Apesar dos riscos e da instabilidade provocada pelas manifestações em Moçambique, um número significativo de vendedores informais decidiram desafiar o clima de tensão e continuar a trabalhar, especialmente nos mercados da cidade de Maputo, como o Grossista do Zimpeto. Sob o lema “antes vale morrer na rua que de fome em casa”, estes trabalhadores mantiveram-se nas ruas durante as paralisações que afectaram o país em três fases, entre 21 de Outubro e 7 de Novembro, em protesto contra os resultados das eleições de 9 de Outubro e o que chamam de má governação.
Texto: Milton Zunguze
Desde a primeira manifestação nacional, a 21 de Outubro, a economia moçambicana tem sido impactada com encerramentos de estabelecimentos comerciais e a suspensão de actividades em várias áreas. Durante este período, muitos pequenos comerciantes, que dependem da venda diária para sustentar as suas famílias, continuaram a marcar presença nos seus postos, apesar da redução de clientes e da insegurança.
Nos primeiros dias de cada etapa das manifestações, a maioria dos estabelecimentos formais fechou as portas. No entanto, no Grossista do Zimpeto e no mercado Fajardo, muitos vendedores informais mantiveram-se firmes, com o medo da fome e a necessidade de garantir o sustento para o dia seguinte a serem a grande motivação. As conversas entre os comerciantes resumiam-se a um sentimento de necessidade urgente: “não tenho nada em casa”, justificavam.
Na segunda fase, que ocorreu a 24 e 25 de Outubro, o cenário nos mercados da cidade de Maputo foi semelhante. No primeiro dia, os vendedores informais ocuparam gradualmente as ruas, enquanto lojas e estabelecimentos formais permaneceram fechados. Até os transportadores públicos, como os “chapa 100”, enfrentaram as rotas, apesar de algumas áreas de maior tensão.
Terceira fase: resistência e adaptação
Na terceira fase, que teve início a 31 de Outubro e se estendeu por sete dias, a persistência dos vendedores informais foi ainda mais notável, à excepção de quinta-feira, dia da mega-manifestação na cidade de Maputo. Nos primeiros dois dias, algumas lojas ainda fecharam, mas, à medida que a situação evoluiu, os comerciantes informais adaptaram-se e continuaram a vender. No Grossista do Zimpeto, mesmo com a presença de focos de manifestação, os vendedores informais voltaram a ocupar os arredores do mercado.
Para contornar a insegurança, muitos estabelecimentos formais adoptaram um novo horário de funcionamento, abrindo cedo e encerrando ao meio-dia, antes do pico das manifestações, que geralmente ocorre no período da tarde.
Difícil sobrevivência em tempos de crise
As manifestações trouxeram impactos económicos significativos, não só para os grandes empresários, mas também para os trabalhadores informais, cujo rendimento depende das vendas diárias. A sua presença constante nas ruas, mesmo em meio a confrontos e tumultos, evidencia a resiliência de quem depende do comércio diário para sobreviver. “Antes vale morrer na rua que de fome em casa” foi a frase que muitos usaram para justificar a sua decisão de enfrentar a instabilidade e assegurar o “pão” de cada dia, enquanto o país atravessa um dos momentos mais tensos dos últimos anos.