A falta de oportunidades de emprego nas instituições estatais e privadas em Moçambique está a levar os jovens da província de Inhambane a reinventarem-se, dedicandose a pequenos negócios como forma de garantir o seu sustento e o das suas famílias. Venda de roupa usada, comercialização de lanho, serralharia, carpintaria, salões de beleza e oficinas mecânicas estão entre as várias opções que os jovens encontraram para fazer face aos seus desafios.
Texto: Anastácio Chirrute, em Inhambane
Conseguir uma vaga de emprego em instituições públicas ou privadas, a nível do País ou mesmo na província de Inhambane, em particular, tornouse algo quase impossível nos últimos tempos. Ainda assim, há jovens que não perdem a esperança e tentam a sorte, mesmo sabendo que as probabilidades são mínimas.
Estas vagas, que raramente são mais do que duas quando abertas, vêm acompanhadas de uma série de requisitos cujo tratamento exige muito dinheiro, incluindo deslocações frequentes. Após a submissão da candidatura, segue-se a decepção: a instituição abriu apenas uma vaga para a qual concorreram mais de dois mil candidatos. Para agravar a situação, muitas vezes o lugar é ocupado por um filho ou familiar de um dirigente, que apenas precisava de formalizar a sua entrada através de um concurso público.
Como se isso não bastasse, os candidatos não admitidos nunca vêem o dinheiro gasto no tratamento da documentação reembolsado – um valor que pode ultrapassar os mil meticais por pessoa. O atestado médico, o certificado de serviço militar e o registo criminal estão entre os documentos mais onerosos, mas que o Estado considera prioritários.
A busca por alternativas
Perante as expectativas frustradas, alguns jovens acabam por cair em desânimo, depressão e desespero. O sonho de um emprego digno esfuma se, não correspondendo à realidade. Alguns enveredam por caminhos errados, como o mundo do crime, a prostituição ou o consumo de álcool e drogas, como forma de esquecer os problemas.
Outros, contudo, tentam descobrir vias que lhes possam garantir sucesso, e o auto-emprego tem-se revelado a melhor solução. Actualmente, é possível encontrar cada vez mais jovens a dedicarem-se a pequenos negócios como forma de ganhar a vida. A venda de roupa usada, vulgarmente conhecida como calamidade, a carpintaria, e serralharia, os salões de beleza e as oficinas mecânicas estão entre as várias actividades que os jovens abraçaram para superar as dificuldades.
A nossa equipa de reportagem foi à rua conversar com alguns jovens empreendedores para perceber as razões que os levaram a apostar neste tipo de trabalho. Todos foram unânimes em afirmar que escolheram este caminho devido à falta de emprego.
Jonas Vilanculos tem 24 anos e vive no distrito de Vilankulo. Terminou há dois anos a sua formação técnicoprofissional em Electricidade. Conta que tentou concorrer a vagas de emprego em quase todas as instituições, mas a resposta foi sempre negativa. Cansado de sofrer, decidiu pedir emprestado algum dinheiro ao pai, adquiriu as suas ferramentas de trabalho e começou a pôr em prática os conhecimentos adquiridos durante a formação.
Hoje, é um electricista reconhecido no seu bairro, onde todos o contactam para reparar avarias, e afirma estar feliz com o seu novo ofício.
“Estou muito feliz assim, porque não preciso mais andar atrás de reprografias para tratar de documentos, nem de gastar dinheiro com registo criminal, atestado médico e outros documentos. Agora sou dono do meu negócio, sou eu que determino quanto quero ganhar hoje. No início foi sempre difícil, mas depois consegui. Aqui no meu bairro não há um dia em que não receba uma chamada de alguém que precise dos meus serviços”, conta, satisfeito.
Quem também está feliz com a sua nova profissão é Ângela da Graça, de apenas 22 anos. Recentemente concluiu a sua formação em Saúde Materno-Infantil num instituto privado da cidade da Maxixe. Enquanto aguarda por uma melhor oportunidade de emprego, as ruas da cidade são o seu local de trabalho.
Com um saco cheio de roupa usada, vulgo calamidade, deambula à procura de compradores – uma tarefa que exige muita coragem e paciência, pois, para além de se precaver do trânsito, tem de estar atenta aos polícias municipais e fazer tudo para que a sua mercadoria não seja apreendida.
“Opa, não é fácil, mas estamos aqui a lutar todos os dias. Já perdi a conta das vezes que os polícias municipais tiraram-me a roupa porque me apanharam a vender na cidade. Não temos outra coisa a fazer, este é o meu ganha-pão.”
Délcio Joaquim veio da Zambézia para a província de Inhambane à procura de emprego. Andou por todo o lado, sem sucesso, e passou por várias dificuldades até que um dia decidiu não cruzar mais os braços. Enfrentando o preconceito e a vergonha, iniciou um negócio de venda de lanho. A sua banca é um carrinho de mão que enche de produtos e percorre as ruas da cidade.
“O dinheiro que ganho não é muito, mas chega para comprar comida em casa. Às vezes, consigo mandar alguma coisa para a minha família, que está em Quelimane. O meu sonho é juntar algum dinheiro para poder triplicar o meu negócio”.
Crescimento lento, mas sustentável
Enquanto uns percorrem as ruas, há quem tenha conseguido montar uma pequena empresa à sombra de uma árvore, empregando também outros jovens que se encontravam na mesma situação. São os casos de Albino Massingue e Teresa Marrengula, mecânico e cabeleireira, respectivamente. Ambos são exemplos de resiliência e dedicação, provando ao mundo que, mesmo perante as dificuldades, é possível realizar os seus sonhos.
“Trabalho eu e mais quatro ajudantes. Aqui fabricamos várias coisas, como fogões a carvão, portões, grades, entre outros, que depois vendemos no mercado local. Com o dinheiro, conseguimos comprar o que precisamos. Eu, por exemplo, estou a construir a minha própria casa, graças a este emprego”, disse Albino Massingue.
Estes são exemplos de jovens que, mesmo depois de esgotadas todas as expectativas de emprego nas instituições públicas e privadas, nunca cruzaram os braços. Decidiram dar a volta por cima, apostando no autoemprego. Hoje são motivo de orgulho para a província de Inhambane e para Moçambique em geral.



