Mais de seis mil habitantes das ilhas de Bazaruto, Benguérua e Magaruque, no distrito de Vilankulo, província de Inhambane, começam a colher os frutos da exploração turística no Arquipélago do Bazaruto. Três associações comunitárias receberam, na semana finda, cheques correspondentes a 20% das receitas arrecadadas em 2024, num total superior a 5,8 milhões de meticais, provenientes de um bolo estimado em mais de 30 milhões de meticais.
Texto: Anastácio Chirrute, em Inhambane
Este repasse, inserido no âmbito da responsabilidade social do Parque Nacional do Arquipélago do Bazaruto (PNAB), marca um novo capítulo na relação entre a conservação ambiental e o desenvolvimento local. O acto foi presidido pela secretária de Estado da província, Benedita Lopes, e contou com forte adesão popular e presença de membros do governo.
“Este valor vai ajudar-nos a melhorar as nossas condições de vida”, declarou um representante comunitário, sublinhando a importância do cumprimento, por parte do parque, do compromisso de redistribuição de receitas.
No arquipélago existem sete escolas, das quais cinco são do ensino primário, uma escola do ensino básico e uma sala anexa da Escola Secundária de Inhassoro, além de três centros de saúde e um posto de saúde, todos em funcionamento.
Prioridades definidas pelas comunidades
Com os fundos já disponíveis, caberá a cada associação comunitária definir, de forma participativa, as prioridades que mais afectam as suas localidades. No total, existem duas associações gestoras do fundo dos 20% e uma associação de pescadores de Bazaruto, que tem como objectivo principal promover um uso racional e sustentável dos recursos naturais marinhos, garantindo benefícios para as actuais e futuras gerações.
Impacto das manifestações nas receitas turísticas
O administrador do PNAB, Armando Nguenha, explicou que as receitas referentes a 2024 ficaram aquém do esperado. A previsão era atingir mais de 40 milhões de meticais, o que permitiria transferir cerca de 7 milhões de meticais às comunidades. Contudo, as manifestações violentas ocorridas entre Outubro do ano passado e Março deste ano, convocadas pelo político Venâncio Mondlane em protesto contra os resultados eleitorais e o custo de vida, comprometeram as metas.
“Durante os meses críticos, o turismo praticamente parou. Nenhum turista queria visitar o arquipélago por questões de segurança. Isso impactou profundamente a nossa arrecadação”, referiu Nguenha.
O dirigente reconhece que a recuperação da imagem turística poderá levar tempo, mas destaca sinais encorajadores: algumas estâncias hoteleiras operam já com taxas de ocupação superiores a 40%, num cenário onde a meta é atingir 70% a 80%.
“A comunidade está a colaborar, mas precisamos de trabalhar mais com a juventude, incentivando-os a divulgar boas imagens e mensagens positivas nas mesmas plataformas digitais onde antes promoveram os protestos”, disse Nguenha, apelando a um esforço colectivo para restaurar a confiança internacional no destino turístico.
Obras da ANAC também afectadas
A instabilidade registada nos últimos meses também travou o avanço das obras dos escritórios da Administração Nacional das Áreas de Conservação (ANAC) em Vilankulo. Segundo Nguenha, dez trabalhadores foram expulsos dos seus postos durante os protestos e a empreitada, orçada em 2,5 milhões de dólares norte-americanos, sofreu atrasos significativos.
“Tivemos de pagar indemnizações e reorganizar as equipas. Estamos a fazer todos os esforços para concluir as obras até Setembro deste ano”, assegurou.
O Arquipélago do Bazaruto é composto por cinco ilhas, das quais três são habitadas: Bazaruto, Benguérua e Magaruque. As ilhas desabitadas são Bangue e Santa Carolina. Segundo o Censo Geral da População de 2022, o arquipélago conta com 6.844 habitantes