Os distritos de Mabote e Inhassoro, na região norte da Província de Inhambane, literalmente pararam no passado dia 25 de julho para celebrar o 38º aniversário de sua elevação à categoria de vila. No entanto, os desafios persistem, especialmente a falta de alguns serviços sociais básicos. O acesso ao interior dessas vilas é difícil, com as vias de acesso em estado de degradação total, agravando-se durante a época chuvosa.
Texto: Dossiers & Factos
Mabote e Inhassoro, apesar de distantes um do outro, têm algo em comum: foram elevados à categoria de vila na mesma data e ano, e hoje ambos comemoram seu 38º aniversário. No entanto, compartilham também problemas, como a falta de vias de acesso, entre outros. Talvez a única diferença seja que Mabote é liderado por um homem, Carlos Mussanhane, enquanto Inhassoro é liderado por uma mulher, Dulce Canhemba, embora ambos compartilhem a mesma visão.
Foco no Distrito de Mabote
Nesta edição, vamos nos focar apenas no distrito de Mabote, onde os desafios são mais agudos. Quem visita este distrito raramente deseja voltar, principalmente por causa das vias de acesso, especialmente a que parte de Mapinhane até a vila. Não são apenas os buracos, mas também a poeira excessiva, que coloca em risco a saúde dos visitantes.
A situação piora durante a época chuvosa, tornando o acesso ainda mais difícil. Apenas veículos de alta suspensão e tração nas quatro rodas conseguem circular. Essa condição faz com que os transportadores especulem os preços, cobrando entre 800 e 1200 meticais de Mapinhane a Mabote.
Dentro da vila, o cenário não melhora. Não há vias de acesso pavimentadas, apenas terra batida. Os motoristas enfrentam o desafio de navegar pelas estradas esburacadas, tentando evitar danos aos seus veículos.
O nível de desenvolvimento é muito baixo, com muitos serviços concentrados em um único local, sem descentralização. A pobreza é visível, com famílias passando fome devido à seca cíclica. O programa *Sustenta* pouco se faz sentir naquele distrito, e a população é obrigada a importar alimentos de distritos vizinhos, pois as terras não produzem quase nada.
As poucas infraestruturas que contribuem para a estética da vila são públicas ou pertencem a figuras influentes. O restante consiste em casas e estabelecimentos comerciais de construções precárias ou mistas (chapas de zinco e estacas), que frequentemente ficam submersos durante as chuvas devido à má localização geográfica.
Desempenho do Executivo e Condições Locais
Apesar de alguns avanços, a população de Mabote dá nota negativa ao desempenho do executivo liderado por Carlos Mussanhane. Embora o distrito tenha registrado melhorias em serviços básicos como água, energia e saúde, ainda há muito a ser feito.
Reginaldo Mabote, residente e natural de Mabote, observa que pouco mudou desde a elevação à categoria de vila. A vila continua nas mesmas condições de antes, com apenas alguns serviços básicos disponíveis no centro. “Nossa vila está esquecida. Todos os administradores que passaram por aqui só vieram buscar vantagens pessoais e não fizeram nada, incluindo o atual. Neste 38º aniversário, esperava ver pelo menos uma via de acesso pavimentada. Não faz sentido que dentro da vila seja difícil circular com um veículo de baixa suspensão,” lamenta Reginaldo.
Mabote abriga o Parque Nacional do Zinave, um dos melhores atrativos turísticos da província, além de vastas florestas que são exploradas diariamente. No entanto, muitas crianças ainda estudam sentadas no chão. Em algumas escolas no interior, os alunos percorrem quilômetros a pé para estudar, o que contribui para a desistência escolar e o aumento de uniões forçadas.
“Temos muitas escolas onde os alunos estudam sentados no chão. Por exemplo, em Zimane, Tanguane ou Benzane, essa é a situação. Temos muita madeira, mas quem a explora são pessoas de fora. Imagine uma criança que precisa percorrer longas distâncias para completar o ensino médio. Como vai permanecer na escola? Nosso governo precisa pensar seriamente nesse aspecto,” afirma um residente local.
Educação e Negócios
Apesar dos esforços governamentais para construir mais escolas, muitas meninas ainda não têm acesso à educação por não haver escolas secundárias em suas regiões. Além disso, a falta de condições financeiras dos pais para enviar suas filhas para a vila sede leva a casamentos forçados, com pais vendendo suas filhas em troca de melhores condições de vida.
Fazer negócios em Mabote requer paciência e boa gestão, especialmente para comerciantes que precisam abastecer seus estabelecimentos. As más condições das estradas resultam em altos custos de manutenção dos veículos.
Infraestrutura e desenvolvimento
O abastecimento de água, embora melhorado, ainda necessita de melhorias na qualidade e expansão do serviço para áreas que ainda sofrem com a escassez. Líderes comunitários denunciaram irregularidades que comprometem o desenvolvimento do distrito, incluindo dirigentes que priorizam interesses pessoais.
Os líderes comunitários têm pouco conhecimento sobre os benefícios da exploração madeireira, embora vejam caminhões carregando madeira para o mercado chinês diariamente. As empresas não realizam a reposição das árvores abatidas, prejudicando o ecossistema local.
Mabote tem potencial na criação de gado bovino, mas carece de locais adequados para pastagem, obrigando a partilha de água com humanos. A celebração dos 38 anos de elevação trouxe expectativas de melhorias, especialmente na área de energia, onde muitos bairros próximos à vila ainda vivem às escuras.