O Secretário de Estado da Indústria e Comércio, António Grispos, afirmou que a verdadeira riqueza de África não reside apenas nos seus vastos recursos naturais, mas sobretudo “na capacidade de os transformar em desenvolvimento real e partilhado”. A declaração foi feita durante a 5.ª edição do Fórum de Negócios e Economia Turquia–África (TABEF 2025), que decorreu recentemente, em Istambul, Turquia — um encontro que, segundo a AIM, reuniu líderes políticos, empresários e especialistas de todo o continente para debater o futuro económico e energético africano.
Texto: Anastácio Chirrute em Inhambane
Num discurso marcado por realismo e ambição, o governante moçambicano defendeu que o crescimento do continente depende da conjugação entre industrialização, inclusão social e inovação tecnológica. “O maior desafio africano não é a falta de recursos, mas sim a capacidade de os transformar em valor económico e progresso social”, afirmou Grispos, sublinhando que “as parcerias estratégicas devem ter como meta o desenvolvimento sustentável e não a dependência”.
O dirigente recordou que África detém 60% das terras aráveis do mundo, além de enormes reservas de minerais, gás e energia renovável. “A questão não é se somos ricos, mas se somos capazes de transformar essa riqueza em oportunidades concretas para os nossos povos”, observou. À margem do painel “Energia e Mineração para um Crescimento Sustentável de África”, Grispos insistiu que o continente precisa romper com o modelo histórico de exportação de matérias-primas e importação de produtos acabados — um ciclo que perpetua desigualdades e impede a industrialização.
De acordo com o Secretário de Estado, “é tempo de valorizar localmente o que é nosso”. Para isso, defendeu o fortalecimento das cadeias de valor regionais e a adopção de políticas que privilegiem a produção e o consumo africanos. “Temos de colocar a ciência, a tecnologia e a inovação ao serviço da transformação estrutural da nossa economia”, disse, apelando à criação de redes industriais capazes de gerar emprego e retenção de conhecimento no continente.
Grispos chamou também a atenção para o défice energético crónico que afecta mais de 600 milhões de africanos. “Há jovens que não podem estudar à noite, agricultores que perdem as colheitas e pequenas empresas que não conseguem crescer. Isso não é apenas um número. É um grito de urgência”, lamentou.
Para enfrentar essa realidade, o governante propôs um modelo de transição energética equilibrado, que combine o gás natural como fonte de transição com investimentos maciços em energias renováveis. “Em Moçambique, estamos a conectar comunidades rurais às redes modernas de energia. Queremos um sistema energético inclusivo, sustentável e que impulsione a industrialização nacional”, afirmou.
Segundo a AIM, o dirigente destacou que o sector mineiro africano é, ao mesmo tempo, uma das maiores oportunidades e um dos maiores riscos de desperdício. África possui cerca de 30% das reservas mundiais de minerais essenciais à transição energética global — como o lítio, o grafite e o cobalto — e, para aproveitar este potencial, “é fundamental garantir transferência de tecnologia, governação responsável e parcerias verdadeiras”.
“O futuro está na transformação local, na inovação e na criação de empregos em solo africano”, afirmou Grispos, advertindo que o continente deve abandonar o modelo de exploração extractiva que apenas beneficia os mercados externos. “Precisamos de investidores que fiquem, que construam connosco, que criem indústrias, centros de pesquisa e valor partilhado. Que façam parte do crescimento africano e não apenas da extracção”, frisou.
O Secretário de Estado sublinhou ainda o papel estratégico da Zona de Livre Comércio Continental Africana (AfCFTA) como motor da integração económica e da criação de um mercado interno robusto, com 1,4 mil milhões de consumidores e um Produto Interno Bruto combinado superior a 3 biliões de dólares. “É neste contexto que devemos desenvolver cadeias de valor energéticas e mineiras integradas e competitivas, que reforcem a soberania económica de África”, acrescentou.
O Fórum de Negócios e Economia Turquia–África, promovido pelo Conselho de Relações Económicas Externas da Turquia (DEIK), tem vindo a afirmar-se como uma das principais plataformas de diálogo económico entre Ancara e o continente africano. A presença de Moçambique na edição de 2025 reforça o posicionamento do país como parceiro activo nas discussões globais sobre industrialização, transição energética e desenvolvimento sustentável em África.


