Com o sepultamento do Papa Francisco, no último sábado (26/04), o conclave é uma realidade cada vez mais próxima, e a Igreja Católica já iniciou os preparativos para eleger o novo “herdeiro do trono de São Pedro”. Tradicionalmente, o conclave começa entre 15 e 20 dias após o falecimento do Pontífice, período destinado tanto ao luto como à organização do processo eleitoral. Contudo, desde Fevereiro de 2013, uma regra criada por Bento XVI permite antecipar a votação, caso todos os cardeais eleitores estejam reunidos antes do prazo inicialmente previsto.
Actualmente, o Colégio de Cardeais é composto por 256 membros provenientes de várias partes do mundo; porém, apenas 135 deles têm menos de 80 anos, condição necessária para participarem na eleição do novo Papa, conforme estipula a Constituição Apostólica. Para este conclave, apenas 133 cardeais estarão presentes, uma vez que dois membros do Colégio Cardinalício — um de Espanha e outro da Bósnia — não poderão comparecer por motivos de saúde devidamente comunicados à Santa Sé.
Como ocorre o processo de votação?
O conclave realiza-se na Capela Sistina, dentro do Palácio Apostólico, no Vaticano, e é conduzido sob rigorosas medidas de segurança e absoluto sigilo. No primeiro dia, após a celebração da Missa Pro Eligendo Papa, dedicada à oração e à reflexão dos cardeais sobre a escolha que devem fazer, os participantes entram em clausura, ficando completamente isolados do mundo exterior. Nenhum contacto com o exterior é permitido: dispositivos electrónicos são proibidos e o acesso aos meios de comunicação é cortado para garantir a liberdade e serenidade da escolha. É um evento que faz completo jus ao nome latino “cum clavis”, que pode ser traduzido literalmente por “fechado à chave”.
Caberá ao cardeal camerlengo, D. Joseph Farrel, fechar as portas por dentro, enquanto o arcebispo Edgar Peña Parra, substituto da Secretaria de Estado, trancará as portas por fora.
As votações realizam-se em escrutínio secreto. Cada cardeal escreve o nome do seu escolhido numa cédula, dobrando-a antes de a depositar numa urna específica. Em cada dia, podem realizar-se até quatro votações — duas de manhã e duas à tarde. Para ser eleito, o candidato deve obter uma maioria qualificada de dois terços dos votos, o que, no presente caso, significa 88 votos.
Após cada votação, as cédulas são queimadas num forno especial instalado na Capela Sistina, gerando uma fumaça cuja cor transmite uma mensagem específica aos fiéis: a negra indica que ainda não houve desfecho, enquanto a branca anuncia que há um novo Papa — anúncio que é formalizado instantes depois pelo Cardeal Protodiácono, a partir da varanda central da Basílica de São Pedro.
Segundo informações oficiais da Igreja, todos os cardeais aptos já foram formalmente convocados para participar no conclave. O início do conclave está marcado para 7 de Maio, dois dias depois de cumpridos os nove dias de luto oficial, conhecidos como novemdiales.
Quanto tempo pode durar?
Nos últimos cem anos, os conclaves que elegeram novos Papas resolveram-se de forma relativamente rápida. Exemplos recentes são a eleição de Bento XVI, em 2005, e a de Francisco, em 2013, ambas concluídas em apenas dois dias.
No entanto, nem sempre foi assim. Em períodos anteriores da história da Igreja, o processo poderia prolongar-se por semanas ou até anos. Um caso extremo ocorreu no século XIII, quando um conclave se estendeu por mais de dois anos até à escolha de Gregório X.
Entre as linhas de debate mais acesas para a determinação de um novo líder católico, encontram-se, de um lado, a grande demanda dos sectores conservadores e, de outro, a necessidade de uma Igreja mais acolhedora e inclusiva para diversas camadas sociais. Sem nada ainda muito definido, o que se sabe é que a decisão que sair da Capela Sistina no final do conclave ditará o rumo que a Igreja Católica seguirá nos próximos anos.