Dezenas de vendedores informais amotinaram-se na última semana em frente ao Conselho Municipal da Cidade de Xai-Xai, na província de Gaza, protestando contra a ordem “irreversível” para abandonarem as vias públicas. A medida, que visa transferir o comércio para o mercado grossista, tem sido rejeitada pelos ambulantes, que alegam más condições no local designado.
Texto: Maidone Capamba
Valente, um dos afectados, relatou que, na segunda-feira, a Polícia Municipal e a Polícia da República de Moçambique (PRM) impediram o comércio nas ruas. “Quando chegámos, disseram-nos que não podíamos continuar nos passeios porque já organizaram o mercado grossista”, explicou. No entanto, os vendedores afirmam que o local não oferece infra-estruturas básicas.
“Para termos uma banca, temos de levar enxada, pá e ancinho para preparar o terreno. Se ficarmos dois ou três dias sem ocupar o espaço, dão-no a outra pessoa”, queixou-se Valente. Os ambulantes exigem bancas fixas, água e sanitários, condições que consideram mínimas para o exercício da sua actividade.
Taxas e desconfiança nas autoridades Mensalmente, os vendedores pagavam 600 meticais para trabalhar nas ruas, valor que reduzia caso fossem ambulantes. Agora, resistem à mudança, argumentando que as ruas oferecem melhores condições. “Aqui temos sombra quando há sol ou chuva. Lá, sem condições, como faremos?”, questionou um vendedor.
Outros criticam a postura do município, acusando as autoridades de só os procurar em épocas eleitorais. “Quando o edil queria votos, chamou-nos, disse que éramos pobres. Depois de eleito, nem nos agradeceu”, desabafou um comerciante.
Alguns vendedores afirmam que nem a fiscalização os deterá. “A polícia também quer dinheiro. Chegam, pedem 10 ou 20 meticais, pagamos e pronto”, disse uma vendedora anónima. Para ela, a solução seria regularizar a situação, permitindo o trabalho nas ruas com pagamento de taxas.
Município diz que decisão é irreversível
O porta-voz do município garantiu que a transferência para o mercado grossista é definitiva. “É um espaço provisório. Quando o novo mercado estiver concluído, terá condições adequadas”, afirmou.
O governo local insiste que a medida visa ordenar o comércio e melhorar a circulação na cidade. Enquanto isso, o impasse continua, reflectindo um conflito comum em várias cidades moçambicanas: a tensão entre o comércio informal e as políticas de ordenamento urbano.