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AFECTADOS PELA GREVE: Mukheristas alertam para escassez de produtos

Desde a última quinta-feira, manifestantes têm tomado as ruas de todo o País no âmbito da terceira fase dos protestos contra os resultados das recentes eleições gerais (presidenciais, legislativas e das Assembleias Provinciais) em Moçambique, considerados fraudulentos pelo candidato da oposição Venâncio Mondlane e pela generalidade dos partidos da oposição. A greve geral, que agora entra para a sua terceira fase com previsão de sete dias de duração, já contou com duas etapas anteriores de três dias de paralisações cada, impactando tanto o comércio formal quanto o informal. Em meio ao cenário de protestos, os mukheristas – trabalhadores informais responsáveis por uma importante parte do abastecimento de mercadorias entre Moçambique e África do Sul – veem se forçados a interromper suas actividades por medo de perdas financeiras e riscos de segurança.

Texto: Hélio de Carlos

Sudecar Novela, presidente da Associação dos mukheristas, expressou preocupação com a paralisação do sector, enfatizando que, caso as greves continuem, os mercados poderão ficar desabastecidos, uma vez que grande parte dos produtos essenciais depende das importações feitas por este grupo. “O comércio informal e formal está a ser afectado de forma muito negativa, pois as greves são incompatíveis com as condições vulneráveis em que operamos. Quanto mais manifestações houver, maiores serão as quebras para os comerciantes”, afirmou.

O medo da perda e o impacto no abastecimento

Com receio de perder mercadorias para o vandalismo ou para os confrontos com as forças de segurança, muitos mukheristas decidiram suspender as viagens. “Assim que recebemos a notícia de uma semana de greve, ninguém arrisca trazer camiões carregados, temendo vandalismo e a perda de mercadorias”, explicou Sudecar. Para ele, a situação é crítica, pois, além do risco directo, o atraso nas operações significa perda de produtos perecíveis, como os vegetais que se deterioram rapidamente.

Ele explicou que a insegurança afecta também a disposição dos comerciantes locais em abrir seus pontos de venda. A circulação de compradores é mínima, devido ao medo de se tornarem vítimas de confrontos e até de balas perdidas. “Hoje, os mercados estavam abertos, mas quase sem movimento. Quem ainda conseguiu abrir prefere não se arriscar e aguarda que as tensões diminuam”, relatou Sudecar, destacando que essa paralisação no comércio pode elevar os preços de bens de consumo essenciais, como o tomate, que já está em falta devido à interrupção das viagens.

Sudecar destacou que, enquanto os transportadores estão retidos na fronteira ou em regiões limítrofes, o transporte de mercadorias permanece parado, e os produtos perecíveis correm o risco de não chegarem ao mercado em condições adequadas. “Quando um camião carregado de tomate permanece parado por dias, a mercadoria deteriora-se e, ao chegar aos grossistas, já não tem a qualidade necessária. É essa situação que pode causar uma subida acentuada de preços e dificuldades de abastecimento”, comentou ele, prevendo agravamento nas condições de fornecimento caso a greve persista.

Importância do diálogo para a paz e a estabilidade comercial

Para evitar um colapso do sector, Sudecar apela ao diálogo entre as partes envolvidas, frisando a importância de se chegar a um consenso. Segundo ele, a história recente de Moçambique demonstra que o diálogo foi o caminho para a paz. “Não importa a causa do desentendimento. Se queremos superar as diferenças, é essencial que haja conversa e entendimento. O comércio e a segurança pública dependem dessa paz”, disse, comparando a actual situação à guerra civil de 16 anos, que só teve fim através da negociação.

Sudecar salientou ainda que manifestações populares têm efeitos muito mais imprevisíveis e danosos para o comércio do que as greves institucionais. “Manifestação popular não é como uma greve organizada por uma classe profissional. Na greve, há um alvo específico e certo nível de controle. Já nos protestos populares, mesmo que haja uma liderança que oriente o comportamento, surgem sempre oportunistas que vandalizam o que encontram pela frente, deixando o cenário incontrolável”, explicou.

Sudecar advertiu que o bloqueio das rotas e a dificuldade em abastecer os mercados já reflectem na alta de preços de produtos básicos, tendência que poderá se agravar com o prolongamento da greve. “Sempre que há falta de produto, o preço sobe. Para quem ainda tem algum estoque, isso representa uma oportunidade de lucro. Infelizmente, para o consumidor, isso torna as condições ainda mais difíceis”, concluiu.

Texto extraído na edição 139 do Jornal Dossier económico

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