Em entrevista exclusiva ao Dossiers & Factos, à margem da sua visita de trabalho à província de Inhambane, o secretário-geral da Organização da Juventude Moçambicana (OJM) – braço juvenil da FRELIMO -, Constantino André, defendeu a necessidade de as autoridades competentes encontrarem alternativas sustentáveis, viáveis e acessíveis para que os jovens possam ter acesso a terra infra-estruturada. Segundo ele, muitos jovens têm vontade, capacidades e sonham em construir a sua habitação, mas não o conseguem devido à falta de recursos. André aproveitou a ocasião para felicitar os membros da organização pela resiliência e por, alegadamente, se terem distanciado de actos de vandalismo e ódio durante as manifestações pós-eleitorais. De resto, este líder juvenil sublinhou que a agremiação que dirige está comprometida com a agenda de desenvolvimento do País.
Texto: Anastácio Chirrute, em Inhambane
Dossiers e Factos (D&F): O senhor SecretárioGeral está em Inhambane, tendo trabalhado nos distritos de Massinga, Morrumbene e na cidade de Inhambane. Qual é o objectivo desta deslocação?
Constantino André (CA): Estamos aqui para trazer uma mensagem de esperança ao povo moçambicano e dar boas novas sobre os projectos de financiamento aprovados pelo nosso Governo, através do Presidente da República, no âmbito do manifesto eleitoral convertido em Plano Quinquenal. Referimo-nos ao Fundo de Apoio a Iniciativas Juvenis, FDEL e ao Fundo de Garantia Mútua. Por outro lado, o País está envolvido no diálogo político-inclusivo, onde também deixámos a mensagem da juventude, para que esta seja um actor preponderante para o sucesso deste processo. Temos visto jovens envolvidos em actos que perturbam a ordem pública, a tranquilidade, a paz e o desenvolvimento.
D&F: Acredita que os jovens conseguirão ultrapassar as suas diferenças e contribuir para o avanço de Moçambique?
CA: Penso que sim. Também trazemos uma mensagem sobre o papel que os jovens da OJM devem desempenhar para alcançar a tão desejada independência económica. Os jovens devem resgatar os valores morais da sociedade. Isso significa distanciarem-se de práticas que atentam contra a qualidade do ensino, como o uso de cábulas ou a compra de monografias e certificados. No trabalho, é preciso evitar a corrupção e o mau atendimento. A juventude tem um papel central na preservação dos valores que sempre nortearam Moçambique, mas que, a dado momento, se foram perdendo. Os jovens, como filhos, devem respeitar os pais e lutar d ontra o consumo de álcool nas escolas.
D&F: Como avalia a saúde da OJM actualmente?
CA: A nossa OJM está muito saudável e rejuvenescida. Recentemente, realizámos a nossa Conferência Nacional, que começou nos núcleos de base. Revitalizámos os nossos órgãos, desde os núcleos, círculos, zonas, distritos, localidades, províncias até ao nível central, o que culminou com a realização das nossas eleições. Temos uma OJM rejuvenescida, fortalecida e firme na agenda de continuidade para fazer Moçambique crescer.
D&F: Houve registo de saída de jovens da OJM para apoiarem outros partidos. Foi feito algum trabalho para os convencer a voltar?
CA: A maioria dos jovens que desertou e se filiou noutras formações políticas já regressou. Estamos num xadrez político em que a democracia deve ser o nosso maior fundamento. Aproveitamos para apelar a todos que queiram entrar no jogo democrático que respeitem os seus valores: tolerância, concórdia, respeito mútuo e a responsabilidade de cumprir e fazer cumprir as leis e as instituições do Estado. Como puderam ver, houve jovens instrumentalizados para fins obscuros, com discursos de ódio e hostilização de quem pensa diferente, o que representa retrocessos significativos no processo democrático.
D&F: Em que condições encontrou os jovens de Inhambane?
CA: Encontramos jovens bastante entusiasmados com o desenvolvimento, mas também à procura de oportunidades para pôr em prática o que aprenderam e gerar renda. É uma juventude inspirada, com vontade de trabalhar, que merece o meu respeito e se envolve em práticas positivas para construir Moçambique. Tive oportunidade de visitar alguns pontos da cidade de Inhambane e de Morrumbene, onde encontrei jovens com necessidades que exigem atenção especial, mas que, mesmo assim, se envolvem no processo de desenvolvimento. Em Massinga, visitámos jovens empreendedores e a palavra comum a todos é o entusiasmo e a crença de que cada um pode fazer a diferença. Há desafios, e a OJM está aqui para lutar, lado a lado, com os jovens para os ultrapassar.
D&F: O acesso à habitação continua a ser um calcanhar de Aquiles para os jovens. Que propostas tem para reverter este cenário?
CA: A minha visão converge com a do Presidente da República: a juventude precisa de ter acesso a terra infra-estruturada. Há jovens com vontade, capacidades e sonhos de construir um certo tipo de habitação, mas é necessário escolher o modelo de acordo com os seus recursos. Já interagimos várias vezes com as autoridades responsáveis pelo Fundo de Fomento à Habitação, no sentido de encontrar alternativas sustentáveis, viáveis e acessíveis para que os jovens possam ter a sua sonhada habitação.