O Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, suspendeu o ministro da Polícia, Senzo Mchunu, na sequência de graves alegações de interferência política em investigações criminais. A medida surge após declarações do general Nhlanhla Mkhwanazi, um alto responsável da polícia, que acusou Mchunu e o vice-comissário Shadrack Sibiya de obstruir inquéritos sensíveis e colaborar com sindicatos criminosos.
Segundo noticiou o Africanews, a decisão foi tornada pública esta semana, tendo Ramaphosa afirmado que a suspensão visa preservar a integridade das instituições do Estado e garantir o normal funcionamento da Comissão de Inquérito que foi criada para apurar as alegações.
“Para que a Comissão desempenhe as suas funções de forma eficaz, decidi colocar o Ministro da Polícia, Sr. Senzo Mchunu, em licença com efeito imediato. O Ministro comprometeu-se a dar a sua total cooperação à Comissão, de modo a permitir que esta funcione adequadamente”, declarou o Chefe de Estado.
Entretanto, o Presidente designou o professor Firoz Cachalia como ministro interino da Polícia, enquanto decorrem as investigações. A medida foi bem recebida por sectores da sociedade civil, mas considerada insuficiente por partidos da oposição, que pedem a demissão imediata de Mchunu, por considerar que a licença “fica aquém da responsabilização política”.
O general Mkhwanazi denunciou ainda a dissolução de uma unidade de elite de combate ao crime, que estava a investigar uma série de assassinatos politicamente motivados e cujos contornos estariam ligados a redes criminosas organizadas com alegadas ramificações dentro do aparelho do Estado.
Em resposta às acusações e à pressão pública, Ramaphosa traçou os contornos do inquérito, que visa, entre outros aspectos, apurar o envolvimento de altos funcionários na obstrução de investigações, na utilização indevida de informação confidencial e no aproveitamento político ou financeiro de operações criminosas.
“A Comissão investigará o papel de altos funcionários actuais ou antigos em certas instituições que possam ter ajudado ou incentivado a suposta actividade criminosa; ou que tenham ignorado informações fiáveis; ou que se tenham beneficiado, politicamente ou financeiramente, das operações de um sindicato”, declarou o Presidente.
Várias organizações da sociedade civil e partidos políticos elogiaram a abertura da investigação, mas alertaram que será fundamental garantir a independência e eficácia da Comissão, num país marcado historicamente por episódios de corrupção e captura institucional.
A suspensão de Senzo Mchunu ocorre num momento particularmente sensível para a governação de Ramaphosa, que enfrenta críticas crescentes pela lentidão na reforma das instituições da justiça e da segurança pública, sectores profundamente afectados por escândalos durante a era de Jacob Zuma.