A economia moçambicana registou sinais claros de abrandamento no primeiro trimestre de 2025, excluindo o sector do gás natural liquefeito, segundo o mais recente Relatório de Conjuntura Económica e Perspectivas de Inflação (CEPI), divulgado pelo Banco de Moçambique.
Texto: Milton Zunguze
O documento indica que, apesar de uma expectativa de ligeira retoma no segundo trimestre, sustentada pelo desempenho da agricultura, comércio e indústria transformadora, o ritmo de crescimento mantém-se frágil. A instabilidade póseleitoral, a lenta recuperação da capacidade produtiva e os impactos de fenómenos climáticos extremos continuam a condicionar a actividade económica.
A confiança empresarial permanece hesitante. O índice PMI, indicador que mede o dinamismo económico, registou uma leve recuperação em Abril, mas ainda não reflecte um cenário de crescimento robusto.
Paralelamente, a produção fora do sector do gás encontra-se estagnada, o que levanta dúvidas quanto à sustentabilidade do crescimento económico. As exportações de mercadorias estratégicas, com excepção do gás, também registaram quedas acentuadas. Em Abril, o alumínio desvalorizou-se 5,3% e o carvão térmico caiu 22,3% face ao mesmo período do ano anterior.
Do lado fiscal, o relatório destaca a contínua deterioração das finanças públicas. A dívida interna aumentou de 415,5 mil milhões de meticais, em Dezembro de 2024, para 445,8 mil milhões em Maio de 2025 — uma subida de 30,3 mil milhões em apenas cinco meses. Este crescimento deve-se, em grande medida, à emissão de Bilhetes e Obrigações do Tesouro para cobrir o défice orçamental, agravado por uma fraca arrecadação de receitas fiscais.
Apesar deste cenário desafiante, a inflação tem-se mantido sob controlo. Em Abril de 2025, a taxa anual situou-se nos 3,99%, face aos 4,77% registados em Março. A inflação subjacente — que exclui produtos com preços voláteis e administrados — caiu para 4,73%.
Esta estabilidade é atribuída à combinação de vários factores: a estabilidade do metical face ao dólar, a redução das tarifas de água e portagens, a isenção do IVA sobre bens essenciais como açúcar, óleo e sabão, e a queda dos preços de importação. Em Abril, o petróleo Brent registou uma redução de 24,8%, o arroz caiu 29,4% e o trigo 16,1%.
A nível internacional, a descida dos preços do petróleo e a menor pressão inflacionária global contribuíram para este ambiente de preços mais estáveis, assim como a flexibilização das condições monetárias em várias economias.
Contudo, o Banco de Moçambique adverte que as projecções de inflação favoráveis dependem de factores que não estão totalmente sob controlo das autoridades nacionais. Entre os principais riscos estão os choques climáticos, que afectam sobretudo a agricultura, e potenciais disrupções nas cadeias de fornecimento.
A nível interno, o Banco destaca a eficácia de medidas como a isenção do IVA e a redução de tarifas na contenção dos preços ao consumidor. Essas medidas têm tido efeitos directos na moderação da inflação e contribuído para preservar o poder de compra das famílias.
Ainda assim, o relatório alerta para os limites destas medidas num contexto de crescente pressão fiscal. A sua manutenção, a longo prazo, dependerá da capacidade do Estado em manter a disciplina orçamental e reforçar a base de arrecadação de receitas.
O relatório aponta ainda para uma tendência de desaceleração na concessão de crédito interno e uma quebra nos rendimentos das exportações, factores que limitam o consumo e o investimento privado.
A nível externo, o desempenho da balança de pagamentos também é afectado pela descida nos preços das exportações, embora o gás natural — cujo preço subiu 34,8% — continue a ser uma excepção positiva.
Em suma, Moçambique enfrenta uma conjuntura marcada por sinais de desaceleração económica e vulnerabilidades fiscais, mas com alguma margem de manobra graças à contenção da inflação. A manutenção desta estabilidade dependerá da gestão prudente da política fiscal e monetária, bem como da capacidade de resposta a choques externos e internos.
O desafio, agora, será sustentar esta relativa estabilidade num ambiente global e doméstico ainda repleto de incertezas.