O Banco de Moçambique (BdM) prevê que a inflação anual termine 2025 em cerca de 4,9%, segundo o Relatório de Conjuntura Económica e Perspectivas de Inflação, de 30 de Setembro. A estimativa traduz uma revisão em baixa face às projecções anteriores e coloca o País numa trajectória de desaceleração de preços que, a consolidar-se, poderá ser a mais baixa registada nos últimos anos.
Texto: Dossier económico
O comportamento esperado para 2025 contrasta com a realidade recente. Em 2022, a inflação anual atingiu 7,2%, impulsionada pela escalada global dos preços de alimentos e combustíveis, agravada pela fragilidade da produção agrícola e pela dependência das importações. Já em 2023, apesar de sinais de contenção, a inflação manteve-se elevada, encerrando o ano em torno de 6,5%, pressionada por factores externos e por choques climáticos que afectaram a oferta de produtos essenciais.
No início de 2025, os preços continuaram a reflectir essa~ volatilidade, mas a partir de Março registou-se uma tendência de desaceleração, consolidada em Abril com uma deflação mensal de 0,38%, sobretudo devido à queda de preços em alimentos e bebidas não alcoólicas, que têm maior peso no índice de preços ao consumidor.
De acordo com o BdM, a trajectória descendente observada nos meses seguintes resulta de uma conjugação de políticas monetária e fiscal, associada à relativa estabilidade do metical face às principais moedas de referência, o que ajudou a conter a inflação importada. A previsão de que a inflação se mantenha abaixo de 5% no fecho do ano é vista como positiva para a economia e para o poder de compra das famílias.
Factores que explicam a desaceleração da inflação
O relatório aponta vários elementos que contribuíram para a redução da pressão sobre os preços. Entre eles, destaca-se a isenção do IVA em produtos da cesta básica, que reduziu directamente os custos de consumo em segmentos essenciais, beneficiando sobretudo famílias urbanas de baixa e média renda.
Também a redução das tarifas de portagem contribuiu para diminuir os custos de transporte de bens, com impacto nos preços finais de produtos dependentes da circulação rodoviária.
Outro factor decisivo foi a estabilidade cambial relativa do metical, que limitou o efeito da inflação importada em combustíveis, produtos industriais e alimentos. A política monetária restritiva, nomeadamente a manutenção da taxa MIMO em níveis compatíveis com o controlo da liquidez, também desempenhou papel fundamental no arrefecimento da procura interna e no reforço da confiança dos agentes económicos.
Por último, o comportamento sectorial contribuiu para o resultado: os preços de alimentos registaram uma queda temporária, enquanto serviços e bens industriais se mantiveram relativamente estáveis, ajudando a moderar o ritmo da inflação.
Segundo o relatório, esta combinação de factores sustenta a previsão de 4,9% para 2025 e confirma que o controlo de preços depende não apenas de medidas pontuais, mas também da estabilidade macroeconómica de forma mais ampla.
Cenário favorável, mas riscos persistem
Apesar das perspectivas encorajadoras, o Banco de Moçambique alerta para riscos que podem inverter a trajectória da inflação. Entre os mais relevantes, destaca-se a fragilidade fiscal: a dificuldade do Estado em mobilizar receitas para financiar o Orçamento poderá gerar pressões inflacionárias caso sejam adoptadas medidas de financiamento que aumentem a liquidez na economia.
Outro risco crucial é a vulnerabilidade climática. Secas, inundações e a variabilidade meteorológica continuam a afectar a produção agrícola, com impacto directo nos preços dos alimentos e, consequentemente, na inflação global.
O documento conclui que, embora o cenário actual seja promissor, a sustentabilidade de uma inflação baixa dependerá da manutenção da disciplina fiscal e da resiliência face a choques climáticos, garantindo que o alívio registado em 2025 não seja apenas temporário.
Se estas condições se confirmarem, Moçambique poderá iniciar 2026 com maior previsibilidade macroeconómica, criando espaço para políticas de incentivo ao investimento e ao crescimento sustentado.
E com tantas previsões animadoras, fica em aberto a questão: que impacto real terão estes números na vida do cidadão comum? A resposta poderá ser acompanhada nas próximas edições do jornal.