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BRICS passam a controlar 45% da produção do petróleo no mundo

A 15ª Cimeira dos BRICS, que decorreu em Johannesburg de 22 a 24 de Agosto corrente, teve como grande novidade a abertura de portas para a adesão de seis novos membros, o que se deverá concretizar em Janeiro de 2024. Entre os novos integrantes, o destaque vai para Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Irão, que figuram na lista dos 10 maiores produtores de petróleo, o que leva a que o bloco passe a controlar 45% da produção mundial deste recursos energético e 40% do gás.

Texto: Amad Canda

A nova ordem mundial multipolar parece avançar de forma imparável e, na semana passada, deu importantes avanços na cidade sul-africana de Johannesburg, que acolheu a 15ª Reunião dos BRICS. O bloco chegou à terra do rand tendo apenas Brasil, Rússia, China, Índia e a anfitriã África do Sul como membros, mas saiu com a certeza de que, a partir de Janeiro, contará com Argentina, Arábia Saudita, Egipto, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Irão.

A escolha destes seis países dentre os mais de 22 que formalizaram o pedido de adesão chama atenção pelo facto de três deles pontificarem entre os 10 maiores produtores do petróleo no mundo, nomeadamente Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Irão. Estes juntam-se aos co-fundadores Rússia, China e Brasil, que também fazem parte do top 10.

Vários sites internacionais especializados já dão conta de que, com a actual composição, os BRICS terão sob seu controlo perto da metade (45%) da produção mundial deste recurso que é absolutamente determinante na economia mundial, para além de 40% do gás natural.

 

A queda do “mundo civilizado” e ascensão do “terceiro mundo”

Com mais de 40% da população mundial, o bloco BRICS vem crescendo de forma exponencial, colocando em causa a hegemonia do G7 – Estados Unidos da América (EUA), Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão e Reino Unido – pontas-de-lança do autodenominado “mundo civilizado”.

Basta notar que, em 1995 o G7 representava 44.9% do Produto Interno Bruto (PIB) em paridade de poder de compra, contra 16.9% dos BRICS. Em 2010, o G7 caía para 34.3% e os BRICS chegavam a 26.6%. Já em 2023, os BRICS consumaram a reviravolta, tendo subido para 32.1%, enquanto o G7 caiu para 29.9%. Os dados são do Fundo Monetário Internacional – instituição controlada pelo ocidente – e têm em conta apenas os tradicionais dos BRICS.

O presidente brasileiro, um dos mais ferrenhos combatentes pela multipolaridade, celebrou efusivamente o crescimento do bloco de que seu país é fundador.

“O BRICS já ultrapassou o G7, e responde por 32% do PIB mundial em paridade do poder de compra. As projecções indicam que os mercados emergentes e em desenvolvimento apresentarão maior índice de crescimento nos próximos anos, previsto para 4% neste ano e no próximo, segundo o FMI”, assinalou Lula da Silva, nas redes sociais, ainda antes de sublinhar que a “reunião do BRICS é das mais importantes de que já participei”.

Lula ainda sublinhou que o dinamismo da economia está no Sul Global – antes conhecido como “terceiro mundo” -, e o BRICS é sua força motriz.

 

Ganhos económicos e geopolíticos

Os ganhos económicos resultantes da admissão dos seis novos membros nos BRICS são por demais evidentes. O controlo sobre os recursos energéticos afigura-se um passo importante para o processo de desdolarização da economia, um objectivo novamente reafirmado na cimeira de Johannesburg.

“O Irão apoia os esforços dos BRICS na direcção da desdolarização, da cooperação económica entre os membros e do uso de moedas nacionais. A agenda global dos BRICS apoia a cooperação estratégica dos membros como o Irão nas áreas de trânsito, energia e comércio”, declarou o líder iraniano, Ebrahim Raisi.

Já na interacção com os jornalistas, no fim da Cimeira, Lula da Silva voltou a afirmar o compromisso da aliança no sentido de se criar uma moeda comum entre as nações integrantes.

“Ninguém quer mudar a unidade monetária do (seu) país, o que nós queremos é criar uma moeda que permita que a gente faça negócio sem precisar comprar o dólar”, disse, vincando, no entanto, que “não há pressa”.

Entretanto, mais do que ganhos económicos, a ampliação dos BRICS encerra em si importantes jogadas no campo geopolítico. Segundo a professora brasileira Denilde Holzhacker, citada pelo jornal O Globo, a entrada da Argentina envolve o interesse brasileiro de fortalecer o país vizinho, sendo que os chineses também têm interesses naquele país. Egipto, Arábia Saudita e Emirados Árabes reforçam a posição dos países no oriente, enquanto a entrada do Irão atende ao interesse russo.

Um sonho antigo de Putin

A nova ordem mundial multipolar é, por assim dizer, um sonho antigo do presidente russo, Vladimir Putin, que já classificou a desintegração da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas como o maior desastre da história.

Em 2007, o líder russo acusou os EUA de criarem um mundo unipolar “no qual só há um mestre e um soberano”, o que acaba “por ser pernicioso”. Doravante, discursou sempre a favor da multipolaridade nas relações internacionais, sendo que, este ano, na Cimeira Rússia-África, anunciou um “compromisso dos nossos Estados com a formação de uma ordem mundial multipolar justa e democrática”.

Os passos dados na recente reunião magna dos BRICS representam a concretização desse projecto, numa altura em que, na África Ocidental, assiste-se a uma tendência de afastamento do ocidente (fundamentalmente França e EUA) e consequente aproximação à Rússia, o que até coloca em causa o projecto de a isolar do resto do mundo.

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