Com a violência extrema em Cabo Delgado a caminho do seu sétimo ano, o Presidente da República e Comandante-em-Chefe das Forças de Defesa e Segurança (FDS), Filipe Jacinto Nyusi, decide lançar outro recado aos cabecilhas do movimento terrorista, alertando-os para o facto de a paciência estar a esgotar-se. A mensagem do Chefe de Estado esta a suscitar várias interpretações, entre elas a de que o Executivo está supostamente a ser complacente com os terroristas, em prejuízo das populações indefesas.
Texto: Dossiers & Factos
Filipe Nyusi orientou, no último sábado, 07 de Setembro, as cerimónias centrais do Dia da Vitória, em homenagem aos Acordos de Lusaka assinados em 1974, abrindo caminho para a independência nacional, que seria proclamada a 25 de Junho de 1975. Como de praxe, aproveitou a ocasião para abordar assuntos candentes da Nação, com a referência ao terrorismo a chamar mais atenção.
“Sabemos os nomes de alguns dos líderes [dos terroristas], devem entregar-se agora, porque a paciência está a acabar”, afirmou o Presidente da República, sem no entanto indicar detalhes tais como nomes e número dos cabecilhas. Este recado, em certa medida similar ao ultimato lançado por Bernardino Rafael em 2017 – na altura, o Comandante-Geral da PRM deu um prazo de sete dias aos terroristas para se entregarem – está a ter uma repercussão negativa na sociedade, com alguns sectores a interpretarem-no como “confissão” de que, ao longo destes anos, o Governo não está a fazer tudo o que pode para travar o terrorismo.
É que, enquanto a “paciência” do Presidente não se esgota, prossegue a chacina de milhares de cidadãos moçambicanos, entre civis e militares, à qual se juntam consequências de natureza económica, política, cultural, entre outras. Para esta corrente de pensamento, é inconcebível que o Comandante-em-Chefe das FDS “assista pacientemente” a actos bárbaros que não apenas colocam em causa a vida e o bem-estar das populações, como a democracia e a integridade territorial que o mesmo (PR) jurou defender, referem as reacções.
Por outro lado, porém, há quem encontre “palavras vazias” na mensagem do Chefe de Estado, que, por sinal, está a quatro meses de deixar o poder. De resto, não é sequer a primeira vez que o Governo afirma conhecer os líderes da insurgência. Em Março do presente ano, o ministro do Interior, Pascoal Ronda, revelou uma série de “novos rostos” do grupo Ansar al- -Sunnah, tidos como os substitutos da anterior equipa então liderada por Bonomade Machude Omar, entretanto abatido pelas FDS.
O ministro do Interior disse que “a maior parte dos líderes terroristas encontra-se nos distritos de Macomia e de Quissanga, sendo de destacar Óscar, Dardai, Zubair, Mane, Sheik, Amisse e Machude”. Fica a dúvida se será a este mesmo grupo que o Presidente da República se refere.
Presidente (mais uma vez) precipitado
As recentes ameaças do Presidente da República aos terroristas podem expor alguma “precipitação” que de certa forma está a provocar indignação no sector da segurança. O entendimento que há neste sector é de que o Chefe de Estado estará a fazer mau uso de informações secretas da inteligência, acabando, assim, por “atrapalhar” o combate ao terrorismo.
Lembram as fontes que foi o que aconteceu em 2022, quando Filipe Nyusi decidiu tornar pública a informação da existência de bombas de combustíveis, particularmente na província de Sofala, que financiam actividades terroristas em Cabo Delgado. Disse, à data, que “há proliferação de bombas de combustíveis na vossa província, não estou a proibir. Mas que usem métodos legais (…) Temos informações de pessoas que usam estes meios para subsidiar os terroristas”.
Sucede, curiosamente, que na mesma semana em que Nyusi fez este anúncio, a imprensa começou a avançar notícias de fuga de alguns proprietários de gasolineiras, a exemplo do tanzaniano Ally Awahad, que era proprietário da Lake Oil Trans, na cidade da Beira, facto que, para as nossas fontes, reforça a