Desde 21 de Outubro, Moçambique enfrenta uma série de manifestações convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, em protesto contra os resultados das últimas eleições, que considera fraudulentos. Apoiadas pelo partido Podemos (que suporta Mondlane) e por quase toda a oposição, essas manifestações buscam contestar a vitória do candidato da FRELIMO, Daniel Francisco Chapo, proclamada pela Comissão Nacional de Eleições. A greve, que agora entra para a terceira fase, prevê uma paralisação de sete dias, após duas etapas iniciais de três dias cada. No entanto, na província de Inhambane, situada no sul do País, o ambiente de negócios permanece calmo e o comércio opera normalmente, segundo relatam as autoridades e representantes do sector privado local. Apesar da tensão que caracteriza outras regiões do País, comerciantes e empresários de Inhambane mostram-se decididos a manter suas actividades. A excepção foram os bancos, que fecharam suas portas temporariamente devido à incerteza gerada pela situação.
Texto: Anastácio Chirrute
Inhambane, conhecida pela serenidade e pelo respeito à ordem pública, tem passado por esse período de greve sem registo de tumultos ou distúrbios. Tal como aconteceu no dia 24 de Outubro, durante a primeira fase das paralisações, o último dia de Outubro foi marcados por um ambiente de total tranquilidade. O comércio formal e informal, as instituições públicas e privadas, bem como o transporte semicolectivo, continuam a funcionar sem qualquer interrupção.
O delegado provincial da Câmara de Comércio de Moçambique em Inhambane, Bruno Comini, confirmou que a província mantém um clima de estabilidade e que o ambiente de negócios se mantém positivo. Segundo ele, a população tem optado por não aderir às manifestações, mantendo um compromisso com a paz e a ordem pública, o que favorece a continuidade das actividades comerciais.
“Em Inhambane, não se registaram episódios de vandalismo ou interrupção de serviços. Todos os sectores, desde o pequeno comércio até aos estabelecimentos de maior porte, estão operando normalmente, e o nosso agradecimento vai para a população, que tem mostrado um grande sentido de responsabilidade e respeito pelas instituições do Estado,” afirmou Comini.
Apelos a não adesão à greve
Segundo Comini, as associações empresariais, como a Câmara de Comércio e a Confederação das Associações Económicas (CTA), não tomaram qualquer decisão que impusesse a adesão à greve. Para ele, a escolha de parar ou não suas atividades é uma decisão individual de cada comerciante. Contudo, ele apela aos empresários para que continuem firmes na condução de seus negócios, permitindo que a população tenha acesso a bens de primeira necessidade e, assim, contribuindo para o funcionamento da economia local.
“Uma semana de greve representa uma semana de prejuízos para todos, não só para os comerciantes, mas também para os cofres do Estado. Precisamos lembrar que o sector do comércio é vital para o sustento de muitas famílias e, nesse momento, o nosso papel é fornecer os produtos e serviços que a nossa população necessita,” acrescentou Comini.
Comini também sublinhou que os comerciantes locais estão atentos à evolução das manifestações, tomando medidas de precaução para proteger seus estabelecimentos, mas sem paralisar as actividades. “Na greve anterior, o comércio em Inhambane continuou a fluir naturalmente. Fizemos contactos com vários agentes económicos, e todos confirmaram que manteriam seus negócios abertos, com o devido cuidado para evitar riscos.”
Turismo ligeiramente afectado
No sector do turismo, que é um dos pilares económicos de Inhambane, o impacto das manifestações tem sido relativamente contido, segundo Yassine Amuji, presidente da Associação de Turismo de Vilankulo. A fonte revelou que alguns turistas com reservas vindos da capital, Maputo, decidiram cancelar suas viagens, representando cerca de 10% dos visitantes esperados. Apesar disso, Amuji garantiu que os estabelecimentos turísticos locais continuam a funcionar sem ameaças directas.
“O impacto das manifestações ainda é limitado para o sector turístico em Vilankulo. Tivemos alguns cancelamentos de turistas que viriam de Maputo, mas isso não afectou significativamente as actividades. A maioria dos operadores continua com as suas portas abertas, e o ambiente de negócios está sob controlo,” relatou Amuji.
Destacou ainda a importância de se recorrer ao diálogo para solucionar o actual impasse e minimizar os impactos negativos na economia. “As manifestações e a violência não são soluções. O país se desenvolve com progresso, diálogo e contribuições construtivas. Tendo em conta a realidade de Moçambique, é fundamental que as partes envolvidas encontrem um terreno comum para resolverem as suas diferenças sem prejudicar a economia.”
Raptos continuam a ser o maior problema
Além das manifestações, outra grande preocupação para o sector empresarial em Moçambique é o aumento dos casos de rapto, especialmente em Maputo. Esse fenómeno de criminalidade tem afastado investidores e empresários estrangeiros, que vêem a segurança como um factor crucial para decidir onde investir.
Amuji frisou que os raptos têm sido um dos maiores obstáculos para o ambiente de negócios no país. “Muitos empresários estão a optar por sair de Moçambique, e o número de investidores estrangeiros tem caído por receio de serem alvos de sequestros. É uma situação preocupante e que demanda uma resposta urgente das autoridades,” afirmou.
O delegado Bruno Comini, da Câmara de Comércio, mencionou que os candidatos presidenciais foram informados sobre essa preocupação do sector empresarial, e todos assumiram o compromisso de priorizar a questão da segurança no próximo mandato. “Os raptos são um problema crítico e esperamos que o próximo governo adopte medidas eficazes para garantir a segurança dos empresários e estimular um ambiente de negócios saudável.”
Perspectivas para o futuro e o apelo ao diálogo
Com a continuidade das manifestações e a incerteza política, o sector empresarial de Inhambane mantém-se atento e esperançoso de que o diálogo prevaleça sobre a confrontação. Para Comini e Amuji, o diálogo é essencial para que Moçambique ultrapasse esta fase crítica e mantenha a estabilidade económica.
“Esperamos que o governo e os líderes das manifestações possam encontrar um caminho para o entendimento. Cada dia de greve prejudica o país e a nossa população, especialmente aqueles que dependem de um pequeno comércio para sobreviver,” finalizou Comini.
Amuji compartilhou uma opinião semelhante, reforçando que apenas a paz e o diálogo podem criar condições favoráveis para o crescimento. “Manter o país em funcionamento é crucial. Se o comércio para, o impacto é sentido em todos os sectores, inclusive na arrecadação de impostos, o que prejudica ainda mais a nossa capacidade de investir no desenvolvimento,” concluiu.
Dessa forma, Inhambane continua a seguir com seu compromisso de manter as actividades normais, representando uma “ilha de calma” em meio às turbulências nacionais. A esperança é que a estabilidade e a serenidade demonstradas pela província sirvam de exemplo e inspiração para outras regiões do País.
Texto extraído na edição 139 do Jornal Dossier económico