Na pior das hipóteses — caso o novo regime jurídico de controlo da produção, comercialização e consumo de bebidas alcoólicas determine o encerramento das fábricas de bebidas espirituosas de alto teor alcoólico e baixo preço — o Centro Distribuidor de Gaza (CEDIGA), responsável pela marca Presidente, poderá enfrentar sérias dificuldades financeiras. Entre as consequências, está o risco de incumprimento no pagamento de dívidas à banca e a eventual impossibilidade de indemnizar os seus trabalhadores.
Texto: Maidone Capamba
Segundo o administrador da empresa, Edmundo Tamele, seriam necessários cerca de quatro milhões de meticais apenas para indemnizações, afectando aproximadamente 60 funcionários que ficariam sem emprego.
O aviso foi dado no início de Agosto: as fábricas de bebidas espirituosas deverão deixar de produzir recipientes de 200 ml com teor alcoólico entre 42% e 43%, ou mesmo encerrar totalmente a linha de produção. O Governo já suspendeu a emissão de novas licenças para este tipo de actividade, justificando a medida com a proliferação de estabelecimentos de fabrico e venda de bebidas alcoólicas e a necessidade de controlar e reduzir os impactos negativos do seu consumo, sobretudo em espaços públicos e junto a escolas.
Na província de Gaza, a única fábrica do género está situada no bairro Sete, Posto Administrativo Municipal de Ndambine 2000, cidade de Xai-Xai. Na semana passada, recebeu uma advertência das autoridades para se preparar para cumprir as novas regras — seja para encerrar a produção ou para reduzir o teor alcoólico das suas bebidas.
Investimento elevado e maquinaria sem alternativa
Tamele revelou que, se for decretado o encerramento, a empresa não terá como suportar as indemnizações, uma vez que, além de depender de capitais próprios, tem compromissos bancários. Estima que ainda não conseguiu recuperar sequer um terço do investimento total, calculado em cerca de um milhão e quinhentos mil dólares norteamericanos, aplicado sobretudo na importação de maquinaria da Índia, concebida exclusivamente para a produção de bebidas espirituosas.
“A maquinaria não é adaptável a outro tipo de produção”, lamentou o administrador, antecipando um futuro sombrio para a empresa caso a decisão governamental seja pelo fecho definitivo.
Fim das embalagens pequenas e alternativas possíveis
A empresa deixou de produzir bebidas em embalagens de 200 ml — consideradas de fácil acesso devido ao baixo preço — e, até à semana passada, contava com um stock mínimo de 600 mil meticais em produtos prontos para venda.
Tamele afirmou que a prioridade será cumprir a lei: “O que o Governo impuser, nós vamos acatar, porque respeitamos as leis. Acho que vamos encontrar uma saída”.
Uma das soluções, segundo o administrador, poderá passar pela redução do teor alcoólico e pela proibição dos recipientes de menor capacidade, o que, no seu entender, ajudaria a manter a operação da fábrica.
Contribuição para o Estado e histórico de actividade
No pico da produção, a CEDIGA chegou a pagar ao Estado cerca de um milhão de meticais em impostos, entre Imposto de Consumo Específico (ICE) e Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA).
A fábrica iniciou operações no final de 2021, depois de um período de formação do pessoal e de um atraso no arranque provocado pela pandemia da COVID-19.