O Presidente da República de Moçambique, Daniel Chapo, concluiu uma visita de quatro dias à Espanha, durante a qual obteve promessas de apoio ao desenvolvimento do país e reforçou a cooperação com as autoridades espanholas. A visita decorreu num momento simbólico: a Espanha é actualmente o principal destino europeu das exportações de Gás Natural Liquefeito (GNL) moçambicano, iniciadas em Dezembro de 2022 a partir da plataforma flutuante ancorada em Afungi, Cabo Delgado.
Texto: Dossiers & Factos
Acompanhado pela primeira-dama, Gueta Chapo, o Chefe do Estado participou na 4.ª Conferência Internacional das Nações Unidas sobre o Financiamento ao Desenvolvimento, realizada em Sevilha. O evento culminou com a adopção do “Compromisso de Sevilha” – uma nova estratégia global para acelerar a implementação da Agenda 2030 e dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Durante a sua estadia, Chapo manteve encontros de alto nível com o Rei Felipe VI, com o Presidente do Governo da Espanha, Pedro Sánchez, e com representantes da Comunidade Autónoma da Andaluzia, com quem Moçambique mantém uma cooperação activa. Reuniu-se ainda com o antigo chefe do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero.
No seu discurso na conferência da ONU – partilhado com líderes como António Guterres e Dennis Francis – Daniel Chapo destacou os progressos económicos de Moçambique nas últimas duas décadas, mas também apontou os desafios impostos por choques internos e externos, como o terrorismo em Cabo Delgado e os desastres naturais cíclicos. Estes factores, observou, afectam negativamente a segurança alimentar, o emprego juvenil e a capacidade do Estado de financiar sectores vitais como a saúde, a educação e as infraestruturas.
Face a esse contexto, reiterou o compromisso do Governo moçambicano com reformas estruturantes e com a implementação da Estratégia Nacional de Desenvolvimento 2025–2044, alicerçada em cinco pilares: boa governação, infra-estruturas estratégicas, industrialização, capital humano e sustentabilidade ambiental.
Chapo destacou ainda os esforços em curso para expandir a base tributária, modernizar o sistema fiscal com recurso à tributação digital e melhorar o controlo sobre as exportações de recursos naturais. Sublinhou também a aposta em finanças verdes, com a implementação da Estratégia Nacional de Financiamento Climático, que visa posicionar Moçambique como um exemplo regional até 2035.
O Presidente defendeu o fortalecimento dos Bancos Nacionais de Desenvolvimento como instrumentos cruciais para a industrialização, em especial das micro, pequenas e médias empresas, e propôs mecanismos multilaterais para uma gestão sustentável da dívida pública, com incentivos ao investimento e maior transparência.
“Queremos propor um novo modelo de cooperação que coloque o financiamento climático, a industrialização inclusiva e a capacitação estratégica no centro das prioridades globais. Com colaboração e boas práticas, podemos construir um futuro mais justo e sustentável para todos”, declarou.
Durante o encontro com Zapatero, o antigo primeiro-ministro espanhol alertou para a urgência de erradicar a fome e a miséria nos países em desenvolvimento. “Não se justifica que, em pleno século XXI, com o nível de riqueza e desenvolvimento tecnológico disponível, ainda haja fome”, afirmou. Defendeu igualmente uma maior solidariedade das nações ricas e uma África unida, afirmando que “o futuro é africano” e que, sem investimentos sérios no continente, “a África estará na Europa”.
Zapatero reforçou que a educação e a saúde registam avanços notáveis em muitos países africanos, mas advertiu que a falta de perspectivas empurra os jovens para a emigração. “A Europa deve investir na África, sob pena de ser surpreendida pela história”, concluiu