Há cerca de dez anos que os residentes do quarteirão 3A do bairro Patrice Lumumba, na cidade de Xai-Xai, província de Gaza, deploram a qualidade da energia fornecida pela Electricidade de Moçambique (EDM). Cansados da situação, dezenas de clientes amotinaram-se nas instalações daquela empresa, na manhã da última terça-feira, 6 de Maio.
Texto: Maidone Capamba
“Director, afinal onde está? Saia, queremos ver-lhe! Afinal, quem vai trabalhar para o povo?” — gritavam os manifestantes, entre cânticos, danças e apitos. À primeira vista, parecia uma celebração, mas não era. Tratava-se do esgotar da paciência, e, como forma de pressão, decidiram exteriorizar o seu estado de espírito.
“Temos anos e anos a visitar esta casa para pedir energia. Até os que construíram há pouco tempo já têm corrente eléctrica”, desabafa Olga Lucília, moradora do quarteirão 3A.
Olga refere-se, na verdade, à má qualidade da energia fornecida, que, segundo ela, tem causado a avaria de vários electrodomésticos — congeladores, geleiras, televisores, entre outros.
“Onde é que vamos arranjar dinheiro para comprar novos aparelhos? Nós somos biscateiros e precisaríamos de dez anos para comprar, por exemplo, um congelador.”
“Então, nós somos de onde? Pertencemos a este país? Faz sentido dizer que Cahora Bassa é nossa? Pedimos socorro, senhor director Lampião! Responda-nos, estamos cansados.”
O bairro Patrice Lumumba tem uma rede eléctrica antiga e obsoleta, actualmente em processo de requalificação, numa extensão de 25 quilómetros. Contudo, o que mais revolta os residentes é o facto de, há uma década, viverem com o mesmo problema sem soluções concretas.
A EDM está ciente da situação. A empresa terá prometido responder às exigências dos moradores, mas, segundo os residentes, tais promessas não passam de palavras ocas. “Na semana passada, viemos cá, falámos com o director. Ele prometeu ligar a energia. Nada aconteceu”, relata Amarildo.
A justificação mais recente dada pelo director da EDM em Gaza, Américo Lampião, foi a falta de materiais eléctricos para a continuação das obras. “O material chegou”, disse.
“Ele deu-nos o número dele para ligarmos directamente ou para nos aproximarmos. Aproximámo-nos, mas dizem que o director não está. No entanto, o carro dele está aqui fora”, observaram, em coro.
Acácio, visivelmente desconfiado, afirmou: “As pessoas aqui da EDM estão a esconder o director. Estamos apenas a pedir uma palavra dele.”
Marta Bambo, também moradora do quarteirão 3A, queixou-se igualmente dos prejuízos: “Os congeladores, os ferros, os televisores e outros aparelhos estão a avariar.” Acusa ainda os engenheiros da EDM de passarem o tempo a “mentir ao povo”.
Já Arone Matavel exigiu mais seriedade por parte da EDM. “Está a decorrer um serviço de mapeamento das zonas sem corrente eléctrica, mas não somos abrangidos. Por isso estamos aqui, para exortar a EDM a dar continuidade aos trabalhos.”
Contactado telefonicamente, o director provincial da EDM em Gaza, Américo Lampião, garantiu que não há fuga às responsabilidades. “É a segunda vez que a população se manifesta. Eles reclamam melhorias na qualidade da energia”, reconheceu.
“Vieram da primeira vez, falei com eles pessoalmente, e tranquilizei-os: há um projecto em curso na zona do Patrice Lumumba.”
Segundo explicou, o projecto está a ser executado por uma empresa privada, a Electrotec. As obras arrancaram em Setembro de 2024, antes das eleições conflituosas de 9 de Outubro, e deveriam ter sido concluídas em Dezembro. Contudo, as manifestações violentas pós-eleitorais forçaram a interrupção dos trabalhos.
“Houve até dificuldades no transporte do material eléctrico de Maputo para Xai-Xai”, explicou o director, acrescentando que há grande dependência na aquisição de equipamentos, não só de Maputo, mas também da vizinha África do Sul e outros países.
“Agora, com esta acalmia, a situação está a normalizar-se. Se forem verificar, nessa zona estão a ser instalados novos postos de transformação e postes.”
Lampião referiu ainda que outro factor que contribuiu para o atraso foi a escassez de dólares no mercado nacional, necessária para importações. “Mas são questões que já estão ultrapassadas. O projecto está a avançar, ainda não chegou ao quarteirão 3A, mas o empreiteiro ainda não terminou.”
Estão a ser instalados 25 quilómetros de rede de baixa tensão e oito de média tensão no bairro Patrice Lumumba. “É uma extensão considerável e estamos empenhados em concluir os trabalhos, para evitar que as avarias no bairro se tornem recorrentes”, concluiu.