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DIRECTOR DA JUVENTUDE E DESPORTO EM INHAMBANE: “Jovens devem acreditar no valor do próprio trabalho”

A falta de habitação e de emprego continua a ser um dos principais desafios enfrentados pela juventude moçambicana, sobretudo nos últimos tempos. Perante expectativas frustradas, alguns jovens optam pelo suicídio, outros enveredam pelo mundo do crime, do consumo de álcool ou de drogas. Com vista a reverter este cenário, o Governo da Província de Inhambane já iniciou o processo de identificação e parcelamento de talhões. Neste momento, já foram parcelados mais de 1.200 talhões apenas no distrito de Vilankulo, os quais serão, posteriormente, entregues a igual número de jovens.

Texto: Anastácio Chirrute, em Inhambane

O director provincial da Juventude e Desporto em Inhambane, Leonardo Bassanhane Macucule, revelou, em entrevista exclusiva ao Dossiers & Factos, que, para além desta iniciativa, há vários outros projectos em preparação que visam contribuir para a geração de rendimento entre os jovens, com o apoio do Governo e dos seus parceiros.

Auto-emprego e mudança de mentalidade são a chave

Esta intervenção surge numa altura em que cresce o número de jovens que procuram, sem sucesso, oportunidades de emprego que lhes permitam concretizar o sonho de construir a sua própria habitação. Como justificação, muitos apontam a falta de oportunidades no acesso ao financiamento, o que, em muitos casos, leva ao desespero.

O director provincial da Juventude e Desporto assegura que o Governo já tem em curso vários projectos para manter os jovens ocupados e com algum rendimento. Como exemplo, referiu-se a várias formações técnico-profissionais que estão a decorrer em quase todos os distritos da província de Inhambane.

Macucule reconhece os enormes desafios enfrentados pela juventude e garante que a sua direcção tem vindo a promover palestras com vista a consciencializar os jovens sobre a importância do auto-emprego, com particular enfoque nas áreas da agricultura e da piscicultura.

“Há dias, alguns jovens graduaram-se em diferentes cursos práticos e receberam kits para iniciarem os seus próprios negócios, no âmbito de uma iniciativa do Governo central. Hoje mesmo, testemunhamos o exemplo de um jovem que, após receber um desses kits, montou um parque de venda de peças para automóveis. Existem muitos outros casos espalhados pelos distritos que também estão a beneficiar desta iniciativa”, afirmou.

Macucule, que foi recentemente nomeado para o cargo, em substituição de Hélder Jossias que assumiu as funções de Director Nacional da Juventude –, revela que a sua maior expectativa é ver os jovens engajados no trabalho e a desenvolverem as suas próprias ideias como forma de gerar emprego.

“Dou o exemplo da nossa capital provincial, uma cidade costeira, onde os nossos pescadores ainda usam canoas. Se lhes perguntarmos se desfilam na Praça dos Heróis, no 1.º de Maio, verificamos que não, porque acham que a actividade que exercem não tem valor. Ora, muitos desses jovens podem ganhar entre 300 a 400 meticais por dia. Se lhes incutirmos auto-estima, eles podem perceber que essa actividade é digna, porque garante o sustento da família. Isso permitir-lhes-ia poupar e melhorar gradualmente as suas vidas.”

Questionado sobre como e onde os jovens devem buscar financiamento para investir nos seus negócios, o dirigente foi claro: é necessário, primeiro, mudar a mentalidade.

“Nós, como Governo, temos de apresentar temáticas à juventude sobre o que ela pode melhorar no que já faz. Temos de ensinar a gerir os recursos obtidos através do seu trabalho. Temos de trabalhar na mente dos jovens para que saibam valorizar o seu próprio esforço. É aí que estamos a falhar. O outro elemento é o financiamento. Este ano, vai arrancar o financiamento de grandes projectos de iniciativas locais, dos quais 60% dos valores alocados aos distritos são destinados à juventude. Mas o financiamento por si só não basta; é preciso uma mudança de mentalidade. Queremos uma juventude que saiba usar as redes sociais de forma construtiva.”

Habitação, financiamento e inclusão sem discriminação

Outro problema apontado pelos jovens é a exclusão no acesso ao financiamento, alegando que os beneficiários são, na maioria das vezes, apenas membros da OJM. Confrontado com esta realidade, Macucule reagiu: “Se isso estiver a acontecer, temos de corrigir. Nós não trabalhamos para uma juventude partidária, mas para todos os jovens desta província. Quando falamos de capacitação, falamos para todos. Um exemplo claro são os jovens que fabricam blocos de cimento em Mutamba. Esses jovens estão a aprender a gerir os lucros resultantes do seu trabalho. E nós não podemos – nem devemos – distinguir quem pertence ao partido A ou B.”

O dirigente apelou ainda aos jovens para que deixem de se auto-discriminarem e passem a participar activamente nos encontros promovidos pela sua direcção. “Temos de sair da dependência económica. Não faz sentido que os nossos jovens, em Homoíne, por exemplo, não apostem na produção agrícola. Também não faz sentido que continuemos a importar tomate da África do Sul, quando temos vastas terras aráveis em Massinga, Morrumbene, Vilankulo e Govuro.”

Para enfrentar os desafios relacionados com a habitação, o Governo de Inhambane iniciou já o processo de identificação e parcelamento de talhões. Só em Vilankulo, mais de 1.200 talhões já foram parcelados, a serem entregues aos jovens da região.

“Temos um exemplo concreto em Vilankulo, onde se está a parcelar cerca de 1.200 talhões. O jovem poderá escolher o seu próprio terreno e começar a erguer a sua habitação. É uma zona com acesso a água e energia. Mas estas iniciativas exigem muitos recursos. O diálogo que mantemos com os distritos visa garantir que cada um crie oportunidades para que a juventude tenha acesso à terra. Estamos igualmente a trabalhar para que o material de construção seja vendido a preços acessíveis aos jovens. Existe um site do Fundo de Fomento de Habitação que os jovens podem consultar para saber como aceder aos talhões. Este é apenas um modelo que será replicado por quase toda a província.”

Para aceder aos talhões, os jovens precisarão apenas de pagar taxas simbólicas. “No caso de Vilankulo, será tornado público o valor a pagar. Em Moçambique, a terra não se vende. O que os distritos fazem é identificar áreas, parcelá-las e, depois, os jovens concorrem submetendo a documentação necessária.”

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