O Banco de Moçambique prossegue com o ciclo de afrouxamento monetário, reduzindo a taxa MIMO de 10,25% para 9,75% em Setembro, mantendo uma trajectória decrescente desde Janeiro de 2024, quando se situava nos 17,25%. A justificação do Comité de Política Monetária (CPMO) assenta nas perspectivas confortáveis de inflação, que se mantêm num único dígito.
Texto: Amad Canda
Contudo, a análise do economista Vasco José, da Standard Research, sugere que a eficácia destes cortes de taxas de juro na reactivação do crédito à economia está longe de ser garantida. A prime rate do sistema financeiro acompanhou a descida da MIMO, mas o crédito concedido à economia moçambicana registou um crescimento de apenas 2,9% entre Janeiro e Dezembro de 2024, passando de 241.628 para 248.619 milhões de meticais. Este aumento modesto contrasta fortemente com a redução de 26,1% na taxa MIMO e de 16,2% na prime rate no mesmo período, indicando uma significativa desconexão entre a política monetária e a sua transmissão para o financiamento real.
De acordo com a análise, a explicação para este fenómeno reside no contexto de risco. O aumento significativo do risco político, marcado por tensões eleitorais e manifestações violentas entre Outubro de 2024 e Março de 2025, justificou o comportamento cauteloso do crédito. Este ambiente levou a um congelamento das decisões de investimento de médio prazo por parte do sector privado nacional e a uma contracção da procura de crédito por parte de agentes económicos racionais, face ao quadro de incerteza.
A eficácia da política monetária mostrase, assim, altamente correlacionada com o contexto de risco, podendo as quedas nas taxas directoras não gerarem o impacto esperado no crédito, no investimento privado e na produção nacional.
Paralelamente, o Banco de Moçambique tomou medidas para enfrentar outro constrangimento chave: a limitada disponibilidade de divisas no mercado cambial. Em Janeiro de 2025, o banco central reduziu a taxa de reservas obrigatórias em moeda estrangeira de 39,5% para 29,5%, com o objectivo de estimular a liquidez em divisas. Esta medida surge na sequência de um estudo da CTA que apontava a existência de cerca de 373 milhões de Dólares norteamericanos em facturas de importação pendentes nos bancos comerciais no primeiro trimestre do ano.
Para expandir a base de oferta de divisas, a autoridade monetária aumentou em Abril a taxa de conversão das receitas de exportação de 30% para 50%. A análise conclui que a magnitude da expansão do crédito e do investimento privado dependerá, em última análise, do contexto de risco e da disponibilidade de divisas para o sector privado. Neste sentido, a materialização dos acordos de investimento entre o Governo de Moçambique e os parceiros internacionais poderá revelar-se crucial, dada a limitada evolução das exportações.