O Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu em baixa as suas previsões de crescimento económico global para 2025, apontando para uma expansão de apenas 2,8%, face aos 3,3% projectados em Janeiro. A desaceleração, a mais significativa desde a crise pandémica, é atribuída às recentes medidas proteccionistas dos Estados Unidos e às tensões comerciais que se intensificaram no primeiro trimestre do ano.
Texto: Amad Canda
O relatório do World Economic Outlook (WEO) divulgado esta semana indica que as economias avançadas crescerão apenas 1,4% em 2025, com os Estados Unidos a registarem uma desaceleração para 1,8% — uma redução de 0,9 pontos percentuais face às previsões anteriores. A Zona Euro deverá crescer apenas 0,8%, enquanto as economias emergentes, lideradas pela China, verão o seu ritmo de expansão abrandar para 3,7%.
O documento destaca que as tarifas impostas pelos EUA a 2 de Abril, que atingem níveis históricos comparáveis aos da Tarifa das Abominações (1828) e da Lei Smoot-Hawley (1930), estão a provocar retaliações generalizadas, aumentando a incerteza e prejudicando o comércio internacional. A China, principal alvo das medidas norteamericanas, deverá sofrer um impacto particularmente severo, com implicações para as cadeias de abastecimento globais.
Apesar de uma ligeira descida da inflação global para 4,3% em 2025 (face a 5,1% em 2024), o FMI alerta para pressões persistentes nas economias avançadas, onde os preços sobem mais do que o esperado. O relatório enumera ainda vários riscos que poderiam agravar a situação, nomeadamente uma possível escalada proteccionista com novas barreiras comerciais que podem reduzir ainda mais o crescimento a médio prazo, instabilidade financeira com ajustes bruscos nas taxas de câmbio e fugas de capitais que ameaçam economias endividadas, e a fragilidade fiscal de muitos países, sobretudo em desenvolvimento, que têm margem limitada para responder a novos choques.
Perante este cenário, o FMI apela a uma resposta coordenada, recomendando que se evitem medidas unilaterais e se retome o diálogo para travar a escalada tarifária. A instituição sugere ainda que se reforcem os buffers orçamentais, com planos credíveis de consolidação fiscal, e que se acelerem reformas estruturais nos mercados laborais e de capitais para aumentar a produtividade. Outra prioridade destacada é a necessidade de proteger economias vulneráveis, através de mecanismos de alívio da dívida e apoio financeiro direccionado.
“A política monetária deve manter-se vigilante, mas é crucial evitar medidas que exacerbem a fragmentação global”, sublinha o relatório, citando os recentes episódios de volatilidade cambial. Embora o cenário base do FMI seja pessimista, a instituição admite que uma desescalada negociada — ou acordos comerciais mais estáveis — poderiam reverter parte dos danos. No entanto, com as tensões geopolíticas ainda no centro das preocupações, a prioridade imediata é travar a erosão da confiança nos mercados.
Cenário assustador em Moçambique
Relativamente à Moçambique, o cenário que se desenha é assustador. O FMI projecta que a dívida pública moçambicana ultrapassará novamente os 100% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025, atingindo 101,1%. Esta subida marca uma inversão após dois anos com o indicador abaixo do valor da riqueza nacional, com perspectivas de agravamento para 104,2% em 2026 e 104,7% em 2027, sendo que a redução para patamares mais sustentáveis (95,6% do PIB) só é esperada em 2029.
Enquanto Moçambique enfrenta estas pressões da dívida, outros países africanos de língua portuguesa registam perspectivas económicas heterogéneas, com Angola a dever crescer apenas 2,4% em 2025 (contra 4,5% em 2024) e uma ligeira desaceleração para 2,1% em 2026, enquanto a Guiné Equatorial enfrenta uma recessão de 4,2% este ano, após um crescimento de 1,9% em 2024, com estagnação prevista para 2026.
Apesar destes desafios, a dívida pública média da África Subsaariana (55,4% em 2025) mantém-se abaixo dos níveis moçambicanos, reflectindo vulnerabilidades específicas da economia do País, fortemente dependente do sector extractivo e da “ajuda” externa.
No WEO de Abril, o FMI reviu ainda em baixa o crescimento esperado para toda África (de 4,2% para 3,9% em 2025), atribuindo a desaceleração às “alterações repentinas nas perspectivas mundiais”.
Durante a conferência de imprensa que marcou o lançamento do documento, o director de Assuntos Fiscais do FMI, o português Vítor Gaspar, adiou para esta sexta-feira, 25 de Abril, as análises detalhadas sobre o continente, mas os dados preliminares sugerem pressões sobre as economias dependentes de commodities, a necessidade de consolidação fiscal face ao endividamento crescente e riscos acrescidos de volatilidade financeira global.