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Rei Mswati III “usurpa” mais megawatts para impulsionar seu reino

O Rei Mswati III conseguiu persuadir o Presidente da República de Moçambique, Daniel Chapo, a reforçar o fornecimento de energia eléctrica ao Reino de Eswatini. O país vizinho, que actualmente recebe pouco mais de 5 megawatts, passará a beneficiar de mais energia moçambicana para alimentar projectos de industrialização, construção de cidades satélites e desenvolvimento tecnológico. Enquanto isso, Moçambique, ainda a braços com défices de fornecimento e infra-estruturas debilitadas, reforça a sua vocação de exportador sem uma estratégia clara de benefício interno.

Texto: Maximiano da Luz

Durante a visita oficial a Moçambique, o monarca defendeu que a energia adquirida servirá para alimentar novas infra-estruturas industriais no seu país, atrair investimento e gerar empregos para os jovens. “Queremos criar uma nova cidade para atrair diferentes indústrias, trabalhar com alta tecnologia, construir infraestruturas e instalar fábricas. Os investidores procuram condições, e a energia é central”, declarou Mswati III, ao lado de Daniel Chapo, na Presidência da República.

O Rei referiu ainda que pretende recuperar o tecido social afectado pela pandemia da Covid-19, que agravou o desemprego no seu país. Reconhecendo as limitações internas, Mswati III assumiu que Eswatini precisa de Moçambique para garantir logística, energia e acesso aos portos nacionais: “As instalações estão aqui. Temos de ver como trabalhar com Moçambique”.

Na ocasião, os dois países assinaram três instrumentos de cooperação: uma declaração de intenções para o fornecimento de energia eléctrica a Eswatini; um memorando no domínio dos combustíveis entre a PETROMOC e a congénere de Eswatini; e um acordo sobre serviços aéreos.

No dia seguinte, Mswati III visitou a Central Termoeléctrica de Ciclo Combinado de Maputo (antiga SONEFE), onde foi-lhe garantido um reforço de 25 megawatts para o seu país. “Estamos à procura de mais parcerias. Esta planta de energia mostra que há capacidade, e queremos voltar com as nossas equipas para firmar cooperação concreta com Moçambique”, afirmou.

Moçambique exporta energia, mas continua vulnerável internamente

Embora Moçambique detenha o maior potencial energético da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), com capacidade estimada em mais de 187 gigawatts provenientes de carvão, hidroeléctricas, gás, energia eólica e solar, a maioria da energia gerada continua a ser exportada, enquanto o país ainda regista défices de cobertura e fornecimento interno irregular. Segundo dados da Power Africa, o gás natural moçambicano poderá, na próxima década, representar 44% da energia gerada nacionalmente.

Apesar deste potencial, a demanda interna por energia continua a crescer, sem que existam investimentos à altura para expandir a rede nacional de distribuição e garantir soberania energética. A concessão de mais energia a países vizinhos como Eswatini levanta preocupações sobre a prioridade dada aos compromissos externos, em detrimento das necessidades domésticas.

Chapo fala em reforço da cooperação, mas falha em detalhar ganhos para Moçambique

Durante a conferência de imprensa conjunta, o Presidente Daniel Chapo sublinhou que a visita do monarca eswatini serviu para relançar a cooperação bilateral, sobretudo no domínio económico. No entanto, o Chefe de Estado moçambicano não apresentou qualquer plano concreto de retorno económico para o país com a expansão do fornecimento de energia ou outros acordos assinados.

“Queremos virar a nossa atenção para a cooperação económica, reforçar a posição dos nossos países no seio da SADC, da União Africana e das Nações Unidas”, disse, num tom vago e sem compromissos específicos.

Durante o banquete oficial oferecido na Ponta Vermelha, Chapo limitou-se a enaltecer a visita e agradecer a presença do Rei Mswati III, reafirmando apenas a vontade de aprofundar relações. Referiu ainda os contactos estabelecidos entre as Câmaras de Comércio de ambos os países, que culminaram na assinatura dos referidos memorandos.

O Presidente moçambicano elogiou a integração do sector privado na comitiva de Eswatini, considerando-a sinal de um novo impulso nas relações económicas, mas voltou a não apresentar qualquer medida concreta ou contrapartida negociada para Moçambique.

Ausência de uma estratégia nacional clara

A visita do Rei de Eswatini e os acordos assinados revelam, mais uma vez, a fragilidade da política externa económica de Moçambique, que parece mais disponível a ceder recursos estratégicos do que a defender os interesses internos. Num país onde milhares ainda vivem sem acesso à energia eléctrica, a cedência de mais megawatts sem transparência nem retorno mensurável suscita críticas à falta de estratégia, planeamento e liderança em matéria de soberania energética.

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