Entre 2021 e 2023, 95 dos 143 países em desenvolvimento — o equivalente a 66% — apresentaram níveis críticos de dependência de commodities, revela o relatório The State of Commodity Dependence 2025, da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). A situação assume contornos ainda mais alarmantes entre os Países Menos Avançados (PMA), os Estados Insulares em Desenvolvimento e os Países em Desenvolvimento Sem Litoral, onde a dependência supera os 80%.
Texto: Dossier Económico
As commodities — que englobam produtos energéticos, minerais e agrícolas — continuaram a dominar o comércio internacional, representando, em média, 32,7% do valor global das trocas comerciais no triénio analisado. Apesar de se registar uma ligeira queda face aos 35,5% da década anterior, o volume continua expressivo, com destaque para o sector agrícola, cujas exportações cresceram 34%, alcançando os 2,3 biliões de dólares.
Os produtos mineiros seguiram com um incremento de 33,4%, totalizando 1,65 biliões anuais, enquanto os energéticos, embora ainda representem 44,5% do total, perderam peso no comércio global — uma descida de 7,6 pontos percentuais — devido à transição energética em curso.
A região africana foi das mais penalizadas: perdeu 25 mil milhões de dólares em receitas, com uma queda de 5,6% no valor das exportações. A descida dos preços internacionais do petróleo e a diminuição dos volumes exportados por países como Nigéria, Angola e Argélia explicam a trajectória negativa. Em contrapartida, a Ásia reforçou a sua posição como principal exportadora mundial de matériasprimas, sobretudo graças aos Emirados Árabes Unidos e à Arábia Saudita, que, juntos, asseguraram mais de metade das exportações da Ásia Ocidental.
Apesar do cenário dominante, há sinais de mudança. Países como a Indonésia e a Guatemala conseguiram reduzir a sua dependência para níveis inferiores ao limiar de 60%, provando que a diversificação económica é possível quando sustentada por políticas públicas eficazes, investimento estratégico e maior inserção nos mercados internacionais. A UNCTAD insiste que a ausência de valor acrescentado e de transformação local das matérias-primas perpetua o subdesenvolvimento e fragiliza a resiliência económica. O relatório disponibiliza ferramentas estatísticas e quadros comparativos destinados a apoiar os decisores políticos na elaboração de estratégias de longo prazo para mitigar riscos estruturais e aumentar a competitividade externa