Na África do Sul, o histórico partido African National Congress (ANC) não conseguiu obter a maioria absoluta nas eleições gerais de 2024, marcando a primeira vez desde o fim do apartheid que o partido enfrenta a necessidade de formar uma coligação para governar. Com 40,19% dos votos, o ANC lidera, mas sem a maioria necessária, o que leva a necessidade de negociações com outros partidos, como o Democratic Alliance (DA), que obteve 21,8%, o uMkhonto we Sizwe (MK), com 14,59% e o Economic Freedom Fighters (EFF), que conquistou 9,52%.
Texto: Dossiers & Factos
No seu discurso após o anúncio dos resultados definitivos, o líder do ANC e presidente do país, Cyril Ramaphosa, preferiu dar ênfase à saúde da democracia na África do Sul, que, segundo suas palavras, é robusta. Ainda que indirectamente, tentou minimizar a derrota, vincando que não está extinto. É evidente, ainda assim, que não estará satisfeito com a derrapagem, que obriga a procura de entendimentos, sendo que Jacob Zuma já afirmou que só negoceia com o ANC se este deixar Ramaphosa cair. Os próximos dias prometem ser interessantes.
Em paralelo, no Zimbábue, o ZANU-PF também viu um declínio significativo de apoio, perdendo nas eleições intercalares do ano passado para o parlamento e governos locais, sinalizando um desgaste político considerável. O Movimento pela Mudança Democrática (MDC) ganhou força, reflectindo a insatisfação popular com a liderança actual.
Em Angola, as eleições de 2022 foram marcadas por controvérsias, com o MPLA, partido governante, a vencer por uma margem estreita de 51,2%, enquanto a UNITA alegava ter conquistado 49,5% dos votos. Esta disputa acirrada levantou questões sobre a transparência e a justiça do processo eleitoral, aumentando as tensões políticas no país.
Este cenário demonstra um claro desgaste dos partidos libertadores na África Austral, reflectindo a crescente insatisfação popular com a corrupção, a má gestão governação, o desemprego, que assola sobretudo a juventude, e a ineficiência na prestação dos serviços sociais básicos.
Muitos analistas consideram, por isso, que em Moçambique, a Frelimo deve tomar nota desses eventos enquanto se prepara para as eleições gerais em Outubro deste ano. O partido, que já sofreu reveses significativos nas eleições autárquicas – é convicção generalizada, até no interior do próprio partido, que os resultados proclamados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) não reflectem o desejo do povo -, deve aprender com os erros dos seus vizinhos para evitar um destino semelhante.
Para a Frelimo, indicam os especialistas, é essencial promover uma campanha de transparência e responsabilidade, além de ouvir as preocupações dos cidadãos sobre questões económicas e sociais. Reformas políticas e económicas que atendam às necessidades da população, bem como um compromisso genuíno com a redução da corrupção, podem ser passos cruciais para manter a confiança do eleitorado e evitar o declínio enfrentado por outros partidos libertadores na região.
As lições são claras: partidos que não conseguem se adaptar e responder às demandas populares correm o risco de perder sua hegemonia histórica, abrindo espaço para novas forças políticas e coalizões emergirem.