O político e presidente do partido Ecologista, João Massango, está a ser considerado um autêntico “Judas” por alegadamente ter traído a Sociedade Cívica de Moçambique (MCM), grupo coligado à formação política que dirige para concorrer às eleições autárquicas de 11 de Outubro próximo. Crítico ferrenho ao regime, Massango surpreendeu meio mundo quando apareceu na televisão a manifestar o seu apoio ao Movimento Democrático de Moçambique (MDM). Massango, segundo o presidente do MCM, Carlos Tembe, tomou a decisão de forma unilateral e na clandestinidade, traindo o memorando de entendimento rubricado entre aquela agremiação e o partido Ecologista.
Texto: Benety Matongue
Em entrevista ao Dossiers & Factos, o politico e presidente do MCM, Carlos Tembe, mostra-se indignado com o presidente do Partido Ecologista, João Massango, a quem acusa de traidor e de se ter deixado levar por interesses egoístas e pessoais para se bandear para o Movimento Democrático de Moçambique (MDM). Carlos Tembe começa por clarificar que não é membro do Partido Ecologista, mas sim houve um memorando de entendimento entre a agremiação que dirige e aquela formação política para fins eleitorais. Acompanhemos nas linhas que se seguem as revelações bombásticas que este político faz.
Dossiers & Factos (D&F): Como é que recebeu o anúncio de João Massango sobre o apoio ao Movimento Democrático de Moçambique (MDM)?
Carlos Tembe (CT): Com muita tristeza e decepção, pois apanhou-nos de surpresa. Foi uma decisão à revelia e unilateral. Tínhamos um memorando de entendimento de união de sinergias com vista à nossa participação nas próximas eleições Autárquicas.
D&F: Antes de anunciar publicamente a sua intenção de apoiar o MDM, não houve uma concertação?
CT: Não houve concertação nem comunicação prévia. Ficamos surpreendidos pelos vídeos partilhados através das redes sociais e pela televisão.
(D&F): E depois do anúncio, houve algum tipo de explicação sobre os motivos que o levaram a tomar esta decisão sem informar?
CT: Infelizmente não. Liguei várias vezes para ele (Massango), e não atendeu às minhas chamadas. Isto coincidiu com a nossa notificação pela Comissão Nacional de Eleições para procedermos ao levantamento do documento de aprovação da nossa inscrição para as eleições de Outubro próximo. Liguei e enviei mensagens, mas não atendeu e nem retornou.
(D&F): Até hoje ainda não retornou as chamadas e mensagens?
CT: Há dias ligou a exigir o carimbo do Partido e processo de algumas pessoas mobilizadas para apoiar o movimento nas cidades de Maputo e Matola. Entregamos. Tentei marcar um encontro para discutirmos o assunto com os membros, alegou que estava de viagem ao exterior. Depois ficamos a saber que ele submeteu uma carta à CNE a desistir de concorrer nas Autárquicas de Outubro próximo.
(D&F): Dada a situação, como é que fica a situação da coligação, visto que estamos próximos da corrida eleitoral?
CT: É uma situação complicada. Já tínhamos avançado e Massango traiu o SCM. Massango traiu-nos. Houve uma tentativa de destruir a nossa candidatura. Já estávamos preparados para concorrer nas cidades de Maputo, Matola, Matola Rio e nas vilas de Marracuene e Boane.
(D&F): Na vossa opinião, o que terá movido João Massango a enveredar por este caminho?
CT: Acredito que foi aliciado, tudo com o único objectivo de dispersar o voto a favor do MDM. E movido por interesses egoístas e pessoais preferiu trair a confiança que nele depositámos.
(D&F): Até que ponto esta atitude do Massango prejudicou as pretensões eleitoralistas do grupo?
CT: Em grande medida, visto que já tínhamos os processos já concluídos, uma vez que tenho uma longa experiência na vida autárquica desde 2018. Se não tivesse havido esta traição, teríamos submetido a nossa candidatura na primeira semana. Fizemos muito investimento em dinheiro e tempo e tudo foi sabotado pelos interesses egoístas do Massango. Veja que para concorrer em Maputo e Matola tivemos que mobilizar a assinatura de 300 a 400 pessoas.
“Os que tentaram destruir a nossa candidatura estão aflitos”
(D&F): E, neste momento, que futuro pode-se esperar para a vossa candidatura?
CT: Primeiro, posso dizer que os que tentaram sabotar a nossa candidatura estão aflitos porque acreditaram que íamos desistir, mas se enganaram, estamos prontos para concorrer.
(D&F): Diz que os que tentaram sabotar-vos estão aflitos. Pode explicar?
CT: Há dias, recebi uma chamada do Partido Ecologista a solicitar um encontro. Não sei o que ainda tem para falar comigo. Para mim isto é sinal de aflição.
(D&F): Olhando para o atraso que esta situação causou, o que estão a fazer para recuperar o tempo perdido de modo a participar nos pleitos que se avizinham?
CT: Felizmente, uma organização política que acompanhou a situação, falo do PODEMOS, apercebeu-se do nosso potencial e convidou-nos para firmar uma parceria eleitoral para a cidade de Maputo.
(D&F): Em que consiste o acordo a ser firmado com este partido político?
CT- As linhas que irão nortear o acordo serão anunciadas pelo Presidente do partido, Albino Forquilha. Mas posso avançar que recebi a proposta para ser o cabeça-de-lista.
(D&F): E para o caso da Matola, quais são os planos?
CT- Temos o nosso jovem Ivandro Massingue, que também irá concorrer através de um acordo de cooperação eleitoral com a ACADE. Para dizer que ainda estamos firmes.
(D&F): Como olha para a atitude do Massango e que impactos políticos traz, principalmente no que respeita à postura da oposição?
CT: É lamentável e, de certa forma, fragiliza a oposição. Era uma pessoa respeitada pelos seus posicionamentos face à má governação, mas, infelizmente, demostrou que não está interessado em defender os interesses colectivos, mas sim, pessoais.
(D&F): Neste cenário, que tipo de oposição teremos nas próximas eleições.
CT: Acedido que as eleições serão renhidas e delas poderá emergir uma nova geração de políticos e saturados com a forma como o país vem sendo governado. Entretanto, precisamos de ter lideranças políticas menos egoístas, cuja actuação visa salvaguardar interesses do povo e não pessoais. Só para terminar, deixe-me observar que uma corrida em que há cerca de 23 formações políticas e organizações a concorrer, a oposição vai enfraquecida porque há riscos de dispersão de votos e isso só irá beneficiar o partido no poder.