Vivemos tempos em que a fé e a esperança se tornaram moeda de troca para charlatães que, munidos de discursos vazios e promessas impossíveis, exploram a angústia dos mais vulneráveis. A proliferação dos chamados falsos profetas, que proliferam em diversos meios, constitui uma chaga social que não pode ser ignorada.
Estes indivíduos, sob o manto de líderes espirituais, vendem ilusões de prosperidade momentânea, prometendo riquezas rápidas, curas milagrosas e vidas transformadas, quando, na realidade, o que verdadeiramente almejam é o enriquecimento às custas do sofrimento alheio. A sua ganância é alimentada pelo dízimo e pelas ofertas de pessoas aflitas, que entregam os seus poucos recursos na esperança de um milagre que nunca chega.
O fenómeno não é recente, mas a sua extensão e impacto crescem de forma preocupante. As redes sociais e os meios de comunicação facilitam a disseminação destes falsos ensinamentos, amplificando a sua voz e alargando o círculo de vítimas. Muitos dos que caem nesta armadilha são pessoas humildes, carentes de orientação e muitas vezes com pouca escolaridade, o que os torna particularmente vulneráveis.
É revoltante constatar que estes falsos profetas se aproveitam das carências espirituais e económicas para manter o seu estilo de vida luxuoso, construído sobre a exploração sistemática de quem procura neles uma resposta para as suas dificuldades. Os seus templos transformam-se em verdadeiros negócios, onde a fé é convertida em lucro, e a palavra sagrada em instrumento de manipulação.
Enquanto isto ocorre, a sociedade assiste em silêncio, muitas vezes por falta de mecanismos eficazes de controlo e fiscalização. As instituições responsáveis parecem impotentes ou relutantes em agir contra este abuso descarado. A impunidade destes charlatães perpetua o ciclo de exploração e sofrimento.
É imprescindível que o Estado tome uma posição firme e decidida contra esta realidade que corrói os valores éticos e morais da nossa sociedade. Tal como recentemente o fez ao proibir espectáculos para crianças com conteúdos inadequados, demonstrando preocupação legítima com a protecção dos mais vulneráveis, deve agora estender essa mesma determinação para o combate aos falsos profetas.
A regulação e fiscalização das actividades religiosas, sobretudo daquelas que se configuram como verdadeiros negócios, é uma urgência. O Estado deve assegurar que a liberdade de culto seja respeitada, mas que não seja usada como escudo para a fraude, o engano e a manipulação financeira.
Além disso, é fundamental a implementação de campanhas de sensibilização que alertem a população para os riscos destas falsas promessas e que promovam uma fé consciente, crítica e informada. A educação religiosa deve ser valorizada como um instrumento de protecção contra os abusos que infelizmente proliferam.
Não se pode permitir que a vulnerabilidade humana seja explorada por interesses escusos que nada têm a ver com a verdadeira espiritualidade. O combate a esta praga exige a conjugação de esforços entre o Estado, as instituições religiosas sérias, a sociedade civil e os meios de comunicação social.
A tolerância face a estes falsos profetas não é sinal de democracia, mas sim de conivência com a injustiça. É tempo de parar de fechar os olhos e agir com coragem e rigor, porque a fé não deve ser um instrumento de enriquecimento ilícito nem uma armadilha para os mais pobres.
A sociedade moçambicana merece líderes espirituais que inspirem confiança, promovam valores sólidos e contribuam para o desenvolvimento moral e social do país. Deve repudiar veementemente aqueles que deturpam a fé em benefício próprio.
O Estado tem o dever de proteger os seus cidadãos, sobretudo os mais vulneráveis, de práticas fraudulentas que destroem vidas e famílias. A legislação deve ser reforçada e aplicada com rigor para garantir que a fé não se transforme em moeda de troca para a ganância.
Neste combate, a sociedade também deve assumir o seu papel de vigilância, denunciando abusos e exigindo transparência e ética aos seus líderes espirituais. Só assim poderemos construir uma comunidade mais justa, solidária e verdadeiramente espiritual.
A hora da mudança é agora. Não podemos continuar a assistir impávidos à proliferação dos falsos profetas que, com palavras doces e promessas falsas, roubam o futuro de tantos moçambicanos. É tempo de agir, com firmeza e justiça, para que a verdadeira fé triunfe sobre a falsidade e o oportunismo