Mais de 70% da população moçambicana depende da agricultura, o que a torna a base de sustentabilidade de várias famílias e essencial para o desenvolvimento do País. No entanto, segundo Luís Augusto, presidente do Conselho de Direcção da Furticad, o sector agrário na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, tem enfrentado seus piores momentos desde o início do terrorismo em 2017, devido à insegurança nas comunidades agrícolas.
Texto: Milton Zunguze
Mesmo com as baixas no orçamento deste ano, o Governo prevê um crescimento global de produção agrícola de 5,7%. Em Cabo Delgado, porém, o sector não está nada auspicioso, conforme deu conta Luís Augusto, representante do sector privado na região, que lamenta a insegurança que afecta significativamente a produção de culturas importantes como arroz, algodão e caju, prejudicando o ambiente de negócios.
“Nós temos a produção de algodão parada, a produção de caju praticamente parada, e todos os produtos também estão afectados, porque as zonas onde há grandes produções já estão inseguras,” disse Luís Augusto. Ele acrescentou que o sector agrário na região regrediu consideravelmente em termos de quantidade de produção devido ao terrorismo.
“Há áreas que não foram preparadas, semeadas ou cultivadas porque as populações saíram. Isso não é sustentável para nenhum País, mas, tenho confiança que isso vai acabar, tem que haver uma solução,” perspectiva.
Apesar das dificuldades, o representante do sector privado garante que a produção agrícola ainda ocorre, embora em apenas 50% da sua capacidade. Nos distritos de Chiúre e Mecúfi, considerados seguros para a agricultura, investidores enfrentam dificuldades devido a incursões. “Chiúre e Mecúfi eram pontos seguros, mas agora também há algumas incursões. Temos colegas que estão a desenvolver acções e a enfrentar dificuldades. Há projectos de impacto na área de agricultura que estão a 50% da produção,” explica.
A época de colheita nas zonas costeiras de Quissanga e Mocimboa da Praia está comprometida. “Não se plantou, e sem plantar não há nada. Isso não é de agora, é uma situação de anos,” comenta, destacando que a campanha de comercialização agrícola está a decorrer de forma limitada devido à insegurança.
“A campanha de comercialização agrícola foi lançada, mas não está a funcionar a 100% porque há zonas que continuam inseguras, como Quissanga, Macomia e Mocímboa da Praia. A produção de arroz e caju foi bastante afectada porque as populações fugiram para os centros dos distritos,” observa.
A agro-indústria também sofre com esse cenário de retrocesso. “Moageiras e indústrias de processamento de algodão e caju estão paralisadas devido à falta de matéria-prima. Quando não há produção agrícola, não há colheitas de cereais, e o restante do ano fica parado,” explica Luís Augusto, apontando um problema que sempre existiu além da insegurança.
Vale lembrar que a proposta do Plano Económico e Social para este ano prevê a produção de pouco mais de três milhões de toneladas de cereais, 612.216 toneladas de leguminosas, 291.609 toneladas de oleaginosas, 3.986.936 toneladas de hortícolas e cerca de oito milhões de toneladas de raízes e tubérculos.
O documento também refere que o aumento da produção será influenciado pelo crescimento da área de produção em cerca de 2%, pelo número de famílias que praticam agricultura, pelo investimento em novas áreas de agricultura comercial e pelo “incremento do número de famílias com acesso a meios de produção no âmbito da integração da agricultura familiar a diferentes cadeias produtivas, de 316.235 para 455.463”.
Texto extraído na edição 119 do Jornal Dossier económico