Moçambique é descrito como um dos corredores preferenciais dos traficantes de drogas, não sendo raras as vezes em que quantidades substanciais com destino a outros países são interceptadas em solo pátrio. Desta vez, porém, uma operação recente da Polícia Judiciária (PJ) da Guiné- -Bissau, que resultou na apreensão de uma avioneta carregada de estupefacientes, fez emergir suspeitas de que um segundo aparelho, também com drogas, teria Maputo como destino.
Texto: Dossiers & Factos
A PJ guineense apreendeu no sábado, 7 de Setembro, uma aeronave com enormes quantidades de droga não especificada, alegadamente oriunda da Venezuela. A bordo da aeronave estavam cinco cidadãos de várias nacionalidades, incluindo chinesa, equatoriana e brasileira.
Uma fonte segura baseada em Bissau, e que está ligada à PJ local, fez saber que as autoridades guineenses já haviam sido informadas da movimentação de duas aeronaves que poderiam fazer escala técnica naquele país dos PALOP. Sucede que, a dado passo, os mesmos de nunciantes descartaram a possibilidade de as aeronaves passarem por aquele país. Mesmo assim, por suspeitas, que é o ópio da polícia, as autoridades mantiveram-se vigilantes no aeroporto Osvaldo Vieira e, quando menos se esperava, a aeronave ora apreendida aterrou na manhã do dia 07 de Setembro, sábado, mesmo sem a devida programação e autorização das autoridades aeroportuárias guineenses, o que resultou na detenção dos ocupantes e apreensão da droga.
Foi neste âmbito que, nas primeiras investigações, os ocupantes da aeronave em referência informaram às autoridades que a segunda avioneta, também contendo drogas, estaria a caminho de Maputo, a capital moçambicana.
Pode tratar-se de táctica dos traficantes
Fontes do Dossiers & Factos em Bissau admitem a possibilidade de que a segunda avioneta tenha seguido para Maputo, mas também não afastam a hipótese de as informações obtidas servirem para despistar as autoridades que trabalham no combate ao tráfico de drogas.
A fonte que temos vindo a citar, que é oficial superior dos Serviços de Investigação Criminal em Bissau, refere que, tanto o seu país quanto os vizinhos, nomeadamente da região do Sahel, caracterizada por enormes desertos, agravados pela degradação político-militar dos seus Estados, são terrenos férteis para o tráfico de drogas.
A fonte aproveitou a ocasião para descrever ao Dossiers & Factos a estrutura física dos ocupantes da aeronave ora detidos, considerando-os indivíduos “preparados fisicamente e com capacidades, caso necessário, de exercer o militarismo, incluindo o paraquedismo”. Explicou ainda que as zonas desérticas do Sahel, tal como se fez referência anteriormente, podem ser usadas como áreas próprias para o baldeamento das drogas, sendo desta forma justificadas as dúvidas sobre se, de facto, a avioneta que é indicada como tendo Maputo por destino terá vindo de facto ou não.
Que ligações os traficantes tinham em Bissau?
Das mesmas fontes, o Dossiers & Factos soube que, após a apreensão do aparelho em Bissau e a realização de exames laboratoriais para aferir se o produto que era transportado era de facto estupefacientes ou não, com resultados que apuraram tratar-se de cocaína, seguiram- -se disputas internas, pois existiam vozes superiores não reveladas que impediam que as quantidades de cocaína fossem retiradas do avião e guardadas nos armazéns da PJ.
Este clima que se instalou em Bissau abriu espaço para que questionamentos não faltassem, aliás, até para se concluir que a aeronave aterrou mediante supostos contactos com algumas autoridades locais.
