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NA CAPITAL MOÇAMBICANA: ATROMAP preocupada com a figura do “modjeiro”

Nos últimos tempos, voltou a ganhar força em Maputo uma figura controversa no transporte público de passageiros: os chamados “modjeiros”. À margem da lei e do sistema formal, estes intermediários instalam-se em paragens e terminais, disputando passageiros, pressionando motoristas e cobradores e criando um mercado paralelo que expõe fragilidades estruturais do sector. A Associação dos Transportadores Rodoviários de Maputo (ATROMAP) alerta para situações de extorsão, desordem e até violência ligadas a esta prática.

Texto: Milton Zunguze

Quem espera transporte na capital já não lida apenas com os dois actores principais — motorista e cobrador —, mas também com este terceiro elemento. Os “modjeiros”, maioritariamente jovens, vivem de angariar passageiros para chapas e autocarros, recebendo uma percentagem por cada viatura cheia.

O fenómeno não é novo

Há anos já marcavam presença em terminais como Xiquelene, Junta, Museu e Zimpeto, mas perderam espaço com operações de fiscalização. Hoje, regressam com mais força, espalhados por quase todas as paragens ao longo das rotas, actuando como “freelancers” da intermediação. Chamam passageiros, abrem portas, empurram utentes para dentro dos carros e, não raras vezes, disputam fisicamente a clientela. Pelo serviço, recebem entre 5 e 10 meticais por viagem cheia, ou até mais, conforme o acordo com motorista ou cobrador.

 Sobrevivência à custa do vício

António, 27 anos, rosto marcado pelo álcool e roupas em desalinho, actua como modjeiro no terminal do Zimpeto. Justifica: “Não temos salário fixo, ganhamos conforme o movimento. Se um carro enche rápido, o cobrador orienta-nos [paga a comissão]. É pouco, mas é melhor do que ficar sem nada.”Assume ainda que, sem esta actividade, “talvez já estivesse no outro mundo”, revelando que parte do rendimento serve para sustentar vícios.

Passageiros divididos

Se para os modjeiros o trabalho é meio de sobrevivência, para os passageiros a presença deles divide opiniões. Muitos denunciam intimidações, desorganização nas filas e até assédio verbal.“Eles puxamnos pelo braço, quase obrigam-nos a entrar e, quando recusamos, insultamnos. Parece um mercado, não uma paragem de transporte”, queixa-se Elsa Matola, funcionária pública.

Outros, contudo, reconhecem utilidade. “Às vezes aceleram o processo. Se não fosse por eles, ficávamos muito tempo à espera”, admite Manuel Chavane, estudante de Direito.

Entre aliados e rivais

Também a relação com motoristas e cobradores é ambígua. Para alguns, são mão-de-obra que permite encher rápido o carro e aumentar viagens. Para outros, um peso desnecessário.“Exigem dinheiro mesmo sem terem feito nada. Se recusamos, criam confusão, intimidam passageiros e até danificam o carro”, denuncia um cobrador da rota Boquisso-Xipamanine.

Esquemas paralelos

Além da angariação, os modjeiros controlam filas em certos terminais, cobram lugares “reservados” e exigem pagamentos adicionais de passageiros apressados.“Cheguei a pagar 20 meticais a mais só para ter lugar rápido, porque estava atrasada para o trabalho. É dinheiro que vai directo para o modjeiro”, denuncia uma passageira no Zimpeto.

ATROMAP denuncia extorsão

Perante este cenário, o presidente da ATROMAP, Baptista Macuvele, mostra-se preocupado: “Fazem cobranças coercivas. Se o cobrador não paga, usam a força. Há relatos de modjeiros que fecham portas e impedem a saída até receberem o que pedem. É pura extorsão.”

Segundo Macuvele, também os passageiros sofrem: “Podem ser impedidos de entrar num carro porque o modjeiro decide quem deve embarcar primeiro.”

Estado ausente, problema crescente

A ATROMAP acusa o Governo de inércia: “Já alertámos para esta figura e nada foi feito. Muitos modjeiros são ex-cobradores que perderam o posto, mas hoje não acrescentam valor ao sector.”

Na visão da associação, a permanência dos modjeiros mina receitas, agrava a desorganização e fragiliza ainda mais o transporte público. “A nossa maior preocupação é que desapareçam da via pública. Não trazem benefícios, apenas problemas”, conclui Macuvele.

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