploramos muito pouco o turismo”
Apesar da riqueza natural da província de Maputo, com belas praias, áreas de conservação e parques naturais, Tule reconhece que o turismo continua subaproveitado. “Estamos ainda a explorar muito pouco o turismo”, afirmou, acrescentando que este sector poderia gerar rendimentos significativos, aumentando as receitas da província.
Manuel Tule enfatizou que a província possui condições para se tornar um destino turístico de eleição. Uma estratégia de marketing está em curso para promover a província, incluindo parcerias com a África do Sul para atrair turistas que visitam o Kruger Park e incentivá-los a explorar Maputo.
Manifestações deixaram 3 mil pessoas no desemprego
As manifestações que decorreram entre Outubro de 2024 e Janeiro de 2025 tiveram impactos negativos na economia da província, resultando na destruição de cerca de 40 empresas e deixando mais de 3 mil pessoas desempregadas. Tule destacou os esforços do governo para apoiar as empresas afectadas e criar um fundo de desenvolvimento local para ajudar as famílias a reerguerem-se, permitindo-lhes aceder a financiamento para pequenos negócios.