Moçambique e moçambicanos vão este ano entrar em mais uma corrida eleitoral. A Constituição da República orienta para que, volvidos cinco anos que corporizam um ciclo de governação, o povo seja chamado a indicar quem deve liderar o País. Este chamamento faz com que organizações e partidos políticos se esmerem na definição de melhores estratégias para entrar neste jogo competitivo. Uma destas estratégias está focada na necessidade de se encontrar uma figura consensual dentro dos partidos para que seja apresentada como “trunfo” e, com base na sua aspiração e história política, possa convencer a maioria a votá-lo, quer para Presidente da República, quer para preencher assento na Assembleia da República.
Este momento, para alguns partidos com algum tipo de disciplina, deve ser caracterizado pela abertura democrática, permitindo que, através de encontros sistemáticos, membros desses mesmos partidos aprendam sobre manifesto e vontades internas para definir o mais bem posicionado na corrida eleitoral. Até porque a própria lei vinca que os partidos políticos constituem a forma de expressar o pluralismo político, assim como concorrem para a formação e manifestação da vontade popular e são, acima de tudo, um instrumento fundamental para a participação democrática dos cidadãos na governação do País – art.º 74º n.º 1 da Constituição da República de Moçambique.
Os congressos dos partidos são hoje um verdadeiro campo de batalha. Ali, naquele tipo de reuniões, vale tudo. Uns aliam-se a outros e cria-se uma verdadeira onda de ódio, intrigas e outro tipo de sentimento do mal à volta deste ou daquele candidato. Aliás, são verídicas informações de que parte dos membros se deixa levar pelas elevadas quantias como forma de assegurar que o voto do grupo x seja canalizado à figura y. As guerras que se registam no seio dos partidos e/ou organizações são um verdadeiro prenúncio de ganância, vontade de extorquir, roubo e corrupção, pois o próprio princípio de tornar o candidato elegível é aqui viciado e cheio de aldrabices.
É por conta deste cenário que na RENAMO, assim como na própria FRELIMO, está aberto um debate aceso sobre quem deverá seguir como candidato de consenso para as eleições presidenciais que se avizinham.
A CNE anunciou o calendário de todo o processo eleitoral que deverá culminar com a divulgação dos resultados em Janeiro de 2025 e não tardou para que a poeira levantasse e vozes subissem de tom.
É que mesmo antes da realização dos referidos congressos (espaços de legitimação dos membros concorrentes), alguns “porta-vozes” já vieram a público anunciar nomes de quem, para eles, devia ou deve ser o candidato presidenciável. Já há candidatos credenciados, e porque quem não se sabe, pois este tipo de debate e indicação é feito em fórum próprio, onde a vontade dos membros é que legitima este ou aquele candidato às eleições.
Vieram a público anunciar vontade de manter ou fazer entrar este ou aquele membro na corrida eleitoral sem que este debate fosse estendido ao mais alto nível, onde através dos representantes provinciais os membros indicariam claramente figuras de consenso. Isto é um atentado à verdade democrática, pois aniquila aquilo que são os preceitos básicos no que concerne à tomada participativa de decisões políticas.
Mas o que é que, afinal, estaria por detrás desta corrida de desinformação? Simples e claro: agenda de governação deste país. Infelizmente, responde às expectativas individuais e não às do povo. Estar no poder em Moçambique significa um grande privilégio para tomar decisões que só beneficiam a minoria. Estar no poder significa perpetuar o nepotismo, arrogância, corrupção e claramente esquecer o porquê de se ser um servidor público. Se o primeiro Presidente de Moçambique independente dizia “o governante deve ser o primeiro no sacrifício e último nos benefícios”, esta visão e orientação ética, infelizmente, foi-se com o dono.
Tudo se faz para que estejamos nos lugares de privilégio e isso faça de nós gente diferente de todo um povo. Os indicados à candidatura para as presidências também assim pensam e reparam para os bens que uma Ponta Vermelha lhes pode conceder e não necessariamente são movidos pelo interesse genuíno de servir ao povo.
Vocês, membros dos partidos políticos, abram os olhos e não permitam que a presença em lugares de soberania seja apenas para chancelar o enriquecimento ilícito daqueles que a vocês, em primeiro lugar, deviam servir.
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Ps: Iniciamos o ano com notícias menos animadoras. A morte do conceituado músico Chico António foi um mau começo do ano, pelo que, e através deste espaço, juntamo-nos à família para apresentar as nossas sentidas condolências.
Chico vive e viverá para sempre. Bom ano para todos!