A agricultura da África Austral entrou numa nova era de concertação e integração regional com o lançamento, em Maputo, do STOSAR II — Projecto de Apoio à Operacionalização da Política Agrícola Regional da SADC. Financiado pela União Europeia e coordenado tecnicamente pela FAO, o programa, que se estende até 2028, pretende reforçar os sistemas agro-alimentares da região, promovendo resiliência, inclusão e sustentabilidade como eixos estratégicos de actuação.
Texto: Dossier Económico
Avaliado em cerca de 10 milhões de dólares, o STOSAR II será executado nos 16 Estados-membros da SADC, com Moçambique a assumir o papel de país-piloto, consolidando a sua posição como referência regional na modernização e integração das políticas agrícolas.
A África Austral enfrenta uma das mais graves crises estruturais no domínio agro-alimentar, afectando cerca de 50 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar crónica. O STOSAR II surge como resposta integrada a este cenário, combinando políticas regionais, inovação tecnológica e gestão baseada em dados para transformar os sistemas agrícolas e garantir a segurança alimentar sustentável.
“Este é um projecto de acção estratégica que procura responder a problemas concretos como a praga da mosca-da-fruta, a doença de Panamá e a falta de dados fiáveis sobre a produção agrícola”, explicou Antónia Vaz, directora nacional de Sanidade e Biosegurança. Segundo disse, o STOSAR II representa “um instrumento prático de operacionalização da agenda agrária nacional e regional, reforçando a capacidade de resposta dos nossos países face aos desafios do sector”.
A FAO destacou o papel pioneiro de Moçambique na primeira fase do STOSAR, que permitiu formar mais de 170 técnicos agrícolas e fortalecer infra-estruturas laboratoriais e fitossanitárias em várias províncias. “Conseguimos capacitar técnicos, equipar laboratórios e combater pragas que comprometiam a produção. Agora avançamos para uma etapa de maior integração regional e fortalecimento institucional”, afirmou Cláudia Pereira, coordenadora de programas da FAO em Moçambique.
A responsável sublinhou que o STOSAR II traduz “progresso concreto — pessoas mais preparadas, instituições mais sólidas e ferramentas mais eficazes para garantir o futuro da agricultura africana”, reforçando o compromisso da FAO com a resiliência climática, a inclusão de mulheres e jovens e o crescimento sustentável.
O plano de execução do STOSAR II privilegia a eficiência produtiva, a transformação digital e a integração económica dos pequenos produtores. Em Moçambique, o foco recairá sobre a criação de sistemas digitais de informação agrícola, destinados a apoiar decisões políticas e económicas baseadas em dados concretos, bem como a promover a transparência nos fluxos de produção e comercialização.
Outra componente essencial será o reforço da sanidade vegetal e animal, com acções voltadas à prevenção e controlo de pragas e doenças transfronteiriças. Em paralelo, a promoção da nutrição equilibrada e da segurança alimentar será orientada para o aumento da resiliência climática e do valor acrescentado local.
Durante o workshop de lançamento, os representantes da FAO, da SADC, da União Europeia e do Governo de Moçambique definiram as prioridades nacionais alinhadas com as metas regionais, acordando a elaboração de um plano quadrienal de trabalho, com metas mensuráveis, coordenação interinstitucional reforçada e um mecanismo de monitorização e avaliação que assegure a execução efectiva das acções até 2028.
O Governo moçambicano reafirmou o compromisso de garantir que pelo menos metade dos beneficiários directos sejam mulheres, num esforço deliberado de promoção da equidade e da inclusão socioeconómica no campo. “A inclusão e a sustentabilidade são pilares centrais desta nova fase. Queremos políticas agrícolas que resistam ao tempo e às mudanças climáticas, e que sejam capazes de gerar prosperidade duradoura”, destacou Antónia Vaz.
Com esta nova etapa, Moçambique afirma-se como epicentro da cooperação agrícola da África Austral, num momento em que a região enfrenta choques climáticos, instabilidade nos preços internacionais e desigualdades estruturais na produção. Ao conjugar financiamento europeu, coordenação técnica da FAO e liderança política moçambicana, o STOSAR II assumese como modelo de cooperação africana baseada em resultados, conhecimento e sustentabilidade — mais do que um programa de assistência, trata-se de uma estratégia de desenvolvimento que aposta em integração regional, inovação agrícola e soberania alimentar.


