Durante os cerca de oito anos em que dirigiu a província de Inhambane como governador, Daniel Francisco Chapo apresentou-se como um dirigente entusiasta do desenvolvimento local, anunciando projectos estruturantes em várias áreas, com destaque para infra-estruturas, turismo, agricultura e transportes. Desde Janeiro do presente ano, Chapo faz o seu percurso como Presidente da República, mas grande parte dos projectos estruturantes que tinha em carteira continuam sem sair do papel, deixando um rasto de frustração entre os habitantes da região.
Texto: Anastácio Chirrute, em Inhambane
Um dos principais exemplos é a prometida construção da estrada que ligaria Mapinhane, em Inhambane, à localidade de Phafuri, na província de Gaza. Anunciado em Maio de 2017, durante uma conferência de investimentos realizada na África do Sul, o projecto previa mais de 600 quilómetros de estrada e estava orçado em cerca de 800 milhões de dólares. A obra foi apresentada como estratégica, ao prometer ligar Moçambique à África do Sul e ao Zimbabwe, dinamizar o turismo em Vilankulo e Inhassoro, facilitar a logística da Sasol e criar mais de 1000 postos de trabalho.
Três grupos empresariais – um sul-africano, um chinês e um zambiano – teriam manifestado interesse em participar na sua execução. No entanto, até hoje, o projecto nunca saiu do papel. As populações locais perguntam-se o que terá falhado e para onde terão sido canalizados os fundos que, segundo se dizia, estavam mobilizados para o efeito.
Outro compromisso amplamente divulgado por Chapo, enquanto governador, foi o de transformar o Trópico de Capricórnio, na localidade de Haqui, distrito de Massinga, numa zona de referência turística. A promessa foi reiterada em Junho de 2022, tanto durante o Festival do Capricórnio como numa entrevista concedida ao Dossiers & Factos. O projecto, elaborado pela Fundação Sérgio Gago, incluía a construção de uma estrutura em arco, simbolizando a travessia do trópico, e previa ainda áreas de alojamento com 10 quartos e piscina, restaurante, loja de conveniência, posto de combustível, parque de estacionamento e espaço de lavagem de viaturas. Se tivesse sido implementado, acredita-se que a infraestrutura teria contribuído de forma significativa para o turismo e o desenvolvimento económico local. No entanto, até à data, nada foi feito no terreno.
Na área da agricultura, o regadio de Chimunda, no distrito de Govuro, continua a ser outro exemplo de promessa não concretizada. Com uma área superior a 1000 hectares, o regadio foi promovido como uma solução para a segurança alimentar da província. Inicialmente explorado por investidores sul-africanos, que produziam hortícolas para abastecimento de mercados como o Grossista do Zimpeto, bem como de outros nas províncias de Manica, Sofala e Zambézia, o projecto entrou em declínio quase que de forma repentina.
Os investidores retiraram-se sem apresentar justificações, e os novos esforços para criar gado caprino e ovino em larga escala também fracassaram. A concessão a privados foi defendida por Chapo como modelo sustentável, mas os resultados até aqui demonstram o contrário, multiplicando-se as dúvidas sobre as razões pelas quais os projectos que chegam a arrancar colapsam pouco tempo depois.
A construção de um porto de atracagem de navios em Inhambane representa mais uma promessa sem seguimento. O projecto ganhou destaque em Março de 2021 com o lançamento da balizagem do canal de acesso, realizado pelo então ministro dos Transportes e Comunicações, Janfar Abdulai. Estava prevista a instalação de 10 bóias com tecnologia GPS, num investimento avaliado em 40 milhões de meticais, e incluía ainda a sinalização da travessia Inhambane– Maxixe.
A iniciativa foi recebida com entusiasmo pelos empresários locais, que viam nela uma oportunidade para reduzir custos logísticos e melhorar a segurança no transporte de mercadorias. No entanto, pouco tempo depois, deixou-se de ouvir falar do projecto, e nada foi executado até hoje.
Por fim, no contexto da exploração de gás em Pande e Temane, nos distritos de Inhassoro e Govuro, Chapo comprometeu-se, enquanto governador, a garantir que os lucros resultantes da actividade extractiva beneficiassem directamente as comunidades locais. Famílias foram obrigadas a ceder as suas terras em troca de promessas de reassentamento em zonas seguras e com acesso a serviços sociais. No entanto, parte significativa dessas populações continuam a viver em condições precárias, sem acesso a infraestruturas básicas e privadas de usufruir dos ganhos gerados pela exploração dos seus recursos.