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Greve da APSUSM: Ministro da Saúde diz que pessoas de coração mau não podem pertencer ao sector

Não há, para já, qualquer sinal de discurso reconciliador na área da saúde. De um lado, a Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM) ameaça endurecer a greve retomada no passado dia 17, caso as suas preocupações não sejam atendidas; do outro, o Governo, através do ministro da Saúde, desvaloriza a narrativa segundo a qual os profissionais do sector estão a ser tratados como “escravos”

Texto: Maidone Capamba, em Gaza

Ussene Isse, que falava esta sexta-feira na cidade de Xai-Xai, dirigiu uma lição de moral àqueles que considera seus colegas: “Não é permissível que alguém tenha um coração tão mau, tão mau, e esteja na saúde.” As declarações do governante acendem o debate sobre o rumo que as negociações estão a tomar.

“Quero aproveitar esta oportunidade para saudar e agradecer a todos os meus colegas, do Rovuma ao Maputo, que até hoje continuam a trabalhar em todos os hospitais, sem qualquer problema”, começou por dizer o ministro da Saúde, em resposta à pergunta de um jornalista sobre a retoma da greve da APSUSM.

E prosseguiu: “Agora, o que havemos nós de fazer, como Ministério?”

Ussene Isse afirmou que a instituição que dirige não fechará as portas à negociação com os grevistas: “Porque há assuntos que nos dividem, é óbvio… Mas a minha recomendação — ou pedido — aos meus colegas é: vamos discutir o assunto, sim, mas não deixemos de atender os nossos pacientes.”

Segundo explicou o ministro, uma greve no sector da saúde é um desastre. “Não se pode fazer greve para que morram pessoas. Isso é inconcebível. Não é admissível que alguém tenha um coração tão mau, tão mau, e esteja na saúde. Não pode alguém ter um coração e não querer cuidar do outro”, reiterou.

Ussene Isse acrescentou que, infelizmente, esta é uma profissão na qual a greve não é admissível.

Porquê?

“Porque lidamos com uma das maiores dádivas de Deus ao ser humano: a vida. Se não formos trabalhar, o que vai acontecer? Imaginem!”, lançou a pergunta.

Deu o exemplo do profissional que não se apresenta ao trabalho numa maternidade: “E se chega uma paciente em trabalho de parto ou com alguma complicação de saúde — podendo até ser a mulher do próprio grevista — essa paciente pode não resistir, por não haver quem a atenda.”

“Qual é o resultado final? Vai sobreviver? Perde-se a mulher, perde-se a criança”, afirmou.

Insistiu que o Governo está aberto a um diálogo construtivo “com todos aqueles que têm problemas”. E apelou: “Portanto, o nosso apelo aos colegas é que continuemos a desencadear este processo de luta pelos direitos que nos assistem, mas de forma organizada, de forma estruturada, como sector. Não nos esqueçamos, porém, de que temos um compromisso com o povo. Fizemos um juramento: o compromisso é garantir a saúde.”

O ministro sublinhou ainda que, juntos, continuarão a trabalhar para resolver o que os divide, “porque só assim estaremos em paz”.

Ussene Isse falava na cidade de Xai-Xai, à margem das celebrações do Dia Internacional da Malária. O país diagnosticou cerca de 11,6 milhões de casos da doença no ano passado, sendo que a província de Gaza registou uma redução, graças às acções de educação, informação e comunicação para a prevenção, vacinação de crianças, distribuição de redes mosquiteiras, pulverização intra-domiciliária, entre outras intervenções.

Não menos importante, o ministro inaugurou um laboratório de saúde pública na cidade de Xai-Xai, completando assim a cobertura nacional deste tipo de infra-estrutura hospitalar.

“Trata-se de um fruto do grande engajamento do Ministério da Saúde, através do Instituto Nacional de Saúde, e do Governo de Moçambique”, sublinhou Ussene Isse.

Segundo explicou, a província de Gaza ganha, com isso, maior autonomia. “Antes da existência deste laboratório, as amostras eram colectadas e enviadas para Maputo. Imaginem o tempo de resposta para algumas situações de urgência!”

Com a nova infra-estrutura, a província passa a estar dotada de capacidade para diagnosticar rapidamente doenças como cólera, sarampo, infecções respiratórias, entre outras. “E, porventura, se a COVID voltar — esperemos que não —, também estaremos preparados para o diagnóstico”, garantiu.

Trata-se de um investimento tecnológico de ponta, mas, acima de tudo, com um elemento crucial: os recursos humanos formados localmente, moçambicanos com capacidade para competir a nível internacional. Foram investidos 500 mil dólares americanos em infra-estrutura e equipamentos, com uma durabilidade estimada em 25 anos. Espera-se, ainda, que o laboratório contribua para o avanço da investigação científica no país.

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