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CAMPANHA AGRÍCOLA: Inhambane prevê produzir mais de 3 milhões de toneladas de alimentos

O sector da Agricultura na província de Inhambane planificou, para a presente época agrícola 2024⁄2025, a realização de uma área de 579.359 hectares, com uma produção estimada de cerca de 3.370.623 toneladas de culturas alimentares e de rendimento. Para a concretização deste plano de produção, o sector viuse obrigado a investir em sementes de qualidade e na mobilização de alguns insumos agrícolas, com destaque para sementes de milho, mapira, arroz, feijão nhemba, amendoim e hortícolas. Os dados foram partilhados pelo respectivo director provincial da Agricultura, Ambiente e Pescas em Inhambane, Júlio João, em entrevista exclusiva ao semanário Dossiers Económico. Convidamos o caro leitor a acompanhar a entrevista no estilo de perguntas e respostas.


Texto: Anastácio Chirrute, em Inhambane

Dossier Económico (DE): Senhor director, qual é a avaliação que faz do sector que dirige relativamente à produção referente à última campanha agrária?

 Júlio João (JJ): O sector da Agricultura e Pescas na província de Inhambane planificou, para a presente campanha agrícola 2024⁄2025, a realização de uma área de 579.359 hectares, com uma produção de cerca de 3.370.623 toneladas de culturas alimentares e de rendimento. Há que realçar que foi uma das campanhas em que tivemos uma recuperação em termos de disponibilidade de insumos agrícolas, com destaque para sementes de hortícolas, das quais alocámos cerca de duas toneladas, que foram distribuídas por todos os 14 distritos da província de Inhambane. Para além disso, alocámos também alguns equipamentos utilizados na produção: cerca de 7.500 pulverizadores e 7.500 enxadas, para todos os 14 distritos.

DE: Para além das hortícolas e dos insumos agrícolas que afirma ter alocado aos agricultores, existe algum outro tipo de apoio ou assistência prestada a esses agricultores, visando contribuir para a melhoria da qualidade da produção e da produtividade?

JJ: Sim, existe outro tipo de apoio. Para além disso, alocámos 152.500 manivas (estacas) de mandioqueiras. Como sabemos, estamos perante as mudanças climáticas, e sobretudo alguns distritos do interior têm-se ressentido deste fenómeno, pelo que era preciso encontrar uma alternativa em termos de culturas que resistam a esses eventos climáticos. Alocámos cerca de 18 toneladas de ramas de batata-doce como resposta às mudanças climáticas, para que os produtores pudessem ter produtos, independentemente dos eventos climáticos que estivessem a acontecer.
DE: Para quando está prevista a colheita e posterior comercialização referentes à presente época?

JJ: Neste momento, estão a acontecer as primeiras colheitas da primeira época agrícola. Está em curso agora a produção de hortícolas, que faz parte da segunda época. Como sabem, tivemos momentos não muito bons em termos do comportamento da precipitação. Aquilo que era a previsão indicava que, de Outubro a Dezembro, teríamos uma precipitação normal, com tendência para acima do normal, e que, de Janeiro a Maio, também teríamos precipitação normal, com tendência para acima do normal. Infelizmente, não foi isso que aconteceu. No período de Outubro a Dezembro tivemos, infelizmente, precipitação abaixo do normal, o que fez com que algumas culturas sensíveis ao stress hídrico não resistissem nem demonstrassem o seu potencial produtivo. Por causa disso, tivemos muitas perdas, na ordem de 12 mil hectares.

DE: Foram mais de 12 mil hectares perdidos por causa das mudanças climáticas. Este número é bastante elevado. Existe alguma estratégia que o sector que dirige está a adoptar para reverter este cenário?

JJ: Sim, existe. Mas deixe-me dizer o seguinte: nos finais de Dezembro do ano passado e em Janeiro deste ano começámos a registar precipitação normal, com tendência para acima do normal, o que permitiu que a cultura do milho, que ainda não tinha sido lançada na zona norte da província, pudesse ser semeada. Os produtores lançaram a semente e coincidiu que, nessa altura, nós também tínhamos capacidade para alocar sementes. Isso permitiu compensar as perdas que tivemos nos primeiros meses da primeira época. De tal sorte que os agricultores têm agora boa disponibilidade em termos de milho. Estamos a falar dos distritos da zona norte da nossa província e de alguns distritos do interior, onde normalmente se produz mais milho e também a cultura do mapira, que é feita na zona norte da província.

DE: Quais são as culturas resilientes à seca que estão a ser produzidas neste momento na zona sul?

JJ: Na zona sul registámos boa produção de amendoim e mandioca. Estamos com bastante disponibilidade de mandioca, e houve a possibilidade de ser adquirida por uma fábrica de processamento, mas a mesma está encerrada. Ainda continuamos com grandes constrangimentos na perspectiva de como garantir que essa produção possa ser consumida, tendo em conta que foi produzida com vista à componente de comercialização. A cultura do amendoim também teve bons resultados na região sul do país, tendo, de alguma forma, vindo a reduzir a anterior indisponibilidade desta cultura para as nossas populações.

DE: Podemos afirmar de forma categórica que Inhambane não terá bolsas de fome, pelo menos por algum tempo, porque há comida suficiente?

JJ: É um ano em que não teremos muitos problemas em termos de défice alimentar. Podemos ter algum stress alimentar na perspectiva de que as pessoas possam reduzir as quantidades e a frequência do consumo, mas pelo menos está garantido o mínimo aceitável para assegurar a sobrevivência das populações.

DE: Pode-se declarar que Inhambane não terá casos de bolsas de fome?

JJ: Penso que é um desafio. Não posso assumir que hoje ou amanhã o vamos conseguir, mas temos de trabalhar todos para garantir que isso aconteça. Não podemos garantir que vamos combater na totalidade, porque amanhã poderão aparecer pessoas a sofrer de insuficiência alimentar.

DE: Esta avaliação feita sobre segurança alimentar inclui também os distritos localizados no interior da província, que são assolados pela seca?

JJ: Olhando para a realidade de alguns distritos, este ano registámos uma das melhores colheitas naqueles que, ciclicamente, nos apresentam problemas. Estamos a falar de Funhalouro e Mabote. Os níveis de produção deste ano superaram, em grande medida, os dos anos passados. Mas, repito, não quer dizer que não poderá haver pessoas com insuficiência alimentar. Se visitar esses distritos, encontrará níveis de produção de hortícolas satisfatórios, embora ainda existam desafios relacionados com as fontes de água. A produção de hortícolas depende necessariamente da localização da fonte de água.

DE: O que acha que pode estar a falhar para alcançarmos os objectivos que tanto almejamos, nomeadamente tirar a província da insegurança alimentar?

 JJ: O que sentimos que está a falhar é a componente de irrigação. Com as mudanças climáticas, se assumirmos que vamos produzir dependendo exclusivamente das chuvas, os níveis de produção nunca melhorarão. Daí que, mesmo ao nível central, e nós, como Conselho Executivo Provincial, estejamos a trabalhar no sentido de incrementar os níveis de produção. É por isso que este ano prevemos alocar 52 sistemas de irrigação, com uma área que varia de 1 a 2 hectares, como forma de converter uma parte da área hoje cultivada a sequeiro para área com irrigação. Quando se produz com irrigação, pelo menos temos a produção garantida.

DE: Qual é o principal desafio do sector que dirige neste momento para conseguir combater a fome?

JJ: O grande desafio do sector neste momento é alocar sementes de hortícolas a essas comunidades. Já começámos esse processo, e neste momento estamos a alocar a segunda via. Estamos cientes de que, quando alocamos muitas sementes aos produtores, estes acabam por não fazer uma boa gestão. Por isso, fazemos a alocação de forma intercalada. Nas zonas com disponibilidade de água, as comunidades têm de produzir. Há outras actividades realizadas por outros sectores, pois a segurança alimentar não se limita apenas à produção agrícola. Há outras acções complementares que garantem o acesso a alimentos pelas comunidades. Uma dessas é a venda de animais. Se observarmos, os distritos de Panda, Funhalouro e Mabote são potenciais na produção de gado bovino.

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