As manifestações com cunho violento que ocorrem em várias regiões do País estão a comprometer a implementação de diversos projectos sociais promovidos pelo Instituto Nacional de Gestão e Redução de Riscos e Desastres (INGD). Como resultado, mais de 35 mil famílias residentes nas províncias do sul – Maputo (distrito de Matutuine), Gaza (Chicualacuala, Mapaia, Chigubo e Guijá) e Inhambane (Mabote, Funhalouro, Panda e Homoíne) – continuam privadas de assistência alimentar e insumos agrícolas. A situação agravou-se após a vandalização e saque dos armazéns do INGD, onde estavam armazenados produtos destinados às populações mais vulneráveis.
Texto: Anastácio Chirrute, em Inhambane
Não é apenas o sector do comércio que sofre os impactos das manifestações iniciadas em Outubro do ano passado. O INGD também é uma das entidades mais afectadas, com parte dos seus armazéns em Maputo, Inhambane e Tete destruídos e os seus produtos saqueados por manifestantes que alegam estar a exigir a reposição da verdade eleitoral e a redução do custo de vida.
Um exemplo do impacto destas acções ocorreu no distrito de Mabote, na província de Inhambane, onde mais de 15 toneladas de alimentos de primeira necessidade foram saqueadas. Estes produtos estavam programados para distribuição no âmbito da assistência à seca, mas, devido à destruição dos armazéns, as mais de 35 mil famílias que necessitam de apoio continuam na incerteza sobre o seu futuro.
Segundo o delegado regional sul do INGD, Cândido Mapute, enquanto a situação não se normalizar, o instituto enfrenta enormes dificuldades para transportar produtos de um ponto a outro. Além das vias de acesso bloqueadas, os camiões do INGD são alvo de vandalismo e pilhagens, comprometendo todos os esforços de assistência.
“Enquanto os manifestantes não cessarem os actos de vandalismo, não teremos como assistir as famílias que mais precisam. Agora enfrentamos dois problemas: de um lado, a seca; do outro, manifestações subversivas. Para levar produtos a Mabote, Funhalouro ou Panda, temos de passar por zonas de conflito, onde os nossos camiões são atacados e saqueados”, explicou Mapute.
O responsável acrescentou que, embora o INGD trabalhe em parceria com o Programa Mundial de Alimentação (PMA), que utiliza um sistema de bilhetes com valores estipulados para cada beneficiário, a situação tornou-se ainda mais difícil. “Os produtos deveriam ser fornecidos por comerciantes locais, mas muitos estabelecimentos foram vandalizados e saqueados, tornando inviável a reposição dos alimentos”, lamentou.
O INGD alerta que as manifestações estão a agravar a situação das populações mais carenciadas, dificultando a chegada da ajuda humanitária às zonas afectadas. “Quero deixar claro que o INGD presta assistência sem distinção partidária. Sabemos que estas manifestações têm motivações políticas, mas isso não tem nada a ver com o nosso trabalho. O problema é que, quando atacam o INGD e os camiões que transportam donativos, prejudicam directamente as comunidades que mais precisam”, afirmou Mapute.
Na região sul, estima-se que mais de 35 mil famílias dependam urgentemente de assistência alimentar e insumos agrícolas, principalmente nos distritos de Mabote, Panda, Funhalouro e Homoíne (Inhambane), Chicualacuala, Mapaia, Chigubo e Guijá (Gaza) e Matutuine (Maputo).
“Temos várias famílias que neste momento sobrevivem apenas de folhas e frutos silvestres. Isso é extremamente preocupante. Para que as sementes cheguem aos destinatários, é essencial garantir a livre circulação dos produtos. Mesmo os nossos parceiros, que canalizam doações para assistência alimentar, estão a sentir os impactos da intransitabilidade causada pelas manifestações”, alertou o delegado regional.
Numa entrevista exclusiva ao Dossiers & Factos, Cândido Mapute apelou à realização de manifestações pacíficas e não violentas, sublinhando que as entidades responsáveis pela redução de riscos de desastres devem poder trabalhar sem interferências. “As manifestações ocorrem sobretudo em áreas urbanas. Para chegarmos às zonas mais recônditas, temos de atravessar os locais de conflito. Isso limitanos no apoio às populações que mais necessitam”, concluiu.