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4 MESES DEPOIS DE “DOAR” ALIMENTOS A CHAPO: Gaza tem milhares de pessoas em risco de fome severa

Em Maio deste ano, a governadora da província de Gaza, Margarida Mapandzene, protagonizou um gesto vistoso, ao oferecer ao Presidente da República, Daniel Chapo, uma quantidade significativa de produtos alimentares locais, incluindo 10 quilos de castanha de caju, 250 quilos de laranja, 250 quilos de mandioca, uma tonelada de arroz, um casal de suínos, 85 quilos de peixe, seis cabritos, dez ovinos e 20 cabeças de gado. Em qualquer parte do planeta, o acto teria sido visto como símbolo de abundância, mas em Moçambique apenas atraiu críticas, não só por se tratar de um showoff político, mas também por ocorrer numa das províncias mais subdesenvolvidas do País, com milhares de cidadãos votados à miséria.

Texto: Amad Canda

Não é para menos! Poucos meses depois, o cenário apresenta-se nu e cru — e é dramático. Na semana finda, o próprio Governo Provincial de Gaza, através da chefe do Departamento de Segurança Alimentar na Direcção Provincial de Agricultura e Pescas, Clemência Chirrute, revelou que cerca de 65 mil pessoas estão em risco de enfrentar fome severa, resultado da fraca produção agrícola, agravada pelas mudanças climáticas, secas cíclicas e escassez de insumos.

A contradição dispensa lentes. Enquanto parte da produção local foi exibida em público como troféu político, milhares de famílias da mesma província vivem hoje sem garantias mínimas de alimentação.

Na ocasião, Daniel Chapo reagiu às ofertas com uma ironia que seria profética, não fosse, já nessa altura, de domínio público a triste situação que aquela província vivia e que, de resto, é transversal a todo o País.

“Pela quantidade de ofertas demonstra-se que em Gaza a segurança alimentar está garantida e que parte destas ofertas iremos canalizar para os nossos irmãos nos hospitais, cadeias, centros de acolhimento e em Cabo Delgado”, disse o Presidente da República.

A frase, que soou a sarcasmo, expõe hoje um desconforto ainda maior. Afinal, a província que se mostrava ao Presidente como celeiro do País tornou-se, poucos meses depois, exemplo vivo de insegurança alimentar.

Nas redes sociais e noutros espaços de troca de ideias, analistas e cidadãos questionam a sensibilidade política da governadora. Eleita para resolver os problemas da população, preferiu investir numa encenação de poder e abundância, em vez de canalizar recursos para mitigar as carências da sua gente.

Para muitos, a revelação oficial de que dezenas de milhares de habitantes de Gaza estão em risco de fome coloca a nu não apenas a fragilidade da produção agrícola local, mas também a prioridade que alguns dirigentes ainda dão ao show-off em detrimento do dever fundamental de servir.

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