A mais recente manifestação popular no distrito da Massinga, província de Inhambane, resultou em avultados prejuízos materiais, estimados em cerca de 4,5 milhões de meticais, segundo uma fonte ligada ao sector dos transportes. A acção violenta teve lugar na última semana de Julho, em resposta ao baleamento mortal de uma passageira de um autocarro semicolectivo por um agente da Unidade de Intervenção Rápida (UIR).
Texto: Anastácio Chirrute, em Inhambane
De acordo com testemunhas no local, a vítima mortal foi atingida quando a Polícia tentou alvejar o motorista do veículo, alegadamente por este ter tentado usar um desvio para evitar o pagamento da portagem de Malova.
“A Polícia atirou contra o motorista da viatura Quatum, só que Deus estava com ele e conseguiu escapar. A bala perfurou a cadeira e atingiu uma passageira que estava atrás do condutor, matando-a no local”, relatou uma das testemunhas.
As mesmas fontes explicaram que, ao aperceber-se do sucedido, a população local insurgiu-se contra a actuação policial, bloqueando a Estrada Nacional Número Um (EN1) com camiões e troncos de árvores. A circulação esteve interrompida durante várias horas nos dois sentidos daquela que é a principal via de ligação entre o sul, centro e norte do país.
“É por isso que nós bloqueámos a EN1, para exigir explicações sobre o que levou a Polícia a tirar a vida de uma pessoa. Se foi apenas por ter tentado desviar da portagem, isso não se justifica. A vida humana é sagrada”, desabafou outro manifestante.
Durante a manifestação, um grupo de jovens vandalizou e saqueou a portagem de Malova, tendo destruído vários equipamentos informáticos, entre os quais computadores, impressoras e outros materiais, além de valores monetários, conforme mostram as imagens captadas pelas câmaras de segurança instaladas no local.
A acção forçou a suspensão da cobrança de portagens, uma interrupção que deverá manter-se até, pelo menos, à próxima segunda-feira. Durante este período, o processo de cobrança será feito manualmente, enquanto se aguardam fundos para a reposição dos equipamentos destruídos.
Segundo informações colhidas pela nossa reportagem, os manifestantes apenas aceitaram dialogar depois da retirada das forças da UIR e mediante a presença de órgãos de comunicação social. Só assim foi possível ao governador da província de Inhambane, Francisco Pagula, iniciar conversações no terreno, embora os estragos já fossem consideráveis.
Esta foi a segunda vez, em menos de quatro meses, que a portagem de Malova foi alvo de destruição por parte de manifestantes. A primeira ocorrência deu-se durante os protestos convocados por Venâncio Mondlane, então autoproclamado “presidente do povo”, em contestação aos resultados das eleições gerais e ao agravamento do custo de vida no país.