O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na noite de quarta-feira, 9 de Julho, a imposição de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras para o território norte-americano, medida que entrará em vigor a partir de 1 de Agosto. A decisão, justificada com a alegada “perseguição” ao ex-Presidente Jair Bolsonaro e aos seus apoiantes, ocorre apenas alguns dias após a realização da Cimeira dos BRICS no Rio de Janeiro – evento que evidenciou a crescente influência do bloco contra-hegemónico e que tem gerado desconforto em Washington.
Na carta enviada ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Trump critica duramente a Justiça brasileira, referindo-se ao julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal como uma “vergonha internacional” e uma “caça às bruxas”. O Presidente norte-americano alegou ainda que o Brasil estaria a atacar “eleições livres” e a comprometer a “liberdade de expressão” de cidadãos e empresas americanas, sobretudo no domínio digital. Ordenou também a abertura de uma investigação sobre o alegado cerco a actividades comerciais digitais de empresas dos EUA em solo brasileiro.
A reacção do Presidente Lula não tardou. Através das redes sociais, o Chefe de Estado brasileiro reafirmou a soberania nacional e o carácter independente das instituições judiciais. “O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”, afirmou. O Presidente advertiu ainda que medidas unilaterais serão respondidas com base na Lei brasileira de Reciprocidade Económica.
A decisão de Trump está a ser efusivamente celebrada por sectores da chamada direita bolsonarista, apesar dos potenciais danos à economia brasileira. Para essa ala, o que importa é proteger politicamente Jair Bolsonaro, actualmente réu no STF por alegada tentativa de golpe de Estado. Lembre-se que Eduardo Bolsonaro, filho do ex-Presidente, suspendeu inclusive o seu mandato de deputado federal para autoexilar-se nos EUA, de onde conspira, junto da Casa Branca e do Congresso, contra os interesses do próprio país – tudo isto enquanto se apresenta como “patriota”.
A crise diplomática expõe as contradições da política externa brasileira num contexto global cada vez mais polarizado. Ao mesmo tempo que fortalece laços com economias emergentes através dos BRICS, o Brasil vê crescer a pressão de aliados históricos, como os Estados Unidos, que parecem não tolerar avanços fora do seu raio de influência. Amad Canda