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ÉPOCA CHUVOSA E PARRUQUE: “Não podemos só ficar a assistir e lamentar”

– Edil acampou sete dias em Nkobe e anunciou projectos estruturantes

O presidente do Conselho Municipal da Cidade da Matola, Júlio José Parruque, acampou durante sete dias no bairro de Nkobe como parte de uma ofensiva para acelerar respostas às inundações que afectam aquele ponto. A acção incluiu visitas a zonas de risco, a demolição de duas habitações instaladas em corredores naturais de escoamento de águas pluviais e o anúncio de investimentos em grandes obras de drenagem, ao mesmo tempo que convoca a população para um processo de diálogo e reorganização urbana.

Texto: Edson Mumbai

Nkobe é descrito pelo edil como “a grande bacia da Matola”, figurando entre os pontos mais críticos quando chega a época chuvosa. O fenómeno repetese anualmente e agrava-se desde 2014, segundo relatos de moradores. O município decidiu combater o desafio de conjugar medidas imediatas de mitigação – reassentamento e limpeza de corredores de água – com um projecto maior e de longo prazo para a gestão integrada das águas pluviais. 

A proposta do edil procura substituir o ciclo de promessas e acolhimentos temporários adoptado anteriormente por intervenções estruturantes e participação comunitária. “Chega  de deixar as coisas para amanhã. O que nos interessa hoje é devolver a dignidade aos Matolenses e reforçar as formas e critérios de gestão da nossa cidade para que funcione como uma cidade plena que precisa de gerir as águas das chuvas, que precisa de gerir o seu lixo, a mobilidade, a circulação”.  

Parruque instalou-se em Nkobe por sete dias para acompanhar directamente o trabalho de campo. Durante esse período, foram demolidas duas casas que ocupavam “corredores que a natureza destinou para o amortecimento e gestão das águas pluviais”. A medida, segundo o município, visa restabelecer a função natural dessas áreas e reduzir o risco de inundações nas próximas épocas de chuva. 

Até ao momento, o périplo municipal por Nkobe escalou os quarteirões 1, 2, 3, 13, 14 e 15, onde as populações vivem em áreas de risco. O balanço do município e relatos locais apontam para cerca de 1000 famílias que necessitam de reassentamento. Muitos residentes descrevem sofrimentos repetidos já há mais de uma década. “As cheias começaram a nos afectar em 2014. Desde essa altura até agora ainda não nos deram solução sobre como vamos viver. Prometem que vão nos dar espaço, às vezes, ou vão construir valas de drenagem, mas até agora nada”, revelou um residente.  

Diante do que testemunhou e ouviu, Parruque fez questão de afastar a lógica de procurar culpados e centrar-se na resposta prática e política. “Hoje não nos interessa procurar culpados. Quem chegou primeiro, se foram as famílias que tomaram as áreas, se foram construções desordenadas e ilegais. O que nos interessa hoje é devolver a dignidade aos matolenses e reforçar as formas e critérios de gestão da nossa cidade para que funcionemos como uma cidade plena que precisa de gerir as águas das chuvas, que precisa de gerir o seu lixo, a mobilidade, a circulação.”

Já há projectos em andamento, garante o edil

O presidente do município anunciou a mobilização de fundos e a abertura de concurso para a construção de uma grande vala de drenagem entre Matlemele e Matola-Gare, obra que, segundo o município, já tem empreiteiro seleccionado e tocará parte do bairro de Nkobe. O projecto integra-se numa visão mais ampla, referida pelo edil como “projecto de gestão integrada das águas pluviais da Matola” e nas futuras “autoestradas das águas”, redes de drenagem concebidas para escoar grandes volumes pluviais e reduzir pontos de acumulação.  

Além disso, o município aponta para intervenções em curso no bairro de Fomento como inspiração, obra herdada do mandato anterior e considerada estratégica por ser uma das áreas onde confluem linhas de água. O objectivo prático é criar válvulas e canais suficientes para que as águas que hoje inundam Nkobe e outros bairros tenham saídas seguras e planeadas.

Diálogo em vez de confronto

O tom do edil nesta ofensiva tem sido apelativo ao diálogo. Parruque defende que o ordenamento territorial seja conduzido sem confrontos desnecessários com as comunidades e com ênfase em negociações, comunicação e acções pacíficas. “É bom quando removemos os obstáculos, os edifícios, principalmente as residências, de forma pacífica”, disse, apelando à participação dos munícipes no processo de reorganização da cidade.

O discurso de Júlio Parruque combina responsabilização política – o edil diz-se disponível a assumir papéis activos – com um convite à coesão social na Matola.

Críticas e riscos não resolvidos

Apesar das promessas e da mobilização temporária, permanecem dúvidas sobre prazos, financiamento sustentável e políticas de reassentamento. Moradores queixam-se de promessas anteriores (valas de drenagem, reassentamentos) não cumpridas, e há o risco de que acções de curto prazo, como demolições pontuais, provoquem deslocações sem soluções duradouras.

A experiência desde 2014 reforça a desconfiança, já que muitos concluem que ser “bem cuidado” em centros de acolhimento não substitui uma solução definitiva para habitação e segurança.

Próximos passos e perspectivas

O município informou que, depois de Nkobe, a ofensiva irá aproximar-se de outros bairros críticos, com menção expressa ao bairro da Liberdade. Do ponto de vista administrativo, o caminho passa pela execução das valas anunciadas, reforço da fiscalização urbanística e um plano de reassentamento digno para as 1000 famílias identificadas. Mas a centralidade da questão continua a ser a de transformar a mobilização de curto prazo em políticas públicas sustentadas e transparentes.  

Com a época chuvosa já em curso e com tendência a agravar-se, Júlio Parruque aposta num modelo de intervenção que combina presença no terreno, obras de drenagem e apelo ao diálogo comunitário. A mudança de discurso de lamento anual para acção concertada pode marcar um ponto de viragem se for acompanhada por financiamentos firmes, critérios técnicos e claros.

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