Volvido um ano após as conturbadas sétimas eleições gerais e nove meses depois de Daniel Chapo assumir a liderança da Frelimo, Dossiers & Factos auscultou membros do partido para perceber o rumo que a organização está a seguir. A percepção dominante é a de que, com o passar do tempo, e apesar de o tumultuoso processo eleitoral do ano passado ter mostrado necessidade de rápida reinvenção para recuperar o carinho popular, o “partido do batuque e maçaroca” viu apagarem-se as luzes que tradicionalmente “iluminavam a casa”, surgindo no seu lugar “lamparinas ou velas”, reduzindo a sua visibilidade em benefício de uma oposição cada vez mais presente.
Texto: Mudumela Macassane
Fontes internas defendem que, apesar de a Frelimo continuar a ser o partido com maior número de membros no País, existem, a todos os níveis, factores que desmobilizam a sua base militante. No centro das críticas surge a ausência de uma democracia interna transparente, um problema que, segundo as fontes, se agravou nos últimos 15 anos.
Actualmente, entendem, não existe no partido um modelo democrático profundo que satisfaça os seus membros. Acreditam que, no dia em que os cerca de cinco milhões de militantes sentirem que o partido adoptou um sistema verdadeiramente democrático e menos manipulável, o cenário interno poderá mudar, abrindo espaço para novas dinâmicas.
As fontes sublinham que, quando a democracia interna é frágil e as regras não são claras, a militância acaba subjugada aos interesses de um grupo restrito. Outro elemento desmotivador é o facto de o partido ter deixado de premiar ou reconhecer os seus militantes. Embora admitam que a falta de democracia interna não é nova, recordam que, no passado, sobretudo na era de Armando Guebuza, existia um maior reconhecimento da militância.
Criticam também discursos que apelam ao isolamento de determinadas figuras sob a alegação de que “já comeram”. Esta postura, afirmam, leva várias personalidades influentes, incluindo actuais membros da Comissão Política, a afastarem-se da militância activa, o que resulta em prejuízos para o partido, uma vez que cada figura tem a sua própria base de seguidores.
Neste contexto, mencionam que muitos quadros com experiência significativa, e que ainda poderiam contribuir para o partido, optam por permanecer recolhidos, chegando mesmo, de forma silenciosa, a boicotar a sua presença no Parlamento. Tudo isto, sustentam, decorre da ausência de uma política eficaz de gestão dos quadros.
Fragilidade dos membros da Comissão Política também gera preocupação
As fontes apontam ainda o dedo às acções dos órgãos sociais, com destaque para a Comissão Política. Questionam como é possível proclamar que a Frelimo é o partido que governa o País quando muitos dos seus membros consideram que parte dos seus dirigentes seniores revela fragilidades ou está mais orientada para interesses pessoais do que para os do partido ou do País.
Circulam no seio do partido críticas de que Alberto Chipande está velho e “gagá”, que Comiche e Paunde estão igualmente ultrapassados e deveriam ir para a reforma; que Chakil Aboobakar é “fraco” para a responsabilidade que assume; que Tomaz Salomão e Alcinda de Abreu estão “fora do prazo”, embora Salomão ainda se destaque pelo seu bom português. Referem que Celso Correia “não ganhou as eleições” e, por isso, perdeu poder, enquanto Francisco Mucanheia está mais focado na sua missão de Conselheiro do Presidente da República para os Assuntos Inter-Institucionais ; que Verónica Macamo e Esperança Bias foram “encostadas”; que Margarida Talapa se mantém na Assembleia da República, mas com agenda própria; e que Amélia Muendane, Damião José e Nyeleti Mondlane e Ana Comoana pouco intervêm.
Em suma, há uma clara ideia de que falta brilho entre os membros do órgão mais importante do partido no intervalo entre as sessões do Comité Central, a avaliar pela sua dinâmica (ou falta dela).
Segundo as fontes, este retrato é amplamente partilhado entre os membros e demonstra que algo não está bem. Apontam ainda que o próprio presidente do partido parece confirmar esse sentimento ao integrar no seu Governo um número reduzido de membros da Comissão Política, o que, se fosse diferente, daria maior peso ao Executivo.
Um conselho deixado ao presidente do partido
Questionadas sobre orientações a deixar ao presidente do partido, as fontes defendem a necessidade de um rejuvenescimento urgente e de uma nova dinâmica de democracia interna que devolva vitalidade à Frelimo.
Consideram que, se existissem eleições internas verdadeiramente abertas, permitindo que os quatro ou cinco milhões de membros participassem activamente e votassem, o partido poderia ganhar maior popularidade. Defendem, assim, a necessidade de repensar um novo modelo democrático, lembrando que existem várias alternativas.
Uma das fontes relatou, em tom de desabafo, que um partido que se assume democrático não pode permitir que, numa reunião destinada à eleição de candidatos, o presidente entre na sala e retire do bolso a lista de nomes. Acredita que actos deste tipo criam feridas profundas e duradouras na militância. Acrescenta ainda que várias figuras sonantes do partido estão frustradas por terem sido impedidas de se candidatarem, apesar de terem manifestado publicamente esse desejo.
Directivas internas alimentam rixas dentro da Frelimo
As fontes afirmam que as principais rixas internas decorrem das directivas relativas às eleições internas a vários níveis, afectando não apenas o topo da estrutura. Como exemplo, mencionam o caso de Samora Machel Júnior, impedido de concorrer à presidência do Município de Maputo, situação da qual resultou o nascimento do partido PODEMOS.




