Na véspera da celebração do cinquentenário da independência nacional, o jornalista e narrador da Televisão de Moçambique, João Chivale, destaca, a pedido do Dossiers & Factos, os principais marcos do desporto moçambicano, numa análise que revisita momentos de glória, reflecte sobre os desafios actuais e aponta caminhos para os próximos 50 anos.
Texto: Dossiers & Factos
João Chivale considera que, ao longo das últimas cinco décadas, esta área tem sido um importante veículo de união, orgulho e afirmação nacional, graças às diversas conquistas no plano internacional. “O primeiro de todos, o maior, é, sem dúvida, a medalha de ouro conquistada por Maria de Lurdes Mutola nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000. É a única medalha de ouro obtida por um país de expressão portuguesa a nível do continente africano; essa, sem dúvida, é a maior conquista do desporto moçambicano”, sentencia.
O jornalista destaca também as reiteradas presenças de Moçambique nas grandes competições africanas de futebol. Refere a qualificação da selecção nacional, os Mambas, para cinco edições anteriores do Campeonato Africano das Nações (CAN) – 1986, 1996, 1998, 2010 e 2023 – e sublinha que o País já assegurou a sua presença na edição de 2025, o que representará a sexta participação moçambicana na maior prova continental da modalidade.
No basquetebol, Chivale salienta vitórias emblemáticas, como a conquista da Taça dos Clubes Campeões Africanos pelo Maxaquene, em 1985, no escalão masculino. No feminino, Moçambique soma oito títulos africanos a nível de clubes, com destaque para o Ferroviário de Maputo (três títulos), o Desportivo (dois), a Liga Desportiva de Maputo, o Maxaquene e a Académica, com um título cada.
O jornalista recorda ainda as participações de Moçambique em Campeonatos Mundiais de Hóquei em Patins, em Campeonatos Mundiais de Basquetebol e em diversas edições dos Mundiais de Atletismo. Já entre os eventos organizativos pelo País, destaca a realização dos X Jogos Africanos, em Maputo, em 2011, classificando-os como um momento marcante na história do desporto nacional. “Foi um momento marcante, porque trouxemos todo o continente para Maputo, e saímos com uma imagem organizacional positiva”, afirma.
Apesar destes feitos, Chivale, que é uma das maiores referências do jornalismo desportivo na lusofonia, tece críticas ao estado das infra-estruturas desportivas no País. “O crescimento foi muito mau. Herdámos infra-estruturas do tempo colonial e, ao invés de as reabilitarmos, deixámo-las degradar. Crescemos muito pouco em termos de parque infra-estrutural para o desporto”, lamenta. Como raras excepções, aponta o Estádio Nacional do Zimpeto, construído para os Jogos Africanos, o projecto privado da Black Bulls, e alguns investimentos pontuais da União Desportiva de Songo.
A propósito das comemorações do 25 de Junho, observa que o Estádio da Machava – palco das celebrações centrais desta quarta-feira – continua ainda em processo de reabilitação, 50 anos após a Independência. “Isso é um reflexo do pouco que se tem feito em termos de recuperação e construção de novas infra-estruturas”, sublinha.
Projectando o futuro, Chivale manifesta o desejo de ver Moçambique afirmar-se como referência regional e continental em modalidades como o basquetebol. “Já o somos, mas temos vindo a decrescer. Precisamos reforçar a nossa presença na região da SADC e, gradualmente, no continente africano e nos campeonatos do mundo”, advoga.
Acima de tudo, defende uma nova abordagem estratégica em relação ao desporto, que o posicione como um pilar do desenvolvimento económico nacional. “O desporto deve ser visto como um sector importante da nossa economia. Essa é a visão que deve guiar os próximos 50 anos.”