O Governo moçambicano reconhece que a cessação do financiamento da agência norte-americana USAID, incluindo aos projectos em curso no país, constituiu “um choque externo significativo”, com repercussões na saúde, agricultura e emprego, tendo chegado a ameaçar o colapso de serviços básicos.
Segundo noticiou a RTP, com base num documento sobre a execução orçamental do primeiro semestre, consultado pela Lusa na terça-feira (19), o Executivo assume que a suspensão dos financiamentos, em Janeiro, pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), e o subsequente encerramento da mesma, obrigaram a “redireccionar recursos internos para evitar o colapso dos serviços básicos”.
“Neste contexto, o Governo tem adoptado medidas de política que visam garantir a sustentabilidade dos serviços essenciais e estimular a economia nacional”, lê-se ainda no relatório do Ministério das Finanças.
Essas medidas incluem “a reorientação da despesa pública, a mobilização de recursos internos, o apoio à produção nacional, o reforço da protecção social e a melhoria da eficiência na gestão orçamental, mitigando os impactos negativos da interrupção da ajuda externa e promovendo a resiliência económica e social do país”, acrescenta o documento.
A agência de notação financeira Fitch corrobora que a suspensão dos apoios da USAID a Moçambique teve igualmente impacto na disponibilidade de moeda estrangeira, num peso estimado em 3% do Produto Interno Bruto (PIB), noticiou a Lusa a 4 de Agosto.
“A escassez de divisas agravou-se em 2025, em parte devido à redução dos desembolsos externos ao Governo e à suspensão da USAID”, refere a Fitch na mais recente avaliação da notação de risco do país, lembrando que a agência norte-americana desembolsara 586 milhões de dólares (cerca de 505 milhões de euros) a Moçambique em 2024, sobretudo em projectos ligados à saúde e educação, “o equivalente a 3% do PIB”.
O Governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump, suspendeu no início de 2025 a actividade da USAID, criada em 1961 com o objectivo de prestar apoio humanitário internacional, sendo Moçambique um dos países onde os financiamentos tinham maior peso, em particular na área da saúde. A 1 de Julho foi anunciado o encerramento definitivo da agência.
Segundo dados oficiais de Julho, pelo menos 2.500 empregos perderam-se em Moçambique em resultado do corte da ajuda externa norte-americana através da USAID. A ministra do Trabalho, Género e Acção Social, Ivete Alane, reconheceu tratar-se de “um problema” para a economia.
“O último encontro que tive com o grupo criado pelas organizações beneficiárias do financiamento apontou para a perda de cerca de 2.500 postos de trabalho”, afirmou a governante, ressalvando, contudo, que ainda não existe “uma estimativa oficial”.