Nos últimos anos, Moçambique tem sido palco de uma série de escândalos envolvendo filhos de ex-Presidentes, levantando preocupações sobre a integridade e segurança do Estado. O falecido Nyimpine Chissano, filho do ex-Presidente Joaquim Chissano; Ndambi Guebuza, filho do ex-Presidente Armando Guebuza; e Florindo Nyusi, filho do actual Presidente, Filipe Nyusi, todos se viram envolvidos em controvérsias que, de alguma forma, mancharam a honra de seus pais e levantaram questões sobre a influência e acesso que essas figuras possuem.
Texto: Dossiers & Factos
Nyimpine Chissano, já falecido, foi implicado no processo da morte do jornalista Carlos Cardoso, um caso que chocou o País. Embora ele tenha negado veementemente qualquer envolvimento, as alegações foram suficientes para abrir um processo autónomo contra ele. Sua repetida presença no tribunal evidenciou a gravidade das acusações, colocando sob escrutínio não apenas sua reputação, mas também a do seu pai, Joaquim Chissano, que governou Moçambique de 1986 a 2005.
Ndambi Guebuza foi recentemente condenado a 12 anos de prisão no caso das dívidas ocultas, um dos maiores escândalos de corrupção em Moçambique. Segundo a sentença do juiz Efigénio Baptista, Ndambi Guebuza foi considerado culpado de envolvimento directo no esquema que lesou o Estado em mais de dois mil milhões de dólares. Este caso não só trouxe consequências jurídicas para o filho do ex-presidente Armando Guebuza, mas também suscitou um debate nacional sobre a responsabilidade dos filhos de líderes políticos.
Florindo Nyusi, por sua vez, terá desencadeado um negócio em 2017 que muitos consideram um exemplo claro de tráfico de influências. Através da empresa Motil Moçambique Lda., Florindo obteve diversas licenças de pesca sem possuir navios, uma acção que, apesar de não ser ilegal, levanta questões éticas e de transparência. A facilidade com que obteve estas licenças sugere uma exploração da sua proximidade ao poder.
Especialistas em segurança nacional alertam que a influência dos filhos dos Presidentes representa uma vulnerabilidade significativa. “Esses indivíduos têm acesso privilegiado e extra-oficial aos líderes do País, o que pode ser explorado por interesses externos e internos para influenciar decisões de Estado”, afirma um renomado especialista que não quis ser identificado. A necessidade de maior vigilância por parte dos serviços secretos é crucial para mitigar esses riscos, vinca a fonte.
Outra fonte, por sinal ligada à secreta, destaca que a corrupção e o tráfico de influências não apenas corroem a confiança pública nas instituições, mas também minam a segurança do Estado. Neste sentido, considera que a presença constante destes escândalos cria um ambiente de instabilidade e desconfiança, que pode ser explorado por actores maliciosos tanto dentro quanto fora do País.
Em resposta a estas preocupações, nossas fontes entendem que é imperativo que os serviços de inteligência de Moçambique reforcem sua atenção não apenas aos Presidentes, mas também às pessoas próximas a eles. Isso inclui monitorar as actividades dos familiares e amigos dos líderes políticos para prevenir possíveis abusos depoder e garantir que as decisões de Estado não sejam comprometidas por interesses pessoais.
“A integridade do Estado moçambicano depende de uma abordagem rigorosa e proactiva para salvaguardar suas instituições e líderes contra influências impróprias. O monitoramento e a transparência são essenciais para garantir que a confiança pública seja restaurada e mantida, assegurando que o país possa se concentrar em seu desenvolvimento sem os fardos da corrupção e do tráfico de influências”, concluem.
Texto extraído na edição 562 do Jornal Dossiers & Factos