Moçambique continuará vulnerável aos efeitos devastadores das cheias, secas e inundações devido à falta de recursos financeiros para executar o Plano de Contingência para a época chuvosa e ciclónica 2025-2026, aprovado, recentemente, pelo Conselho de Ministros. O documento, avaliado em cerca de 14 mil milhões de meticais, apresenta um défice de financiamento de 8 mil milhões, o que poderá comprometer a capacidade de resposta do país aos fenómenos climáticos extremos que ciclicamente afectam várias regiões, incluindo a capital, Maputo.
Texto: Maximiano da Luz
O Plano de Contingência define quatro cenários de actuação. O cenário mínimo prevê menos de um milhão de pessoas afectadas, enquanto o intermédio, tido como o mais provável, aponta para entre 1,2 e 2 milhões de afectados. O cenário crítico estima até 4 milhões de pessoas atingidas, e um quarto cenário focase na recuperação e resiliência, com base na capacidade de resposta do país, e não em números específicos.
De acordo com o porta-voz do Governo, Inocêncio Impissa, “a análise das previsões climáticas e sazonais, conjugada com a leitura hidrológica, agrícola e de saúde, determinou a adopção de um plano que responde à possibilidade de ventos fortes, secas, inundações e ciclones”.
Governo confia em apoios externos
Face ao défice orçamental, o Executivo espera mobilizar fundos adicionais através de seguros paramétricos, acções antecipadas de mitigação e doações em espécie ou numerário.
“O que aconteceu é que foram desenhados diferentes cenários, e o Governo está preparado para lidar com o cenário intermédio”, explicou Impissa, durante a conferência de imprensa realizada na Presidência da República, em Maputo.
Segundo o governante, o país dispõe hoje de uma melhor capacidade de previsão meteorológica, graças aos investimentos feitos neste domínio. “Conseguimos fazer leituras antecipadas das condições climáticas, o que nos permite preparar respostas antes das chuvas chegarem”, sublinhou.
Falta de infra-estruturas limita resposta
Apesar das melhorias na monitorização, o Governo reconhece que continua sem meios suficientes para reabilitar as drenagens e infra-estruturas que permitam o rápido escoamento das águas.
“Foi aprovado este plano após várias actividades preparatórias das entidades responsáveis pela gestão do risco de desastres. Neste momento, é o melhor que podemos fazer”, afirmou o ministro da Administração Estatal e Função Pública, frisando que o foco está em salvar vidas e minimizar danos.
Prioridade passa a ser a recuperação
Impissa explicou ainda que a política do Governo mudou: a ênfase já não está apenas na resposta imediata aos desastres, mas sim na recuperação e resiliência das comunidades afectadas.
“Nos desastres, o objectivo é gerir o risco, mas queremos investir mais no restabelecimento das pessoas e das condições que lhes permitam ser mais resistentes às adversidades”, disse.
Mais de 60 distritos sob ameaça
Em Julho, o Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) alertou que pelo menos 64 dos 154 distritos do país poderão ser afectados por riscos e ameaças climáticas na próxima época chuvosa.
Com a chegada iminente das chuvas e o défice de financiamento ainda por colmatar, o país prepara-se, mais uma vez, para enfrentar uma época ciclónica marcada pela incerteza — e pela esperança de que o impacto possa ser reduzido através de prevenção, solidariedade e coordenação efectiva das respostas.


