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 DO GOVERNO CENTRAL À PRIMEIRA-DAMA: Espaço público tem “novos donos”

Seis meses depois da tomada de posse do Governo liderado por Daniel Chapo, começa a desenhar-se uma nova paisagem no espaço público moçambicano. Não necessariamente pelos feitos mais relevantes em termos de governação, mas pela forma como determinadas figuras têm conseguido marcar presença no debate nacional, graças à visibilidade conquistada nos meios de comunicação social — tradicionais e digitais — e à exposição constante das suas agendas políticas, sociais ou económicas. A partir de uma leitura da cena pública recente, o Dossiers & Factos identifica os protagonistas que mais se têm destacado neste novo ciclo, reflectindo não apenas iniciativas concretas, mas também uma aposta deliberada em estratégias de comunicação institucional que os tornam figuras reconhecíveis e em permanente contacto com o escrutínio popular.

Texto: Dossiers & Factos

Salim Valá: discurso estratégico no centro da governação económica

No Governo Central, Salim Ismael Valá, ministro da Planificação e Desenvolvimento, tem assumido um papel central no discurso económico da actual governação. Dirigindo um ministério recém-restaurado, Valá tornou-se o rosto da agenda de transformação económica, com forte ênfase na industrialização e na valorização local dos recursos naturais.

Desde o início do mandato, tem-se multiplicado em intervenções na Assembleia da Repùblica, seminários, painéis e encontros públicos, onde advoga a necessidade de Moçambique abandonar o modelo extractivista. Defende, em alternativa, uma economia baseada na transformação local de matérias-primas e produtos agrícolas. Um dos marcos da sua actuação foi o lançamento do Fundo Nacional de Recuperação, com 319,5 milhões de meticais para apoiar micro, pequenas e médias empresas afectadas por choques económicos — uma medida amplamente divulgada e debatida nos espaços mediáticos.

Eduardo Abdula: reconciliação e escuta activa como estratégia de pacificação em Nampula

No domínio da governação descentralizada, Eduardo Abdula, governador da província de Nampula, ganhou notoriedade por ter assumido, com frontalidade e proximidade, a gestão das tensões póseleitorais que marcaram negativamente o início do novo ciclo político em vários pontos do País.

Em visitas abertas às comunidades afectadas por episódios de violência envolvendo os autodenominados “naparamas”, Abdula expôs uma leitura humanizada do conflito, ligando a adesão dos jovens à violência ao desespero e à exclusão social. Com uma abordagem assente no diálogo e na reintegração social, o governador tem recorrido frequentemente aos meios de comunicação para reafirmar o compromisso com a paz e anunciar programas de formação técnico profissional para os ex-combatentes.

Este estilo de governação — assente na escuta activa e na visibilidade pública — tem-lhe garantido um lugar de destaque entre os líderes provinciais mais interventivos do momento.

Quatro figuras se destacam nas autarquias

No poder local, o novo ciclo autárquico iniciado em 2024 também tem produzido figuras com forte visibilidade pública, quer pelas iniciativas de impacto nas suas circunscrições, quer pelas estratégias de comunicação e de ocupação mediática. Carige: saneamento, juventude e mobilidade como pilares da governação Na Beira, o presidente do Conselho Municipal, Albano Carige, tem projectado a sua liderança em torno de uma agenda de resiliência urbana, com destaque para o saneamento do meio e a mitigação dos efeitos das alterações climáticas.

Desde a inauguração do edifício do Serviço Autónomo de Saneamento da Beira até à entrega de meios operacionais para a drenagem urbana, Carige tem apostado numa governação com símbolos visíveis, muitas vezes acompanhados por imagens e reportagens veiculadas nas redes sociais e nos órgãos de imprensa.

Além disso, tem procurado conquistar a juventude com a atribuição de terrenos para construção de habitação própria, medida que gerou ampla discussão pública e contribuiu para consolidar a sua imagem de autarca atento às necessidades sociais.

Rasaque Manhique: uma nova estética urbana para Maputo

Na capital do País, Rasaque Manhique tem promovido a imagem de um presidente de câmara “presente no terreno”, com múltiplas aparições públicas associadas à requalificação de vias, passeios e zonas de comércio informal. A sua governação tem sido marcada pela intensificação da fiscalização urbana e pela tentativa de reordenar o espaço público.

Com intervenções como a reabilitação da Rua Miriam Makeba, a melhoria das avenidas 24 de Julho e Julius Nyerere, e o redesenho de zonas degradadas, Manhique tem conseguido manter-se em evidência no discurso mediático sobre urbanismo e mobilidade.

Shafee Sidat: modernização e juventude em Marracuene

Na Vila de Marracuene, Shafee Sidat temse distinguido pela constante promoção de iniciativas ligadas ao empreendedorismo jovem e à modernização da máquina administrativa local. A apresentação de maquinaria pesada e de veículos de serviço em cerimónias públicas reforça uma imagem de dinamismo e capacidade de resposta. A sua governação tem sido acompanhada por uma presença comunicacional que valoriza os resultados práticos, a cooperação com parceiros internacionais e a interacção simbólica com a diáspora e investidores estrangeiros.

Júlio Parruque: proximidade empresarial e reconstrução urbana na Matola

Na Cidade da Matola, Júlio Parruque aposta na reconstrução das relações entre o poder municipal e o sector privado, num ambiente ainda marcado pelos efeitos das manifestações pós-eleitorais. Em encontros regulares com empresários, “chapeiros” e operadores informais, tem projectado uma imagem de diálogo constante e de compromisso com a retoma económica.

Ao mesmo tempo, as suas intervenções públicas têm enfatizado a requalificação de infra-estruturas e o fortalecimento da base industrial da Matola, recorrendo a uma comunicação proactiva e à exploração mediática do contacto directo com comunidades empresariais e com investidores estrangeiros.

Gueta Chapo: uma Primeira-Dama com acção social visível e mensagens fortes

Fora do Executivo, mas com crescente protagonismo público, Gueta Chapo, Primeira-Dama da República, tem adoptado uma postura de activismo social visível e vocacionado para a protecção de grupos vulneráveis. Através de deslocações frequentes, campanhas de solidariedade e declarações sobre temas sensíveis, como o feminicídio ou os casamentos prematuros, tem conseguido marcar presença constante na esfera pública.

A sua colaboração com instituições como a Fundação Lurdes Mutola e a actuação directa em situações de emergência, como no apoio às vítimas do ciclone Jude, contribuíram para reconfigurar o papel da Primeira-Dama como agente social activo, próximo das comunidades e das realidades locais.

Mais do que realizar mais, comunicam melhor

Em suma, o novo ciclo político tem revelado um grupo de actores cuja visibilidade deriva da forma como comunicam, se expõem e traduzem simbolicamente as agendas governativas em acções tangíveis e narrativas públicas. Num tempo de elevada exposição mediática e exigência por resultados, estes protagonistas parecem compreender que, no espaço político actual, governar também é comunicar — e ocupar o espaço público com propósito e estratégia.

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