Na Cimeira Coreia-África, que contou com a participação de 25 chefes de Estado e de governo africanos, o Presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, destacou que o volume de comércio entre África e a Coreia continua insignificante. Lembrou que, em 2022, África representou apenas 2% do comércio da Coreia, enfatizando a necessidade de promover relações comerciais bilaterais, aumentar os intercâmbios no sector privado e focar em áreas de valor acrescentado.
Texto: Milton Zunguze
O encontro, realizado na Coreia do Sul, tinha por objectivo debater “O futuro que fazemos juntos: Crescimento partilhado, sustentabilidade e solidariedade”. Durante o evento, o Presidente sul-coreano, Yoon Suk Yeol, anunciou a concessão de 14 mil milhões de dólares em financiamento à exportação para apoiar empresas coreanas que investem em África, além de aumentar a ajuda pública ao desenvolvimento (APD) para 10 mil milhões de dólares até 2030.
O presidente coreano sublinhou as áreas de interesse para apoio e parceria em África: digitalização, administração pública electrónica, educação e capacitação, alterações climáticas, segurança alimentar e minerais críticos. Está prevista a inauguração de um diálogo Coreia-África sobre minerais críticos ainda este ano.
A abordagem aberta e mútua para reforçar a cooperação com o continente foi bem recebida por alguns líderes africanos como uma oportunidade para ambas as partes renovarem o compromisso com o crescimento partilhado e a parceria baseada no respeito e confiança mútuos. O Presidente do Ruanda, Paul Kagame, destacou que a experiência da Coreia mostra que um país pode ser radicalmente transformado em uma geração, questionando se há razões para África não se tornar uma região de rendimentos elevados.
A Presidente da República Unida da Tanzânia, Samia Hassan, apelou ao investimento em uma agenda de cozinha limpa como parte da transição energética justa, ressaltando que o investimento em cozinhas limpas reduzirá emissões, desflorestação e doenças respiratórias que afectam especialmente mulheres e crianças.
O Presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), Akinwumi Adesina, em seu discurso, exortou a Coreia a contribuir generosamente para a 17ª reconstituição do Fundo Africano de Desenvolvimento e para a Aliança para as Infra- -estruturas Verdes em África (AGIA), uma nova iniciativa do Banco em parceria com a União Africana e o África50, para mobilizar financiamento privado para infra-estruturas verdes no continente.
Adesina também apelou a maiores compromissos de financiamento por parte dos países mais ricos, como a Coreia, após a 59ª reunião anual do Banco, onde se discutiu uma reforma abrangente da arquitectura financeira mundial e mecanismos de financiamento inovadores, como a redistribuição dos Direitos Especiais de Saque (SDR).
Adesina afirmou que a aprovação pelo Conselho de Administração do FMI para a utilização de SDR no valor de 20 mil milhões de dólares para capital híbrido, com grande apoio dos Chefes de Estado e de Governo africanos, marca uma nova forma de aumentar o financiamento do desenvolvimento. Segundo ele, o limite de 20 mil milhões de dólares aprovado pelo FMI proporcionará 80 mil milhões de dólares de novo apoio financeiro.
O Fundo Fiduciário para a Cooperação Económica Coreia-África (KOAFEC), criado pelo Governo coreano em 2007 e gerido pelo Banco, é o maior dos 17 fundos fiduciários bilaterais activos do Banco, em termos de contribuições recebidas e de dimensão da carteira.
O Presidente Adesina elogiou o percurso de desenvolvimento inspirador da Coreia, que evoluiu de “um país pobre e dependente de ajuda” para “um dos maiores países doadores do mundo”. Durante a cimeira, o BAD assinou dois acordos: um Memorando de Entendimento entre o Banco e a Korea Trade Insurance Corporation (K-SURE) e uma Carta de Intenções entre o Banco e a Korea Overseas Infrastructure and Urban Development Corporation (KIND).
Texto extraído na edição 118 do Jornal Dossier económico